Meu Brasil “Brazileiro”?
O que é ser brasileiro numa terra em que a miscigenação é propagada como produto exportação? Como esta mistura de cores, cheiros, gostos, gestuais, comportamentos, historicidades, jeitos de ser e de pensar se entrelaçam, ou não, neste país de dimensões continentais? Meu Brasil “Brazileiro”? foi o tema central da 8ª Gincana Cultural 2012 do Ciep Brizolão 175 José Lins do Rego, no município de São João de Meriti.
A tradicional atividade coordenada por Aldair Ventura, professor de História da Arte, é exclusiva para as cinco turmas do segundo ano do Ensino Médio. Não fazendo da exceção uma regra, é permitida a participação de veteranos do terceiro ano e de alguns alunos do Ensino Fundamental, que atuam ora despedindo-se do espaço fraternal, ora ensaiando os primeiros contatos com os “mais velhos”, não como competidores, mas expondo seus talentos artísticos.
O ambiente – quadra de esportes no terraço – estava totalmente decorado, de um lado, com barracas, espaços de degustação, exibição de vídeos, mesas de jogo de carteado e de música. De outro, o espaço central para as apresentações musicais e de dança. Tudo sendo atentamente observado pelos professores-jurados, que analisavam se todos os competidores conseguiram desenvolver os projetos artísticos culturais a partir do tema central, tendo que apresentar obrigatoriamente aspectos culturais que influenciaram a cultura brasileira, tais como: indígena, portuguesa, africana, norte-americana, europeia e oriental.
De acordo com a diretora adjunta, professora Tereza Cristina Franco Rodrigues, a ideia do projeto era dar liberdade aos alunos para criar sua própria metodologia, tendo como fio condutor a pesquisa orientada pelo professor Aldair e outros que a turma viesse a solicitar. Cada projeto deveria responder uma questão central: O que é, e como é ser brasileiro?, a partir de itens como Culinária (receitas e pratos, temperos e misturas), Danças (o movimento e sua origem, danças em geral), Costumes (influências de comportamentos e hábitos), Cultura Histórica (linha do tempo, do descobrimento aos dias de hoje) e aspectos sociais e filosóficos, além da sustentabilidade. A comissão julgadora, composta por professores, pontuaria as tarefas executadas pelos grupos – dança, culinária, teatro, música, vídeo ou fotografia, pintura, lembrança (para a comissão julgadora), decoração da barraca, identificação (identidade visual) e literatura.
Na dança, por exemplo, os alunos deveriam pesquisar o que eram coreografia, movimento, a origem dessa arte e seus vários estilos. No teatro, como surgiu essa atividade no Brasil, autores brasileiros, cenários, figurinos, técnicas cênicas. A decoração das barracas, a montagem, a ambientação espacial, o tema e o material também eram critérios a serem pontuados. Além, é claro, da criatividade, que foi, por sinal, um item presente em tudo, a começar pelas camisetas que identificavam as turmas, todas personalizadas com fotos, desenhos ou grafismos.
No vídeo de 16 minutos, produzido pela turma 2.002, moradores de São João de Meriti e o prefeito da cidade são entrevistados com o propósito de apresentar diferentes formas de ouvir do povo brasileiro, o amor que as pessoas têm pelo país e pelo lugar onde vivem. O aluno Iago Menezes explicou que, antes de irem a campo, fizeram várias pesquisas na única biblioteca da cidade e em vários sites na Internet. Definiram o roteiro de perguntas e foram buscar os moradores mais antigos até chegar ao prefeito, que foi bastante receptivo com a proposta de dar seu depoimento sobre a cultura da região. Registraram imagens da biblioteca, da Igreja Matriz, de Vilar dos Teles, do Jardim Íris, da Prefeitura e do Grêmio Recreativo Praça da Bandeira. Conversaram com várias pessoas, uma delas um feirante que mora no município há mais de 30 anos.
No quesito culinária, a turma 2.003 mostrou que nossa cozinha é repleta de pratos típicos de muitos lugares do mundo, mas nós empregamos nosso “jeitinho brasileiro” em quase todos. Entre eles estão o hambúrguer alemão, aperfeiçoado pelos norte-americanos; o hot dog, que parece ter vindo dos EUA; o french fries, ou melhor, a batata frita, de origem belga, francesa e espanhola; além do brigadeiro, verdadeira paixão nacional.
A turma 2.001 resolveu que deveria tratar de um tema caro à sociedade brasileira, a questão do racismo nos dias atuais, e aí o criou o texto “A escravidão continua”. “Resolvemos abordar no teatro a questão racial, pois algumas pessoas parecem querer que esse absurdo continue, tanto envolvendo negros quanto brancos, para assim continuarem a lutar para mostrar qual ‘raça’ é melhor. Mas se esquecem de que todos se tornam iguais quando são tratados como iguais”.
Com uma blusa branca chapiscada com tinta colorida, a turma 2.004 fez o retrato “de um brasileiro que marcou a história de nosso país: Santos Dumont”. E, no quesito dança, a vez foi do samba, por ser um estilo essencialmente brasileiro, marca da cultura do país. Pesquisando a MPB, a turma da barraca “Alegria do Brasil, Boteco 2.005” descobriu que esta expressão musical surgiu no período colonial brasileiro, a partir da mistura de vários estilos. Entre os séculos XVI e XVIII, entrelaçaram-se em nossa terra as cantigas populares, os sons de origem africana, as fanfarras militares, músicas religiosas e eruditas europeias, além das indígenas com seus típicos cantos e sons tribais. A música “Tempo Perdido”, de Renato Russo, foi a escolhida por mostrar que não se deve ter medo do escuro – irracional e violento –, o que contradiz o trecho anterior, que pede para que sejam deixadas as luzes – razão e inteligência – acesas, isto é, mantenha-os vivos e úteis, desde já até o advento do poder.
A cada apresentação de dança, desfile de modas (recicladas, regionais, inspiradas no carnaval), quase musicais, os “artistas” eram ovacionados pela plateia, misto de alunos e professores. A animação era contagiante, em especial as participações especiais dos estudantes veteranos – como a do bailarino em fase de profissionalização Nilton Ferreira, que apresentou um solo de dança contemporânea –, e o pessoal do Ensino Fundamental – como Júlio Juliano Martins, que arrancou aplausos com seus passos de dança Techno. Orgulhoso pelo bom desempenho de todos os alunos, independente se competindo ou mesmo expondo seus talentos, a ideia é fazer com que todos pesquisem, criem, realizem ações envolvendo a arte, pois ela representa tudo o que o homem constrói.
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