O que há ainda para além das linhas em 2017? Uma reflexão sobre raça e racismo
Esse case verídico serve para ilustrar que o preconceito e a discriminação, presentes no nosso dia a dia, por vezes nos passam despercebidos, mas a questão é séria e precisa de um olhar mais profundo.
Inspirada e fundamentada nas ideias do consagrado professor doutor Kabengele Munanga, especialista em racismo, identidade, identidade negra, África e Brasil, a quem tive o prazer de escutar, foi possível compreender que a discriminação nasce da PERCEPÇÃO DAS DIFERENÇAS entre si mesmo e os outros, entre os membros do próprio grupo e aqueles dos outros grupos. É a partir dessas diferenças que se formam os preconceitos e as discriminações, e as ideologias delas decorrentes.
A sociedade é organizada em classes sociais, formada por burgueses, a classe média e os pobres. Essas classes são cercadas por preconceitos, a ideia de superioridade ou de inferioridade, que torna vítimas os considerados inferiores. Não apenas as classes, mas as diferentes formas de preconceito levam a vários modos de discriminação, desde religião, gênero, profissão, idade, etnia, cultura, nacionalidade e tantas outras formas.
RAÇA E RACISMO: como nasce a ideia de raça?
Há pessoas que concentram maior número de melanina, por isso têm pele, olhos e cabelos mais escuros, enquanto aquelas com menos quantidade dessa substância apresentam cabelos, pele e olhos mais claros. A melanina, que serve para manter a sobrevivência do corpo humano, apresenta uma coloração marrom, e sua principal função é proteger o DNA contra a ação nociva da radiação emitida pelo sol.A raça nasceu dessa relação com a cor da pele.
Analisamos, por meio da história da humanidade, que, com as descobertas a partir do século XV, os navegadores europeus, espanhóis, portugueses e outros entraram em contato com os povos ameríndios, africanos, aborígenes da Oceania e constataram diferenças físicas e culturais que os fizeram até mesmo duvidar se esses nativos eram pessoas ou “feras”, animais irracionais. Os colonizadores não só escravizaram os negros e índios como achavam que apenas os humanizariam se os convertessem ao Cristianismo. Essa situação perdurou até o século XVII. No século XVIII, os Iluministas colocam em discussão, agora não mais à luz da religião, mas sim da razão, o conceito de RAÇA. E os estudos da raça se ampliam até o século XX, quando foram definidas não só as características genéticas e a morfologia das raças como também os marcadores genéticos encontrados em componentes do sangue.
Porém, no fim do século XX, aconteceu um fato curioso. Estudos mostraram que um indivíduo A, da raça negra, poderia ser mais próximo geneticamente do indivíduo B, da raça branca ou amarela, do que de outro indivíduo C, da raça negra. Dessa forma, foi concluído que essa classificação da humanidade em raças não era operante, pois partia de critérios que não se diferenciavam cientificamente. Foi aí, no século XX, que abandonaram o conceito de raça, pois chegaram à conclusão de que não havia como classificar a diversidade humana em raças fixas. Até aqui, tudo estava bem, mas os cientistas anteriores ao século XX cometeram um erro grave que ainda hoje pesa nas relações humanas. Eles classificaram as raças, hierarquizando-as em raças superiores e inferiores, e dessa classificação e hierarquização nasceu o chamado Determinismo biológico.
Como exemplo da aplicação do determinismo biológico poderiam surgir as seguintes afirmações: todo americano é inteligente; todo português é burro; todo africano é negro; e todo europeu é branco. O que definitivamente não é verdade.
O mais grave é que essa corrente determinou a superioridade e inferioridade dos povos e etnias com base nas diferenças biológicas contidas no DNA.
Dessa forma, os que têm pele mais clara foram rotulados como os mais bonitos, mais inteligentes, com características morais superiores e de cultura superior comparativamente aos que não são brancos. E aí se mostra o racismo, que saiu dos livros e tomou conta do imaginário social coletivo, infelizmente.
Na próxima coluna, vamos trazer relatos sobre como o preconceito e a discriminação étnico-raciais são expressos e de que forma os pais e professores podem trabalhar em casa e na sala de aula para ajudar as crianças, os jovens e os adultos a pensar um mundo mais humanitário e solidário, em que todos convivam em harmonia e se acolham. Até lá!
“O conceito de determinismo biológico afirma que as características físicas e psicológicas do ser humano são determinadas por sua raça, nacionalidade ou por qualquer outro grupo específico ao qual ele pertença.”
Fonte: http://www.clickescolar.com.br/determinismo-biologico.htm.
Por Andréa Schoch | Mestre em educação, especializada em formação de professores e consultora Appai por meio da EAD.
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