A importância da alfabetização
Pensar e fazer para além da decodificação…
14 de novembro foi a data escolhida pelo Ministério da Educação e Cultura (MEC), com o objetivo de lembrar da importância e da relevância da alfabetização para o povo brasileiro e ressaltar a necessidade de melhoria contínua para os processos de ensino-aprendizagem.
COMO TUDO COMEÇOU…
Pensando na relevância dessa data, eu me lembrei de duas experiências profissionais no início da carreira como professora de alfabetização. A primeira delas com crianças em idade regular (6 e 7 anos) e a segunda dentro do canteiro de obras da construção civil, alfabetizando adultos com idade entre 35 e 75 anos.
A primeira experiência transcorreu muito bem. Acompanhei boa parte dos alunos que continuaram e concluíram a escolarização com sucesso. Mas as minhas recordações mais intensas vêm da segunda experiência. Na construção civil, após um dia de trabalho intenso, eu me reunia com aqueles senhores de mãos calejadas, alunos dedicados, para a descoberta de um mundo que lhes abriria um novo horizonte na vida.
Ciente de que NÃO HÁ LEITURA DA PALAVRA SEM QUE ANTES HAJA LEITURA DO MUNDO, como apontava Paulo Freire, eu iniciava o ato educativo conversando com os adultos alfabetizandos sobre as condições reais da vida de cada um deles. Durante esses momentos, eles abriam o coração e a mente e retratavam que a condição de analfabeto lhes dava um sentimento de impotência, de humilhação e de exclusão. Muitos deles relataram sentir-se verdadeiros cegos por não conseguir ler, por exemplo, o nome do ônibus que deveriam tomar para chegar aos destinos pretendidos. Mencionavam também a expectativa de poder assinar o nome sem precisar recorrer à impressão digital. Sentiam-se excluídos ao não terem como ajudar os próprios filhos no processo de escolarização.
CENAS DOS PRÓXIMOS CAPÍTULOS…
25 anos se passaram e a turma de adultos não apenas aprendeu a decodificar, mas a interpretar e iniciar bem a sua leitura de mundo. Um desses alunos, o seu Pedro, deu continuidade aos estudos, e recentemente eu soube que ele estava prestes a ingressar na universidade e que sua vida havia mudado muito, para melhor, em todos os sentidos.
Esse e outros tantos são casos exitosos que nos enchem de satisfação, porém os desafios ainda são grandes, conforme aponta a última Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), realizada pelo IBGE, em 2015. 12,9 MILHÕES DE BRASILEIROS COM MAIS DE 15 ANOS AINDA NÃO SABEM LER OU ESCREVER. Quer dizer, num universo de aproximadamente 208 milhões de habitantes, temos ainda mais de 12 milhões de analfabetos absolutos. E infelizmente esses índices triplicariam se destacássemos aqui os ANALFABETOS FUNCIONAIS, aqueles que decodificam, porém não compreendem textos simples, não conseguem interpretar e muito menos relacionar os textos lidos às situações da vida.
Portanto, para além do alfabetizar (decodificação), é preciso pensar em LETRAMENTO, que envolve leitura, compreensão e escrita numa situação concreta de aplicação no contexto social. E pensar ainda em LETRAMENTO DIGITAL, que é a capacidade de usar as ferramentas digitais e os recursos tecnológicos e interagir num mundo conectado. Nesse caso, não se trata apenas do uso das ferramentas pelas ferramentas, mas de abarcar o sentido de conquista da cidadania para a era digital.
CONCLUSÃO
Nesse Dia Nacional da Alfabetização, eu os convido a compartilhar este texto com aqueles que podem ajudar no processo de conscientização sobre o tema, e a estimular algum conhecido que, por algum motivo, não é alfabetizado ou não tenha dado sequência ao processo de escolarização a buscar o letramento. O combate ao analfabetismo e a melhora da qualidade da educação são caminhos para a busca de autonomia pessoal e para a redução das diferenças sociais, tão presentes ainda no nosso país. Por isso, adote essa causa… Juntos podemos mais!
Por Andréa Schoch | Mestre em educação, especializada em formação de professores e consultora Appai por meio da EAD.
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