Quais as diferenças entre acalculia, discalculia e ansiedade matemática?
Ana Maria Antunes de Campos
O Dia da Matemática, também conhecido como Dia do Matemático ou Dia Nacional da Matemática, é celebrado anualmente em 6 de maio. A data é destinada a homenagear os profissionais dedicados a essa área do conhecimento e tem o objetivo de incentivar o interesse dos alunos pela matemática. Boa ocasião para falarmos sobre o tema!
A aprendizagem da matemática ainda é uma incógnita, visto que muitos estudantes apresentam dificuldades, medo e aversão a essa disciplina escolar. Saber identificar se esses sentimentos são relativos ao processo de aprendizagem ou se extrapolam, alcançando um nível muito elevado de repulsa à matemática, é um dos caminhos para amparar esse estudante. Alguns alunos apresentam baixa autoestima em relação à sua capacidade de compreender a matemática e muitos acreditam que sua dificuldade está relacionada a suas características pessoais, como desatenção, preguiça e outros rótulos que não são dignos nem de ser redigidos aqui. Muitos estudantes e familiares desconhecem alguns transtornos de aprendizagem que são fatores que implicam a aprendizagem da matemática, dentre eles a acalculia, a discalculia e a ansiedade matemática.
Discalculia
A discalculia é um distúrbio neurológico que afeta a parte do raciocínio matemático da criança. A palavra foi apresentada pela primeira vez em 1920, entretanto só ganhou força e destaque a partir de 1974, por meio das pesquisas de Ladislav Kosc, que observou que a discalculia estava embasada em possíveis sistemas anatômicos e fisiológicos envolvidos na maturação das habilidades matemáticas. Algumas pesquisas apontam que pode ser genético.
Os primeiros sinais já podem ser identificados desde a tenra idade, mas é necessário que a criança tenha vivenciado os anos iniciais da educação básica. Em se tratando dos sintomas da discalculia, os mais característicos são: dificuldade no desenvolvimento de cálculos matemáticos, podendo apresentar alteração nas habilidades viso-motoras, dificuldade de associar números com quantidade e operações de conservação, espaço temporal prejudicado e dificuldades de distinguir formas, tamanhos, quantidades e espessuras.
Acalculia
A acalculia é ocasionada por um dano cerebral, como o acidente vascular cerebral, traumatismo craniano ou alguma outra lesão no cérebro. Consiste na ausência das habilidades matemáticas como decorrência desses episódios e refere-se à perda ou alteração na capacidade de realizar tarefas matemáticas, sendo resultado de algum tipo de dano cerebral. Acalculia é a perda das habilidades matemáticas já adquiridas, como contar, somar e subtrair. Pode surgir em qualquer idade, uma vez que sua causa está relacionada com dano cerebral. Para auxiliar o estudante com acalculia é fundamental considerar suas peculiaridades com vistas a alcançar o desenvolvimento de novas formas de ensino e aprendizagem da matemática, elaborando atividades que sejam individualizadas para poder atingir os objetivos educacionais com uma maior concentração, interesse e motivação.
Ansiedade matemática
Alguns estudantes apresentam aversão, repulsa e medo à matemática. Essa situação é chamada de ansiedade matemática e pode possibilitar uma resposta negativa aos estímulos numéricos que modificam os estados cognitivo, fisiológico e comportamental do estudante. Essas reações são descritas como preocupação, desamparo e medo frente à matemática, ocasionando muitas vezes desmotivação, desinteresse, abandono escolar e fuga de atividades que envolvam a disciplina. A influência dos pais e as atitudes dos professores podem interferir no modo como os estudantes aprendem a matemática.
É possível conjecturar que as relações que permeiam os pares, ou seja, a relação pais/filhos(as), professor/estudante, estudante/estudante, implicam os processos afetivos, podendo influenciar no interesse e desejo dos estudantes para realizar atividades que envolvam a matemática. Em contrapartida esses sentimentos, quando negativos, podem distanciar ou tornar o estudante desinteressado em tarefas cotidianas e escolares que envolvam a disciplina.
Para ajudar os estudantes com discalculia, acalculia ou ansiedade matemática é fundamental um diagnóstico correto e precoce e intervenções individualizadas e estruturadas considerando os seus aspectos emocionais e metacognitivos. Por meio de estratégias de ensino personalizadas, monitorias e assistência, consegue-se desenvolver as habilidades matemáticas. A percepções dos estudantes sobre seus pais, colegas e de si próprios predizem suas percepções de conquista da matemática podendo advir nos padrões de riscos à ansiedade. Os estudantes podem considerá-la a disciplina mais importante e alcançar melhores resultados se tiverem pais e colegas com atitudes favoráveis em relação à matemática
A ansiedade matemática vai além de questões relacionadas com a disciplina, desencadeando problemas de ordem psicossocial, pois sua vida cotidiana fica desestruturada, com prejuízos sociais, emocionais e psicológicos. Isso algumas vezes desencadeia reações fisiológicas, ou seja, diante de atividades que envolvam a matemática, o estudante pode sentir dor estomacal, mãos frias e trêmulas, dores de cabeça e outros sintomas.
Estudantes com discalculia e ansiedade matemática requerem diferentes tipos de intervenção, de acordo com suas especificidades. Observamos que a sociedade está repleta de atitudes que estigmatizam a matemática e consequentemente os estudantes, com frases do tipo: matemática é chata; sem significado; não serve para nada; é difícil; é dom, quem sabe matemática é mais inteligente; precisa de aptidão. Ou expressões estereotipadas com base em preconceitos, como matemática é para homens ou a conquista da matemática está relacionada à etnia. A escola e a família podem ajudar deixando de reforçar esses pensamentos, incentivando a leitura de livros paradidáticos acerca da matemática, organizando o material, local para estudo e horário.
As atividades lúdicas são importantes para o desenvolvimento do estudante. Jogos de tabuleiros, jogos digitais, on-line e aplicativos de celulares são recursos que ajudam na elaboração de estratégias, raciocínio, cálculo e contemplam outros conteúdos do currículo matemático. Mostrar que a matemática faz parte das atividades diárias é um dos caminhos a serem trilhados para amparar esses estudantes.
Conhecer esses fatores que implicam o aprendizado do estudante nos orienta a entender que nem sempre as dificuldades são oriundas de fatores intrínsecos a ele, possibilitando excluir os rótulos e predicativos negativos que são atribuídos à criança e ao adolescente. Ao retirarmos esse fardo dos estudantes, estamos ajudando em sua autoestima, na aprendizagem da matemática e no seu processo de desenvolvimento biopsicossocial, livrando-o de estigmas e possibilitando uma nova relação com o aprender.
* Ana Maria Antunes de Campos é doutora em Educação Matemática, mestre em Educação, neuropsicopedagoga, pedagoga, psicopedagoga, graduada em Licenciatura em Matemática. Autora dos livros “Discalculia: superando as dificuldades de aprender matemática”; “Raciocínio lógico: atividades para auxiliar crianças e adolescentes” e “Jogos matemáticos: uma nova perspectiva para discalculia”.
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