Dia Nacional da Saúde

Alerta para aumento da produção de lixo por conta do Covid-19 e o desenfreado descarte irregular de máscaras no ambiente


Imagens: ONG francesa Opération Mer Propre

No Dia Nacional da Saúde, 5 de agosto, uma constatação para a qual poucos se alertaram.  O coronavírus desencadeia mais efeitos colaterais do que se fala. Ao mesmo tempo em que a ciência está procurando uma vacina contra o Covid-19, enganam-se os que pensam que esse vírus afeta somente os seres humanos. Quem também está adoecendo por esse mal é o Planeta Terra.

A diminuição das atividades proporcionou surpresas, como aparecimentos de animais silvestres em centros urbanos e águas mais claras em praias, rios e lagos. Entretanto, passaram a contaminar esses ambientes as máscaras descartadas pela população. Registros desses flagrantes têm inundado os feeds das mídias sociais em várias partes do mundo. A ONG francesa Opération Mer Propre foi uma das primeiras a detectar esse efeito colateral nos oceanos.

Para se ter uma ideia do prejuízo ambiental, uma máscara pode levar até quatro séculos para se desfazer na natureza. Ouvimos o especialista em materiais têxteis e professor da Universidade Estácio de Sá, Silvio Duarte, que nos alertou para o prazo prolongado em que permanecem ativas no ambiente: “Aquelas que são confeccionadas em poliéster e outras fibras sintéticas podem levar até 400 anos para se decompor”. Segundo o estudioso, “devido ao baixo custo de produção do poliéster, ele é um dos materiais mais utilizados na produção de itens de baixo valor agregado, como as máscaras”. Explica ainda que “as máscaras produzidas em TNT tendem a ser menos prejudiciais ao meio ambiente, por serem fabricadas de modo parecido com o papel, ao invés de confeccionadas por entrelaçamento de fios, como os tecidos convencionais”.

 

Descartes de Máscaras

Imagens: ONG francesa Opération Mer Propre

Quando o uso de máscaras foi estendido dos profissionais da área da saúde para toda a população, o seu consumo sofreu um grande salto, e o descarte deixou de ser controlado com maior rigor, passando a fazer parte do lixo doméstico. Além do alto risco à saúde pública, por poder conter o vírus ainda ativo, a máscara é mais um elemento descartado em larga escala na natureza.

Procurada por nós a Comlurb – Companhia Municipal de Limpeza do Rio – explicou que não pode mensurar a quantidade de máscaras e luvas nos sacos de lixo, uma vez que eles não são abertos pelos garis.

 

Risco a catadores e profissionais de limpeza

Imagens: ONG francesa Opération Mer Propre

É fundamental que a população não jogue máscaras e luvas em recipientes destinados a reciclagem. Isso porque, embora tenham se reduzido as atividades nas cooperativas de catadores, elas estão gradativamente retornando, pois representam a fonte de renda de milhares de pessoas no país.

O presidente da estatal carioca, Paulo Mangueira, ressalta a responsabilidade da população: “A orientação da Companhia para o descarte de máscaras e luvas é que sejam colocadas em sacos plásticos bem fechados e descartadas no lixo comum para a coleta, já que esses materiais, por serem infectantes, não são potencialmente recicláveis”.

Porém, a Organização Mundial de Saúde (OMS) complementa que esses cuidados precisam ser ainda maiores em residências em que haja casos confirmados ou sob suspeita da doença. Devem ser utilizadas duas embalagens: um primeiro saco colocado dentro de um segundo.

Para orientar esses profissionais e ajudar na divulgação de ações preventivas, o Sindicato dos Empregados em Empresas de Asseio e Conservação de Guarulhos – SP (Siemaco) produziu, junto a outras entidades, um guia contendo cuidados e orientações sobre o coronavírus.

A carioca Comlurb garante que segue todos os padrões sanitários e que uma das primeiras providências tomadas foi afastar, entre seus 20 mil colaboradores, aqueles com idade acima dos 60 anos e os enquadrados em outros grupos de risco.

Paulo Mangueira explica que conseguiu conciliar a segurança de seus funcionários sem alterar a rotina na prestação do serviço, fundamental para a saúde pública: “A Comlurb vem fazendo regularmente a coleta de lixo em toda a cidade desde o início da pandemia, respeitando as regras de ouro da Prefeitura e garantindo total segurança aos garis e demais funcionários, como o uso contínuo de álcool em gel e máscaras”.

 

Aumento de embalagens no lixo

O isolamento social provocou uma mudança no comportamento de consumo, contribuindo para o crescimento do uso do sistema de delivery. Com eles, veio o aumento do descarte de embalagens.

Se por um lado essa mudança foi um antídoto para não morrerem restaurantes e lojas de venda de alimentos, por outro, está sendo um veneno para o meio ambiente. Estimativas da Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (Abrelpe) apontam que esse período de quarentena provocou um crescimento de 15 a 25% na geração de lixo residencial.

 

Lixo hospitalar

Apesar dos riscos, o descarte hospitalar apresenta também várias falhas. Não são raras as denúncias de procedimentos irregulares. Ao contrário da progressão histórica que vinha apresentando diminuição, a geração desses resíduos voltou a crescer em junho. A taxa foi de 20% em relação ao mesmo período do ano passado. Segundo a Abrelpe, mesmo já na fase da pandemia, essa curva continuava regredindo: abril (17%) e maio (4,6%).

No entanto, o retorno gradativo das atividades ambulatoriais e das cirurgias não emergenciais, somado ao pico da pandemia, resultou nesse crescimento. Ainda segundo a entidade, a média de geração de detritos hospitalares por conta da Covid é de 7 quilos e meio por paciente ao dia.

Esse tipo de despojo deve ser cercado de cuidados especiais, como: acondicionamento em sacos plásticos na cor vermelha, identificação com o símbolo de substância infectante e ser transportado de forma segura até os pontos de descarte licenciados para essa atividade.


Por Luiz André Ferreira | Jornalista, professor, Mestre em Responsabilidade Socioambiental


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