Educação e saúde mental: práticas integrativas em ação
Bianca Isabela Acampora e Silva Ferreira*
De acordo com estudos da Organização Mundial da Saúde (OMS) e da Organização Pan-americana da Saúde (Opas), o Brasil é o país mais ansioso do mundo (9,3%) e o segundo maior das Américas em depressão (5,8%). A saúde mental representa mais de 1/3 da incapacidade total no mundo, com transtornos depressivos e ansiosos como maiores causas – os quais respondem, respectivamente, pela 5ª e 6ª causas de anos de vida vividos com incapacidade no Brasil. Ainda segundo a Opas, entre 35% e 50% das pessoas com transtornos mentais em países de alta renda não recebem tratamento adequado e, nos países de baixa e média renda, o percentual é ainda maior, ficando entre 76% e 85%.
O Janeiro Branco é uma campanha de conscientização do cuidado com a saúde mental, marcando o primeiro mês do ano. A iniciativa foi criada em 2014, por um grupo de psicólogos de Uberlândia, Minas Gerais. Boa ocasião para falarmos sobre o tema!
A relação entre saúde mental e aprendizagem é profunda e interconectada. São interdependentes e complementares, visando a autonomia, o autoconceito positivo, o desenvolvimento da autoestima, da inteligência ampla, nas dimensões psicomotora, afetiva, social e cognitiva. Diante disso as escolas e instituições de ensino estão cada vez mais conscientes da importância de oferecer suporte à saúde mental dos alunos, criando ambientes de aprendizagem que promovam o bem-estar emocional e o sucesso acadêmico. A promoção da saúde mental é essencial para o desenvolvimento humano integral e para ampliar o potencial de aprendizado dos alunos.
A promoção da Saúde Mental tem sido fortalecida pela implementação das Pics – Práticas Integrativas e Complementares em Saúde. São consideradas pela OMS (2006) como práticas voltadas à saúde e ao equilíbrio vital do homem e como recursos terapêuticos que fortalecem o cuidado ofertado no SUS e ampliam a percepção da população para o sentido da autonomia e do autocuidado.
As Práticas Integrativas e Complementares em Saúde (Pics) dialogam com a base teórico-prática pautada na medicina oriental, que objetiva o olhar “holístico”, “integral” do ser humano, estando em consonância com os pressupostos teórico-práticos da psicopedagogia em prol da promoção da saúde mental.
As Pics, em 2018, incorporaram em seu escopo novas práticas integrativas e complementares: arteterapia, biodança, meditação, musicoterapia, cromoterapia, bioenergética, entre outras. As atividades relacionadas a estas práticas integrativas desempenham um papel significativo na promoção do bem-estar emocional e cognitivo, contribuem para o desenvolvimento de habilidades interpessoais, autoconhecimento, resiliência, auxiliando no processo de educativo.
As Pics – Práticas Integrativas e Complementares em Saúde e as atividades lúdicas – formas de auxílio na saúde mental e no processo educativo. |
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Potencial/habilidade estimulada | Jogos/atividades lúdicas e sua influência |
Alívio do Estresse | Jogar jogos e participar de atividades lúdicas proporciona uma pausa necessária das pressões diárias, permitindo a redução do estresse e da ansiedade. O relaxamento promovido por essas atividades pode melhorar o estado emocional. |
Estímulo Cognitivo | Muitos jogos desafiam o cérebro, melhorando a concentração, a memória, a resolução de problemas e outras funções cognitivas. O estímulo mental promovido por jogos ajuda no desenvolvimento de habilidades cognitivas. |
Expressão Emocional | Atividades lúdicas, como jogos de interpretação, jogos de tabuleiro terapêuticos ou atividades criativas, oferecem uma maneira segura e divertida de expressar emoções e explorar questões emocionais. |
Desenvolvimento de Habilidades Sociais | Muitos jogos envolvem interação com outras pessoas, promovendo o desenvolvimento de habilidades sociais, como comunicação, empatia, cooperação e resolução de conflitos. |
Fomento da Resiliência | O jogo envolve a definição de metas, enfrentamento de desafios e superação de obstáculos. Essa experiência ajuda a desenvolver resiliência, que é essencial para a saúde mental. |
Autoconhecimento | Atividades lúdicas podem ajudar os participantes a entender melhor suas preferências, paixões e habilidades, contribuindo para o desenvolvimento de uma identidade mais sólida e autoconhecimento. |
Aprendizado de Valores e Ética | Jogos e atividades podem incluir dilemas morais e questões éticas, incentivando a reflexão sobre valores e comportamento ético. |
Promoção de Criatividade | Atividades criativas, como pintura, escultura ou jogos de improvisação, estimulam a criatividade, o que pode melhorar a capacidade de resolução de problemas em situações da vida real. |
Aumento da Autoestima | Conquistar desafios em jogos e atividades lúdicas pode aumentar a autoestima e a autoconfiança, especialmente quando os participantes experimentam o sucesso e a superação. |
Senso de Comunidade | Participar de atividades lúdicas em grupo pode fortalecer o senso de comunidade e pertencimento, aspectos importantes para o bem-estar emocional. |
Fonte: Elaborado pela autora com base na OMS (2015); DSM-V (2014).
Os jogos e atividades psicopedagógicos pautados nas Pics – Práticas Integrativas e Complementares em Saúde (Arteterapia, Ludoterapia, Biodança, Meditação, Bioenergética, entre outras) desempenham um papel valioso no estímulo ao desenvolvimento humano integral e na promoção da saúde mental. Eles podem ajudar a melhorar a cognição, a criatividade, as habilidades emocionais e o bem-estar.
A eficácia da interface entre educação e saúde mental através das práticas integrativas em ação está na adaptação das atividades de acordo com as demandas individuais, bem como na mediação construtiva que vise promover a conscientização e o crescimento pessoal, orientado para uma saúde mental de qualidade, um processo de ensino-aprendizagem em evolução contínua e o pleno desenvolvimento humano integral.
*Doutora em Ciências da Educação. Especialista em Arteterapia em Educação e Saúde, Psicopedagogia, Neurociências Cognitivas e Educação Inclusiva. Entre os livros lançados estão “Fundamentos da Psicopedagogia” e, com Beatriz Acampora, o livro “170 Técnicas Arteterapêuticas”
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