Poesia e educação ambiental nas escolas

Alunos aprendem a “ler” o meio ambiente através da literatura


Sensibilizar os alunos para a questão da preservação do meio ambiente através da literatura. Assim surgiu o Projeto literário ambiental, que atua em 14 escolas de Itaboraí, município localizado no fundo da Baía de Guanabara. Elaborado pelas professoras Heloisa de Souza e Rosane Paiva, da Coordenação de Sala de Leitura da cidade, o trabalho conta com a parceria do Instituto Coral Vivo e do Projeto Guapiaçu.

Heloisa, uma das assessoras dos espaços de leitura e pesquisa do município, conta que tudo começou quando as escritoras Roseana Murray e Bia Hetzel deram um exemplar do livro “A teia das águas”. As salas de leitura lidam diretamente com as escolas onde há o professor articulador. O trabalho, realizado com turmas do 1º ao 3º e do 6º ao 9º ano do Ensino Fundamental, surgiu em 2023 e já está na sua 2ª edição em 2024. A ideia, segundo as idealizadoras, é educar para que o estudante perceba a importância da preservação do meio ambiente não só local, como do planeta, mantendo um consumo consciente e a preocupação com os resíduos produzidos por suas escolhas de vida.

“Literatura também é compreensão de mundo. Esse é o livro de poesia que traz mais informações científicas que já conheci. Às vezes a gente associa meio ambiente somente ao verde não ao mar. Nosso município, que é o final da Baía de Guanabara, tem manguezais, entre outros ecossistemas fundamentais para vida no planeta, e é muito importante que os alunos conheçam! Em princípio pensamos em realizar em uma escola só, mas ampliamos porque recebemos a doação de 460 exemplares do Instituto Coral”, explicam as professoras, que fizeram a primeira edição 2023, em seis meses de trabalho, segundo conta Heloisa.

As coordenadoras de sala de leitura sensibilizaram as turmas para o trabalho em sala de aula. Os professores articuladores, em contato com Heloisa e Rosane, partem do princípio de que o texto só faz sentido se o aluno conhece minimamente a temática abordada. Os conteúdos textuais são explorados a partir de estratégias de leitura, técnicas e métodos utilizados para melhorar a compreensão e retenção de informações. Segundo Rosane, algumas práticas comuns incluem a antecipação da leitura, exploração dos elementos paradidáticos, criação de hipóteses, informações sobre o autor, o gênero e a temática do texto, a leitura e identificação de palavras-chave, perguntas sobre o conteúdo e pós-leitura.

Heloisa também lembra a transdisciplinaridade do trabalho. Os professores regentes envolvem os de Ciências e Geografia, que vão trabalhar conceitos e tópicos como água, ar e solo que as turmas do sétimo ano estudam no calendário escolar. Também nos conteúdos de História porque debatem como foi o uso dos territórios socialmente. Os professores de Língua Portuguesa também participam de todo o processo.

Na Escola Municipal Antônio Santos da Silva os estudantes precisaram recrutar muitas áreas do conhecimento. Os alunos realizaram um fórum, organizado pela psicopedagoga Bruna Pireda e a professora regente Thaís Figueiró, onde discutiram as temáticas sociais e criaram poemas, apresentados em salas. Os jovens assistiram ao documentário “Ilha das flores”, que fala sobre o descaso com o meio ambiente. O I Fórum Ambiental da Antônio Santos teve a participação do professor de Geografia Peter Rosa, falando sobre racismo ambiental com o tema “A sociedade contemporânea movida pelo consumo e seus impactos socioambientais”, e da docente de Língua Portuguesa Heloisa de Souza com a palestra “Racismo Ambiental: o que conta a literatura”.  Os alunos entenderam esse conceito a partir da sua própria realidade, como comenta Bruna: “A parte ambiental que se permitia que o povo negro ocupasse foi abandonada, como as periferias por exemplo, o que inclui a falta de saneamento básico, educação, transporte público e saúde. Foi uma proposta dos alunos, e a escola fez livros trazendo para essa realidade de Itaboraí, um município com muitas fragilidades em todas as áreas”.

Outra experiência que se destaca é a da Escola Municipal Antônio Alves Vianna. A professora de Língua Portuguesa Elizângela Furtado conta que, para vivenciar o tema na prática, visitaram o Projeto Guapiaçu, de reflorestamento e cuidado com os rios e áreas de preservação ambiental em Cachoeiras de Macacu.  Lá aprenderam muito sobre o tema com os instrutores da Área de Proteção Ambiental (APA). “Os alunos ficaram muito impactados com a aprendizagem sobre a devastação e a recuperação das espécies de vegetação tão necessárias à sobrevivência do planeta, como os manguezais e a diversidade da flora.  Partimos da literatura e vamos para a prática. São experiências necessárias para os nossos alunos e queremos ver uma real transformação pela educação. Eles deram seus depoimentos no dia da apresentação e criaram um telejornal sobre meio ambiente. “Durante a culminância apresentaram os conteúdos que estudaram, levando os conhecimentos aos colegas”, reforça Elizângela.

“Nessa crença entende que a educação deve ultrapassar os muros da escola. A criança precisa se libertar, e acreditamos que a literatura seja um dos instrumentos para alcançar esse fim, como ferramenta de compreensão do mundo”, reforça Heloisa.

Na Escola Municipal Alfredo Torres, a professora Tamiris Costa, em parceria com os docentes de História Marcelo Barbosa e Marrieli Landim, realizaram estratégias de leitura com os poemas, seguidos por rodas de conversas e debates. Na sala de aula, os educadores davam continuidade propondo produções aos alunos. “Percebi como foi rica a troca de vivências com os professores em cada passo dado. A comunidade escolar se empenhou e assim desenvolvemos uma consciência ambiental mais profunda sobre a importância da natureza e da preservação para as próximas gerações. Os alunos também visitaram o Projeto Guapiaçu e ficaram encantados com o trabalho de preservação ambiental no Parque Estadual dos Três Picos e na APA de Cachoeiras de Macacu”, afirma Tamiris.

Rosane frisa que a culminância é um dia de troca entre as escolas. Os alunos exibem o que foi realizado durante os seis meses de atividades. A apresentação de 2024 aconteceu na Escola Municipal Antônio Alves Viana, com os estudantes expondo suas produções, como fotos e relatos das experiências no Projeto Guapuaçu. Houve dramatização das poesias de Roseane Murray com as vivências do projeto. Todo o material produzido foi exposto em mural na culminância.

O corpo docente relata que os estudantes adoraram participar, pois foram os protagonistas do trabalho, como foi o caso da aluna Carollyna Couto. “Vou levar esse projeto junto comigo para minha vida. Agradeço a vocês por me proporcionarem oportunidade de fazer parte disso tudo, conhecer o meio ambiente que vivo e saber que a mudança depende de mim também”. A jovem Eloanny Nogueira se sentiu agradecida pela oportunidade e disse que as vivências mudaram as suas perspectivas. “Amei a experiência, foi um privilégio participar do projeto com vocês. Conhecer o local em que moro, novas linguagens, novas informações que me ajudam a entender e ler o mundo em que vivo”.

Rosane Paiva endossa que o trabalho com literatura e prática atingiu o objetivo, pois proporcionou uma nova forma de ver o mundo. “Pra nossa vida pessoal é significativo porque levamos para o cotidiano uma nova forma de ver o mundo e de se sentir responsável por ele. Um outro olhar sobre o entorno, onde se vê a necessidade de proteger, e em que o aluno se percebe como meio ambiente também. A literatura é a menina dos nossos olhos junto com um assunto que é tão importante e nos move”, conclui a educadora.


Por Claudia Sanches

Coordenação de Sala de Leitura – Semed
Av. 22 de Maio, 7.320 – Sala 16 – Venda das Pedras – Itaboraí/RJ
Tel.: (21) 98082-2697
E-mail: saladeleitura@edu.itaborai.rj.gov.br
Idealizadoras: Heloisa de Souza e Rosane Paiva


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