Escola Inovadora na Prática – Saber com Sabor


Iniciamos o mês apresentando as 15 ideias que vão mudar a sua visão de escola, baseadas na série “Destino: Educação – Escolas Inovadoras/2016”, apresentada nesse mês de setembro pelo canal Futura. E, logo de cara, fomos questionados, de forma muito positiva e interessada: “Como colocar em prática essas ideias?”.  
Vamos saber como fazer, aprendendo com quem fez e faz… Coordenadores e tutores do Projeto Âncora, cujo grande mentor é o professor José Pacheco, coidealizador do projeto e mentor da Escola da Ponte (Portugal).

1.  Atitudes e valores
Quando o educando ingressa no Projeto Âncora, independentemente da idade, ele vai para o núcleo de aprendizagem chamado ”Iniciação”, onde já começa um trabalho pautado em atitudes e valores, que eles aprendem a conhecer e a partir dos quais interagem naquele espaço comum. Os valores destacados, tanto no âmbito coletivo como no individual, são: respeito, solidariedade, responsabilidade, afetividade e honestidade. Na fase da iniciação essas qualidades são trabalhadas em diferentes situações. Nesse processo fica claro para os estudantes o quanto o relacionamento é importante para o desenvolvimento de uma pessoa, e que saber se relacionar é tão essencial quanto produzir um texto claro, bem escrito.

“O tempo que elas permanecem na iniciação depende de cada uma delas, podendo ser uma semana, um mês, um ano… Os educadores estão preparados para recebê-las e dar a elas o atendimento necessário”.
Edilene Brito – Coordenadora Pedagógica do Projeto Âncora

Na prática, os problemas, impasses e conflitos que surgem (âmbito coletivo) são discutidos com todos os alunos, que não só expõem o problema/impasse/situação, como também sugerem soluções, dentro do que chamamos “resolução conjunta”, gerando responsabilidade coletiva e compromisso individual. E, assim, os valores vão sendo trabalhados e vivenciados. Os tutores reforçam para os educandos que escutar uma opinião diferente da sua, saber lidar com ela, agir afetivamente mesmo quando se é contrariado, são coisas tão importantes quanto aprender a fazer uma produção textual com clareza, coesão, pontuação.
A escola se organiza por núcleos de aprendizagem, que são iniciação, desenvolvimento e aprofundamento. O critério utilizado para a mudança de núcleo é o nível de autonomia conquistado no processo de aprendizagem, que naturalmente inclui os valores e atitudes.

2.  Como planejar os objetivos educativos?

“Quando a criança apresenta um desejo, uma necessidade, um sonho, que é de onde a gente (escola) parte, ali a gente começa, então, a fazer com ela uma investigação: Por que você quer acabar com o lixo do mundo? O que te incomoda? Como a gente pode acabar com o lixo? Começamos por onde? O que você já sabe sobre isso? Depois começamos a responder um questionamento que é: O que quero? Por que quero? Com quem vou fazer? De quanto tempo eu vou precisar? Quais os materiais, os recursos que eu vou ter que ter disponível pra realizar esse trabalho? E o que eu vou ter que aprender? E, a partir daí, do que eu tenho que aprender, a gente vai navegar pelas áreas do conhecimento…”
Edilene Brito – Coordenadora Pedagógica do Projeto Âncora

Com essa proposta educacional, em que o educando não é mero receptor, mas interage, é protagonista do processo, o interesse, os caminhos a trilhar para conhecer apresentam outro sabor. As áreas do conhecimento são exploradas num sentido diferente do comum, partem do interesse e necessidade do aluno. Aí sim, história, geografia, matemática e as demais áreas são exploradas com significado, não serão ilhas isoladas, desconectadas, mas acionadas para responder as demandas dos alunos, gerando um conhecimento significativo que ficará guardado para sempre na memória de longo prazo do educando.
Importante compreender que, quando os conteúdos das áreas do conhecimento são trabalhados isoladamente, sem significado aplicado à realidade do aluno, em geral são esquecidos, pois não fazem sentido. Significa que a memória de longo prazo não vai “ancorar” o que foi ensinado, isto é, logo aquele conteúdo desconectado, isolado, cai no esquecimento, se perde completamente, por falta de significado para o educando. Por isso é que é tão importante contextualizar, dar sentido, tornar significativo.
Na prática, dentro do Projeto Âncora, logo no começo do semestre os alunos elencam seus sonhos/desejos/necessidades. Um dos sonhos apresentados por um grupo foi o de aprender outra língua. E, a partir desse objetivo, as pesquisas se iniciaram, bem planejadas e com um tutor acompanhando o processo. Lembrando que quinzenalmente os alunos montam um roteiro de estudos contendo tudo que querem e precisam aprender, e com base nisso vão fazendo o planejamento diário. Dentro dessa programação são agendados os horários com os tutores por área, e esses vão assessorando, orientando o processo de aprendizagem dos educandos.

“Quinzenalmente a gente monta o roteiro com o que precisa aprender, de acordo com o nosso interesse e com o que a gente precisa também, não dá pra ficar estudando só línguas sem ter história e geografia… As pessoas perguntam: Mas como vocês aprendem outras matérias? O nosso jeito de estudar é pelo roteiro mesmo e pelo planejamento do dia.
                                                       
 Mariana Feitosa, educanda do Âncora

Edilene Brito, Coordenadora Pedagógica do Projeto Âncora, salienta que a escola realiza um trabalho pautado na lei, em que os alunos têm o registro cuidadoso dos objetivos atingidos dentro da sua escolarização, porém o que difere das escolas comuns é que, nesse projeto, são os estudantes que escolhem os objetivos a serem alcançados, levando em consideração os seus interesses/necessidade, o seu potencial e a sua história de vida, independentemente da ordem em que as metas aparecem nos PCNs.  

“Aqui, agora, a gente está tendo um momento com a especialista de português… Nesse momento, a gente está entendendo um pouco mais da nossa língua que é o português… A gente tem o nosso grupo de pesquisa… No nosso caso é o grupo de linguagem, e o nosso objetivo é falar outras línguas… Nos nossos três primeiros roteiros a gente está procurando entender um pouco mais a nossa língua…”
Mariana Feitosa, educanda do Âncora

Como colocar matemática dentro do roteiro que está pesquisando línguas estrangeiras, por exemplo? O tutor Marcel de Sena, especialista do Projeto Âncora nessa disciplina, responde:

“Estudando gramática! A gramática é a estrutura lógico-matemática que tem dentro da nossa língua e tem dentro de outras línguas também. Mas esse grupo precisava, também, trabalhar com a questão das porcentagens. Então, como estavam estudando as populações dos países, número de pessoas que falam tal língua, a gente começou a trabalhar a porcentagem usando essas informações”.

E assim o Projeto Âncora caminha, erradicando as famosas “aulas”, gerando “n” aprendizagens que fazem sentido, que são significativas para o educando.


Gostou? Quer mais? Acompanhe o texto da próxima terça, quando vamos falar de como a tecnologia está presente nesse projeto e como ocorre a avaliação da aprendizagem. Até lá, com saber e muito sabor!

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