Relacionar com as crianças: as 3 formas e seus efeitos
Como você lida com os impasses que a vida lhe apresenta? Age com autoritarismo? É permissivo? Ou usa a resolução conjunta?
A forma como agimos e reagimos em nossos relacionamentos reflete claramente como o poder está distribuído em nossas relações interpessoais.
Maria Tereza Maldonado, psicóloga estudiosa do assunto, fundamenta que, em qualquer tipo de relacionamento, as formas de distribuição de poder podem se apresentar de três maneiras: Autoritarismo, Permissividade e Resolução Conjunta. Vamos compreender um pouco cada uma dessas formas e conhecer alguns cases e as consequências?
CASO TÍPICO DE AUTORITARISMO entre Carla (a mãe) e Pedro (a criança, com 5 anos). Mãe, em tom descontrolado: “Pedro, saia da calçada. Você só sabe andar correndo, hein? Você vai cair e se machucar. Venha guardar os brinquedos agora, se não vai apanhar. Você é sempre assim, um desastre!”.
Muitas pessoas já usaram pelo menos uma advertência ou bronca dessas com um filho. Até aí, nada de novo, mas a repetição de cada uma delas, na sequência, dia após dia, cria um círculo vicioso extremamente prejudicial pelo excesso de ordens, broncas, castigos e ameaças. Maldonado explica que essa forma de conduzir se refletirá no emocional da criança mais tarde, acarretando “bloqueios de potencialidades”. Ela ainda adverte que, “em consequência disso, grandes áreas de experiência vital ficam inacessíveis”. Ouvir sempre, sempre: “Não pode correr!”, “É feio conversar muito tempo com os adultos!”, “Nunca se deve sentir raiva dos outros!”, “Você tem que obedecer sempre!”, além dos bloqueios, pode causar também negação de sentimentos e sentimento de culpa.
Por vezes, as proibições impostas são colocadas tão intensiva e sequencialmente que acabam por ser internalizadas pela criança, aprisionando-a mesmo depois de adulta.
O autoritarismo é uma forma danosa para os relacionamentos, pois traz efeitos e consequências negativas para a formação da personalidade das crianças e dos futuros adultos.
Certa vez uma mulher contou que se sentia muito mal quando duvidava de algo dito por um político, pois na infância o pai sempre lhe dizia: “Nunca duvide de uma autoridade, elas estão sempre certas”. As colocações feitas como verdades absolutas geram na criança a ideia de que na vida tudo está radicalmente organizado em certo e errado, bom e mau, bonito e feio, e isso não é verdade.
Ressalva: os combinados, as regras de convivência são bem-vindas e necessárias em qualquer sociedade ou grupo. As crianças necessitam de orientação, precisam aprender a controlar a impulsividade, por isso percebem que existe uma autoridade e até precisam dela como alguém que estabeleça limites. Porém, quando o adulto manda e domina sem se importar com as necessidades dos pequenos, agindo de forma tirana e opressora, está caracterizado o que Maldonado denomina “autoritarismo”, altamente prejudicial ao desenvolvimento da criança.
CASO TÍPICO DE PERMISSIVIDADE entre Maria (a filha) e Carla (a mãe). Maria nasceu sem um dos dedos da mão. A mãe se sentia culpada porque achava que tinha gerado aquele problema na filha, e isso a impedia de ser firme e dizer “não” quando necessário. A menina desde muito cedo percebeu as atitudes permissivas da mãe e começou a apresentar comportamento inadequado e destrutivo em diferentes situações. Com 4 anos, jogava os alimentos no chão, pisava nos presentes que recebia, dava chiliques em supermercados, respondia de forma agressiva à mãe, e, por fim, dava tapas na cabeça da mãe sem qualquer motivo aparente.
Nesse caso, a mãe passou a colocar as próprias necessidades como menos importantes. A criança sempre dominava, e a mãe aceitava submissamente até mesmo imposições e tiranias. Maldonado explica que “o sentimento de culpa é solo fértil para a permissividade: os pais sentem-se em débito permanente com o filho, com o dever de […] indenizá-los, fazendo-lhes todas as vontades”.
O problema é que a criança responde aos manejos permissivos tornando-se impulsiva, com baixa tolerância à frustação e grande dificuldade de saber esperar. Como vai aguardar a sua vez nas atividades e brincadeiras na escola, se em casa a vez é sempre dela? Ela faz o que quer, sem saber tolerar a frustração ou esperar que chegue o seu momento. São muito graves os prejuízos para a vida dessa criança, que possivelmente se tornará um adulto inseguro, tirano e intolerante.
CASO TÍPICO DE RESOLUÇÃO CONJUNTA entre Carlos (o pai) e Pedro (a criança).
Pai diz: “Filho, temos uma situação para resolver. Você está brincando a manhã toda e ainda não fez a lição. Estou preocupado porque ela é importante para o seu aprendizado. Se não fizer, você está perdendo a oportunidade de aprender e se desenvolver. Como a gente pode resolver essa questão?”.
Pedro diz: “Já sei, pai! Logo que eu acordar de manhã faço a lição e depois brinco o restante do tempo, pode ser?”.
Pai: “Para mim, ok. Vamos fazer assim e ver se vai dar certo”.
Nesse caso, a necessidade da criança e a preocupação do pai foram colocadas num mesmo patamar de importância. O processo de resolução conjunta se resumiu em um procurar, juntamente com o outro, descobrir, em meio ao conflito, de que maneira a questão poderia ser resolvida sem alguém ser prejudicado. Não houve apenas um dominante e um dominado, todos participaram em busca de uma resolução que atendeu a todos, numa relação mais igualitária.
E, para finalizar, apresentamos os benefícios da aplicação do manejo de resolução conjunta, estudada e publicada por Maldonado. São eles: estímulo da criatividade; favorecimento da percepção das necessidades de si e dos outros; diminuição da resistência, diminuição da hostilidade e rebeldia; estímulo para assumir responsabilidades e compromissos; facilidade na tomada de decisões para resolver problemas.
Embora seja trabalhosa, a resolução conjunta é, em sua essência, bastante educativa e traz resultados visíveis e positivos no médio e longo prazos. Adote e pratique!
Por Andréa Schoch | Mestre em educação, especializada em formação de professores e consultora Appai por meio da EAD.
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