Novas atitudes
Alunos mostram na prática a transformação ambiental da escola e do bairro em que moram
O Ciep Gustavo Capanema já vem desenvolvendo há vinte anos trabalho sobre meio ambiente com alunos de Ensino Fundamental e Peja, sendo inclusive premiado na ocasião da Eco-92. Em tempos de Rio+20, o colégio continua se envolvendo com as questões ambientais partindo da realidade local. De lá pra cá, os problemas se multiplicaram: “As casas da comunidade aumentaram verticalmente e, consequentemente, o lixo produzido também”, explica a diretora Carmen Lúcia Ferreira.
Por conta dessas e de tantas outras modificações, esse ano a comunidade escolar trabalhou o projeto Atuação Transforma, cuja temática explora a questão do acondicionamento, reutilização e reciclagem do lixo, visando a assimilação de um consumo mais consciente e maior cuidado com o bem público: “Temos um problema de lixo muito sério, falta educação. As pessoas jogam os detritos na porta e acham que o problema não é mais delas. Os dejetos aumentam e a rede de esgoto continua a mesma. A Maré é varrida diariamente, o que não justifica a quantidade de lixo no chão”, justifica a coordenadora pedagógica Gisleide Gonçalves.
Segundo as educadoras, o projeto trabalha com um conceito amplo de sustentabilidade, em que ecologia não é só meio ambiente, mas também relações interpessoais, alimentação e cuidado com o corpo. Desde que começaram a trabalhar no semestre a temática é aproveitada em sala, através da tarefa “Sala limpa”, em que alunos e professores fizeram um mutirão de limpeza utilizando um kit de detergente e escova confeccionado por eles próprios com sucata. Em outra atividade, “Do ambiente que temos ao ambiente que queremos”, os estudantes foram à rua e desativaram um “lixão” que existiu durante anos ao lado do prédio do Ciep.
Com o Peja a professora Janete Trajano desenvolveu a temática “1001 razões para viver” a partir das obras de Luiz Gonzaga e Jorge Amado, que retratam a questão da falta de direitos do povo brasileiro e da origem da população da Maré, em sua maioria nordestinos que construíram o complexo. Com o tema a professora consegue abordar as aspirações sociais e sonhos dessa clientela e quais são as possibilidades e limites que tem. O objetivo é promover as conquistas desses alunos. “Exploramos os valores da comunidade e demos ênfase à origem desses estudantes”, explica a docente.
Na culminância, uma exposição com um roteiro para os visitantes seguirem sintetizava as etapas do que estava sendo proposto. No pátio, as crianças e professores se divertiram muito com os brinquedos produzidos com sucata, como o telefone sem fio. No estande com o apelo “Separe, recicle, reutilize o lixo” a pequena Isabela, do 1º ano, mostrava orgulhosa para sua mãe, Ana Maria, seus trabalhos expostos no mural.
A professora Claudia Melo trabalhou com o 3º ano o reaproveitamento de alimentos e provou que o tema permite grande articulação entre as áreas do conhecimento. Na apresentação as turmas falaram sobre reutilização das cascas e talos, que costumam ser descartados, e fizeram um ateliê culinário com os “restos” de alimentos. Durante o semestre a docente pôde falar sobre alimentação saudável. Foram confeccionados cadernos com receitas e foi explorada a transformação dos alimentos com experiências na escola e em casa. “Quando anunciei a atividade para eles o repúdio foi geral: ‘ai, doce de casca!’. Agora se divertem e veem o quanto os pratos são gostosos e saudáveis”, diz Claudia.
Segundo a diretora do Ciep, o melhor de tudo é vê-los refletindo e repensando o conceito de lixo e o trabalho transformando atitudes. A aluna Arayana, do 1º ano, entendeu bem a lição e levou para casa o que aprendeu com o projeto: “Não podemos jogar lixo no chão, é ruim para nós, e para o planeta. Vou fotografar nossas obras para mostrar para minha mãe, que não pôde vir porque está trabalhando”.
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