Você sabe quem são os youtubers ídolos de seus filhos ou alunos?
A internet vem democratizando a comunicação. Essa nova geografia midiática possibilita que pessoas fora da grande máquina ganhem os seus muitos “minutos de fama”, como acontece com vários influenciadores digitais. Estes são, sem dúvida nenhuma, os grandes astros de hoje. Porém, alguns efeitos colaterais começam a surgir. A grande questão é: será que alguns deles possuem maturidade suficiente para lidar com o peso da fama? E têm noção do impacto de seus atos e exemplos entre seus seguidores?
Inspirados em “La Casa de Papel”, série do Netflix, invadem presídio
O holofote da vez está virado para o Brasil: por pouco não acabou em tragédia quando 4 “influencers” mascarados e com armas de brinquedo tentaram invadir um presídio na região metropolitana do Recife. Esse ato ainda ajudou a turbinar ainda mais seus canais com Likes e Compartilhamentos.
Recentemente uma youtuber franco-atiradora invadiu a sede dessa mídia social, nos Estados Unidos, inconformada com a perda da instantânea popularidade. Sim… a frustração dos influenciadores e dos candidatos a esse status pode trazer consequências imensuráveis.
Já um famoso “mídia star” norte-americano, com quase 15 milhões de seguidores, postou um vídeo de acompanhamento de um suicídio por enforcamento. Tem ainda o caso de uma brasileira que, sem ajuda de especialistas, criou sua dieta e exercícios personalizados como forma milagrosa de emagrecimento. Depois descobriu-se que o resultado era fruto de uma lipoaspiração.
Youtubers reclamam: “Fomos tratados como bandidos”
Destrinchando um pouco mais a tentativa de invasão dos 4 brasileiros, sendo um menor: liberados após pagarem fiança ainda denunciaram em seus canais que foram tratados como marginais, algemados nas pernas e mãos, ou seja, passando a seus seguidores a ideia de que seu ato fosse algo correto e que a reação policial é que estivesse errada. O líder possui mais de 2 milhões de assinantes em sua conta no Youtube e, segundo as autoridades, não é a primeira vez que ele extrapola na busca por notoriedade.
Anteriormente avisou a seus seguidores de que faria uma “pegadinha” em uma agência da Caixa Econômica Federal mobilizando 6 viaturas da polícia estadual, desperdiçando os parcos recursos públicos com essas ações e desviando os agentes que poderiam estar efetivamente em outras ocorrências para coibir a violência, que não é escassa nessa região.
Ruído de Comunicação
Por pouco os agentes não reagiram. Isso porque sequer passou pela cabeça deles que pudesse ser uma “brincadeira” inconsequente. Eles usavam macacões vermelhos, do mesmo tipo do guarda-roupa da série “La casa de papel”, maior sucesso latino do Netflix. Ou seja, havia um código nessa mensagem facilmente identificado como pegadinha por seus pares, mas desconhecido por outra parte da sociedade, inclusive dos agentes públicos. Como diz a regra dos estudiosos da área: se uma das partes não entende o código transmitido pela mensagem pode resultar em um ruído de comunicação, que neste caso poderia ser materializado em uma tragédia.
O que é Generation gap?
Aí entra em cena uma nova expressão que os especialistas começam a cunhar. Ocorreu a “generation gap”, ou seja, quando o código não faz sentido para outra geração. E podemos estender também esse conceito para outra classe social. Aí deixo um questionamento no ar… Como nós professores, pais e gestores podemos monitorar um comportamento ou as navegações dos mais jovens por um código que não entendemos?
Youtubers são os ídolos atuais
Não resta a menor dúvida de que os Youtubers são as grandes estrelas entre os adolescentes. Nada mais lógico que os ídolos atuais estejam abrigados nas mídias sociais ocupando um espaço que por décadas esteve nas mãos do cinema e, depois, da televisão. Os atuais Kéfera, Whindersson, Felipe Netto são a Xuxa, Sérgio Mallandro, Jovem Guarda, James Jean do passado.
Não quer dizer que os ídolos de outras eras fossem preparados. Até porque sabemos que é através da experiência que conquistamos a maturidade. Só para não parecer revanchismo etário, existem cenas que fazem parte do nosso passado recente e que seriam inadmissíveis na atualidade, como: uma apresentadora infantojunenil que tivesse posado nua, guarda-roupa de cena com roupas sensuais, que o protagonista do filme ícone “Juventude Transviada” (anos 50) aparecesse fumando em quase todas as cenas. Ou as roupas curtas da Jovem Guarda e seus calhambeques em alta velocidade. Que o Bozo apresentasse números musicais totalmente incorretos como reproduzidos recentemente no filme “Bingo”, que chegou a ser indicado como representante brasileiro para o Oscar.
Não faltam exemplos do passado que hoje consideramos inoportunos. Porém mal ou bem existia um controle e regras da sociedade, governo, emissora, anunciantes sobre essa produção que não estava totalmente nas mãos dos ídolos iniciantes. Para aqueles ídolos do passado havia uma “liberdade vigiada” ou “orientada” pelos diretores, empresários e pelo sistema, já que as emissoras são concessões públicas com regras severas em alguns quesitos. Ou seja, havia “responsáveis” para dar um norte e controlar, aparando as arestas dos “rebeldes”.
Não entendam isso como um mote à censura. Muito pelo contrário! Mas sim um alerta para a necessidade de uma responsabilização por parte das mídias sociais. Ou seja, até que ponto Youtube, Netflix, Facebook não devem orientar seus alimentadores de conteúdo, acompanhar seus materiais ou responsabilizá-los pelo que exibem, assim como fazem as emissoras de televisão?
Por Luiz André Ferreira | Jornalista, professor, apresentador da Rádio Appai e Mestre em Projetos Socioambientais e Bens Culturais.
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