Das adversidades ambientais ao debate qualificado
“Nova Aurora: do problema à solução”. Este é o título de um audiovisual que mostra a crua realidade de uma região repleta de adversidades onde está situado o Colégio Estadual Brandão Monteiro, terceiro bairro mais populoso do município de Belford Roxo. Em cinco minutos, alunos do 7º ano do Ensino Fundamental retratam os problemas cotidianos relacionados à falta de saneamento básico, lixo, reciclagem, poluição, que incidem pesadamente sobre a qualidade e expectativas de vida da população.
O vídeo integrou o rol de ações desenvolvidas no projeto Educação Ambiental e Saúde, que culminou com a apresentação, através de várias linguagens – dramatizações, coral, maquetes, cartazes, palestras, debates, mesa-redonda –, do resultado das pesquisas com temas relacionados a métodos contraceptivos, tabagismo, drogas ilícitas, gravidez na adolescência, doenças respiratórias e doenças sexualmente transmissíveis, entre outros.
A atualidade dos temas buscou provocar reflexões visando a conscientização por mudanças de atitudes em relação ao cotidiano da sociedade local, seu meio ambiente e sua saúde. “A mudança não é fácil, mas possível”, disse Nádia de Almeida Amorim, diretora do colégio, que envolve 1.052 alunos distribuídos nos três turnos. Diversas foram as discussões acerca de problemas ambientais – como a poluição tanto das localidades próximas ao colégio, como no estado e no mundo, além de focos de dengue –, conforme propôs a professora Elaine, de Matemática, ao aliar esta questão à falta de saneamento básico.
Os banners e maquetes mostravam a situação de degradação ambiental da região agravada a cada chuva. Para que os debates não ficassem restritos às queixas, os alunos foram instados a pensar de forma propositiva sobre o que fazer com os materiais descartados. Dessa forma, foram realizadas exposições de materiais reciclados mostrando que a criatividade pode ser, efetivamente, um divisor de águas, conforme afiançaram Telma e Roberta, professoras de Língua Portuguesa. A criatividade imperou: da garrafinha plástica de água e restos de lã ou de linha a aluna expôs um suporte para guarda-chuva envolvido em uma capinha de crochê; de um porta-treco de garrafa pet; uma casa de bonecas feita de papelão, entre outros itens.
Ao levar para a turma o tema “Do problema à solução”, sobre a degradação do meio ambiente, Roberta buscou, ao invés de dar sugestões, aproveitar as opiniões dos alunos. “Eles é que trouxeram o debate, falaram do que viam, do que sentiam e sofriam. Daí sugeri que fizessem um vídeo. Toparam na hora”. A professora pediu que os alunos registrassem – através de fotografia, mesmo que do celular – os estragos ocorridos na região por conta do lixo, das enchentes, da falta de saneamento básico, e entrevistassem moradores antigos, para tentarem entender se houve ou não melhora na região. De posse dos dados e imagens fornecidos pelos estudantes, Roberta montou o vídeo de cinco minutos. Após as correções e aprovação dos alunos, ele foi exibido e as fotos compuseram cartazes expostos no colégio.
Fernanda Sotom, professora de Ciências, trabalhou o tema “Água” a partir de três perspectivas: no corpo humano, na natureza – rios e oceanos – e a escassez. Para isso, propôs a criação de um coral e indicou a música “Planeta Água”, de Guilherme Arantes. Superadas as resistências iniciais e naturais de fazer com que jovens acostumados a um determinado gosto musical se abrissem para outros estilos, a turma se mostrou bem afinada. No campo da Química, o professor Marcos Paulo Lugo utilizou-se do tema “Petróleo”, matéria a ser dada tanto na prova do bimestre quanto na do Saerj (Sistema de Avaliação da Educação do Estado do Rio de Janeiro), e incitou os alunos a desenvolverem pesquisas e a produzirem maquetes e cartazes para exposição.
Os assuntos relacionados diretamente à saúde versaram sobre DSTs, aids, alcoolismo, drogas, dengue, métodos contraceptivos e gravidez na adolescência. De acordo com a aluna Débora, da 3001, o professor Adilson, de Língua Portuguesa, propôs aos alunos uma dinâmica de minipalestra e a exposição de cartazes com os dados estudados. Para ela, a abordagem foi bastante interessante, por se tratar de um assunto sempre atual e, apesar de a mídia trazer muitas informações, sempre há entendimentos inadequados. Os professores Fillipe, de Educação Física, e Fabíola, de Língua Portuguesa, apoiaram a ideia dos alunos de fazerem um teatro abordando a questão das drogas. Os jovens se transformaram em atores vivenciando os dramas e angústias de usuários de drogas.
Para tratar da gravidez na adolescência e dos métodos contraceptivos recorreu-se a dramatizações e ao “jogo dos meses”, atividade que consiste em 18 cartas: nove com desenhos indicativos do estágio da gravidez e nove com perguntas relativas às características do mês da gestação. Em um minuto a pessoa teria que identificar a figura relativa ao período da gravidez conforme a pergunta.
A linguagem teatral foi trabalhada pelas professoras Denise Cristina, de Biologia, e Rebeca, de Espanhol. Na primeira, os jovens discutiram os métodos contraceptivos, tentando esclarecer questões como: será que a camisinha tem 100% de efetividade? Entretanto, uma jovem gestante afirma que não, pois teria engravidado usando camisinha. Na realidade, ao longo da peça os alunos-atores informavam que não há método contraceptivo totalmente seguro – tabela, método da ovulação, temperatura, camisinha, preservativo feminino, diafragma, espermicida, DIU, pílula, ligadura de trompas, vasectomia. Todos apresentam vantagens e desvantagens e são mais seguros quando usados corretamente.
Outra peça mostrava o drama de uma adolescente que descobriu estar grávida do namorado. Como falar com a mãe? Qual seria a reação do namorado? Como a escola a trataria? Tais angústias, segundo Rebeca, devem ser tratadas com todo cuidado, com muito debate e responsabilidade, para evitar a banalização de uma situação que pode vir a se tornar realidade. Durante as apresentações do projeto, os alunos foram avaliados pelos professores que atribuíam notas pelo conteúdo, criatividade, linguagem, organização e recursos materiais. Os resultados, segundo a diretora Nádia, foram bastante satisfatórios. Para ela, instalar discussões qualificadas foi também a intenção do projeto, pois todos os temas tratados integram a realidade de seus estudantes, desde a gravidez na adolescência até as demandas por saneamento básico na região.
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