“Mestre Lula”
Manifestações folclóricas permeiam as áreas do conhecimento no centenário de Gonzagão
Autêntico representante da cultura nordestina, o pernambucano Luiz Gonzaga, que este ano completaria 100 anos, é tema de várias atividades pedagógicas em escolas de todo o país. Sua obra ultrapassou as barreiras do meio musical e deu uma grande contribuição a áreas das ciências humanas, como História e Sociologia. No Colégio Cenecista Orlando Rangel, em São Gonçalo, o “mestre Lula” foi tema de uma feira multidisciplinar. Através das canções do Rei do Baião, as turmas da Educação Infantil ao Ensino Médio exploraram a diversidade de manifestações folclóricas, os hábitos e costumes, bem como as crenças, os valores e, de forma mais ampla, o modo de viver do povo nordestino.
As atividades foram iniciadas em sala de aula com os professores conduzindo os alunos a uma discussão sobre o Nordeste da primeira metade do século XX, período vivenciado por Gonzagão, quando a região era praticamente isolada do resto do país e uma das poucas opções de transporte era o pau-de-arara. As turmas analisaram a questão da seca, a degradação do meio ambiente, a dificuldade de industrialização e de que forma Luiz Gonzaga ajudou a recolocar a região no mapa do Brasil. As discussões avançaram até os tempos atuais, com o aumento do turismo na região litorânea, o avanço no processo de industrialização em alguns polos da região, mas com o sertão semiárido ainda se mantendo praticamente o mesmo de 100 anos atrás. “Além do enriquecimento cultural presente em toda atividade pedagógica, este projeto também contribuiu no amadurecimento dos nossos alunos, que passaram a conhecer melhor uma região do nosso país que, muitas das vezes, é discriminada e envolta em preconceitos”, afirma a diretora-geral Ana Cristina da Silva.
Durante a abordagem dos aspectos climáticos, geográficos, econômicos, culturais e sociais do Nordeste, os alunos encenaram esquetes teatrais, fizeram apresentações com músicas e danças típicas, exibiram vídeos e maquetes. Em cada disciplina uma abordagem inerente ao conteúdo programático: em Química, foram estudados os nutrientes e a composição de alimentos típicos da região como a cocada e sucos de frutas; em Língua Portuguesa, a literatura de cordel e as variedades linguísticas; em Matemática foi feita uma associação entre os números e a música; em Geografia, o solo, a vegetação e o relevo; em História e Sociologia, destaque para as letras com temática que contribuíram na formação de uma identidade regional. “O projeto possibilitou que os alunos compreendessem a influência de uma das mais completas e importantes figuras da música, responsável por lapidar e difundir a cultura nordestina”, enfatiza a coordenadora pedagógica Marta Ana da Silva.
A professora Sara Oliveira, a partir da discografia de Luiz Gonzaga, estimulou as crianças do 1º ano a produzir pinturas variadas e conhecer e diferenciar o som de instrumentos como a zabumba, a sanfona e o triângulo. A professora Rosângela Rodrigues abordou, com a turma do 3º ano, a vida e a obra do cantor. “O projeto ampliou o conhecimento de mundo dos alunos dando-lhes a oportunidade de ter contato com a nordestinidade que Gonzagão trouxe para o povo brasileiro”, justifica. Já a professora Fátima Roso trabalhou com as turmas do 4º ano releituras de imagens do sertão nordestino e do cantor homenageado. A aluna do 5º ano Rhayanne Lyrio Gonçalves participou de um jogral e ajudou na confecção de uma maquete do sertão de Pernambuco: “O que achei de mais bacana foi estabelecer contato com uma região distante da nossa e com uma cultura própria. A gente nem precisa sair do Brasil para conhecer tanta coisa”, diz.
Na avaliação da orientadora pedagógica e psicopedagoga Gianni Isidoro, a questão da interdisciplinaridade é o ponto alto do projeto. “Hoje vivemos a era da tecnologia e a escola precisa ser dinâmica para atrair a atenção dos alunos. A partir de um conjunto de práticas desenvolvidas em sala de aula e fora dela, os alunos puderam exercitar sua capacidade de relacionar conteúdos provenientes de diferentes esferas de atuação, proporcionando uma expansão da visão de mundo. O trabalho foi focado no intuito de desenvolver uma perspectiva mais integrada que supere os limites comuns de um currículo compartimentado em diferentes disciplinas”, conclui.
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