Educadores colocam em prática a Lei nº 10.369


Projetos ressaltam e valorizam a cultura afro-brasileira

Além de estabelecer o 20 de novembro como o Dia Nacional da Consciência Negra, a Lei 10.639/03 propõe novas diretrizes curriculares para o ensino da história e da cultura afro-brasileira nas escolas. De acordo com a Lei, deve ser ressaltada em sala de aula, por exemplo, a contribuição da cultura africana para a constituição da sociedade brasileira. Dessa forma, a música, a culinária, a dança e as religiões de origem afro devem ser consideradas no processo de ensino/aprendizagem em todas as escolas localizadas em território nacional.

Desde a criação da Lei – e em algumas escolas até antes dela –, diversos educadores têm se preocupado em abordar as questões relacionadas à cultura negra não apenas nas aulas de História, mas também nos projetos didático-pedagógicos relacionados ao Tema Transversal Pluralidade Cultural. Trabalhos desenvolvidos nos moldes da lei em questão procuram retratar o negro para além da escravidão e das situações de subalternidade.

Como forma de comemorar o Dia Nacional da Consciência Negra e propor uma reflexão sobre a importância da data, o Colégio Aiacom, localizado na Zona Norte do Rio de Janeiro, e o Colégio Estadual Frederico Azevedo, de São Gonçalo, desenvolveram atividades que ressaltam o valor do negro na sociedade.

No Aiacom, os educadores aproveitaram o dia 20 de novembro para uma dupla celebração: além do aniversário de Zumbi dos Palmares, líder do maior quilombo que se tem registro no Brasil, comemorou-se os 20 anos da Instituição. Para a festa, foram organizadas 30 oficinas temáticas e diversas apresentações culturais. Em todas elas o negro foi colocado como protagonista, evidenciando o artesanato, as brincadeiras, as roupas, a culinária, a música, os ornamentos, a literatura, a dança e diversas outras características da cultura afro-brasileira.

Durante quase dois meses, a comunidade escolar se mobilizou em torno do tema e buscou resgatar nomes de personalidades e todas as outras riquezas da cultura africana. Para o dia da culminância, foi solicitado que as pessoas se cadastrassem para as atividades. Mais de 800 inscrições foram feitas para as oficinas, que variaram desde a confecção de acessórios artesanais, capoeira e mascaras, até dança, música, culinária, penteados, mitologia e panôs africanos. “Nossa ideia era trazer a família para participar do contexto escolar e ao mesmo tempo valorizar e resgatar a estética afro”, esclarece Cleidy Nicodemos, diretora da escola. “A promoção da igualdade racial é responsabilidade de todo cidadão, mas principalmente de quem atua na educação. Nós queremos fazer valer a Lei nº 10.369, por isso é importante trazer os familiares para participar das atividades”, completa a diretora.

Estudantes de todos os segmentos e faixas etárias colaboraram com o projeto no Colégio Aiacom. Os pequeninos da Educação Infantil, por exemplo, participaram de um desfile em que o objetivo foi mostrar as estampas, as cores, os tecidos e os penteados característicos dos negros africanos. Momentos antes, os alunos da Educação de Jovens e Adultos brincavam em um jogo educativo que revelava as verdades e os mitos relacionados ao continente africano. “Com a atividade, procurei fazer com que todos percebessem as diferenças existentes no país. As pessoas costumam pensar que na África só tem negro e que é tudo igual. O objetivo foi utilizar o lúdico para desmistificar algumas ideias”, revela Geisa Carvalho, professora de Geografia.

Consciência e autogestão

O Colégio Estadual Frederico Azevedo reservou três dias do mês de novembro para promover ações em que o negro é colocado em evidência. A I Semana da Consciência Negra do Cefa teve como objetivo atender as demandas da Lei nº 10.639/2003, inserida na Lei de Diretrizes e Bases da Educação, e ainda sensibilizar a comunidade escolar para a situação de exclusão social e étnica vivida pelos negros no Brasil.

Para o desenvolvimento do projeto, os educadores optaram por adotar o conceito de autogestão, e os próprios alunos ficaram responsáveis pelo funcionamento das atividades que envolveram os educandos dos ensinos Fundamental e Médio. “Nós dividimos os alunos em quatro equipes que seriam as responsáveis pelo sucesso ou pelo fracasso do evento. Dessa forma, nós conseguimos fazer com que os estudantes também se sentissem responsáveis pelo projeto”, conta Bruno Guimarães, um dos idealizadores da I Semana da Consciência Negra do Cefa.

Dezenas de oficinas foram realizadas e em todas elas a influência da cultura africana na sociedade brasileira foi colocada em evidência, como no “Chá Literário com Poetas Negros” e na esquete de “Navio Negreiro”, inspirada no poema de Castro Alves. Ao final de cada dia aconteceram apresentações de culminância com samba de roda, baile charme, street dance e capoeira.

“Trabalhar com o conceito de autogestão em um projeto que busca colocar em evidência as características da cultura do povo negro foi o mesmo que vivenciar tudo que eu havia lido nos textos. Eu dou aulas para negros e sofro as questões raciais todos os dias. Proporcionar aos alunos uma experiência como essa foi quase que resgatar uma história nossa, mas que nós não conhecemos e por isso não valorizamos”, relata Bruno Guimarães.


Por: Marcela Figueiredo
Armazém de Ideias de Ações Comunitárias – Aiacom
Rua Barão do Bom Retiro, 941 – Engenho Novo – Rio de Janeiro/RJ
CEP: 20715-002
Tel.: (21) 3591-9918
E-mail: aiacom.org.br
Direção: Cleidy Nicodemos

Colégio Estadual Frederico Azevedo
Rua Raul Mesquita, s/nº – Itaúna – São Gonçalo/RJ
CEP: 24474-120
Tel.: (21) 3119-5785
Direção: Luiz Carlos Caldeira Delgado

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