Projeto transforma vidas e cria oportunidades para um futuro melhor

Luisa Santos, uma menina sonhadora que viu na ONG Origem Amorim uma oportunidade de ingressar numa universidade pública. No período da pandemia fazia parte do preparatório para o Enem com mais de 30 alunos inscritos, quando a entidade teve que encerrar suas atividades. Muito dedicada, mesmo assim, Luisa passou a ir à casa dos professores voluntários, mobilizados pela ONG, em outros bairros para fazer aulas. Prestou concurso e passou em 4º lugar para Engenharia na Universidade Federal do Rio de Janeiro.

Essa é uma das histórias de jovens que passaram pela ONG Origem Amorim – Associação de Orientação para Emprego, Educação e Saúde, localizada no Morro do Amorim. Entre os programas oferecidos está o Reforço Escolar Origem, que atende cerca de cem estudantes por ano, das redes municipal e estadual, do Ensino Fundamental I e II, no contraturno do horário escolar. Através do programa, além das aulas de reforço, eles participam de diversas atividades gratuitas. São cursos de línguas, informática, artes, colônia de férias, oficinas de literatura entre outras. Nas classes de virtudes e ética, as crianças já começam a trabalhar um plano de carreira a partir de onze anos com a equipe da ONG. “Apresentamos a esse jovem as possibilidades de pensar em profissões além daquelas comuns ao local que eles vivem e promovemos palestras com vários profissionais”, diz Mariana.

Bate-papos sobre direitos e deveres

É nas rodas de conversas que também são discutidos temas fundamentais como prevenção da gravidez na adolescência e paternidade precoce. Através de estatísticas, Mariana comemora o resultado dos jovens que têm hoje na faixa de 21 anos e passaram pelo projeto. “Nossa equipe tem muito orgulho disso. Faz parte do nosso trabalho preventivo e de planejamento familiar. Nessas rodas, os alunos discutem a questão não só dos direitos, mas principalmente de seus deveres como cidadãos. Outro dado para comemorar é o baixo índice de evasão escolar entre esses grupos”, enfatiza.

Outra ação, que possibilita a promoção de passeios a pontos turísticos e históricos da cidade do Rio de Janeiro, é a Semana Cultural. A ideia é fazer com que eles entendam que não pertencem somente àquele território, mas fazem parte de uma cidade.

A maior dificuldade do projeto, segundo a diretora, é a capitação de recursos para profissionais remunerados. Para ajudar no financiamento dos muitos projetos sociais, a equipe criou a marca Ateliê de Origem, que promove cursos para soluções em ESG para resíduos têxteis, lona, plástico, entre outros. A marca gera trabalho para as mulheres das comunidades sustentarem suas famílias e já estabeleceu parcerias com várias empresas.  O serviço de design desenvolve novos produtos a partir da necessidade dos clientes e ainda colabora com o meio ambiente.

Projetos que ajudam a transformar

Através do Ecoponto da Origem, em 2023, o trabalho prolongou a vida útil de muitos resíduos. Foram mais de 180 quilos de tecido, 150 quilos de lona e 35 de plástico. Reciclou cinco toneladas de papel, 300 quilos de alumínio e ferro e 430 quilos de eletrônicos. O bazar promove a moda e faz circular roupas e, em 2023, movimentou mais de 1200 itens. A loja disponibiliza para venda peças e acessórios, além de roupas confeccionadas pelas costureiras, muitas delas oriundas dos cursos de moda, mentoria de empreendedorismo, modelagem, corte e costura, que já proporcionaram formação profissional para mais de 150 mulheres.

O professor Márcio Matias, estilista nascido e criado no Complexo da Maré, sabe como esse tipo de iniciativa pode impactar a vida das pessoas de comunidade. Para ele, um diferencial importante do trabalho é a democratização da moda. “A gente consegue potencializar a entrada desses jovens em um mercado de trabalho tão fechado. Nesse modelo de negócio, criamos oportunidade de trabalho e ainda resolvemos problemas de empresas que não têm onde descartar seus resíduos”, afirma.

Seja na área do empreendedorismo ou na de formação acadêmica, os resultados são animadores. Roberta Duarte relata o desempenho do filho José Rian,13 anos, que estava muito baixo. “Ele não estava indo bem nem em Educação Física. Quando começou no projeto de Reforço Escolar a evolução de Rian foi notória. Fui chamada na escola no ano de 2023 para elogiarem as notas e a mudança de comportamento. A nota menor dele foi 7,5”.  Um outro bom exemplo foi o caso da jovem Ana Clara, que tinha o sonho de trabalhar no mercado da moda. As oficinas foram a possibilidade de se formar em customização e aprender a técnica e prática: “A oficina abriu meu horizonte para o mercado da moda. Agradeço muito essa chance e espero que outras pessoas tenham essa oportunidade”.

“Esse é o resultado de quando se acredita em transformação social, quando se acredita em projetos como o da Origem que, através da educação, seja possível formar cidadãos plenos, responsáveis por si próprios, pelos que estão a sua volta e pelo meio ambiente. Eles se tornam referências e multiplicadores. Portanto, nosso desafio hoje é poder receber mais pessoas”, comemora Mariana.

Por Claúdia Sanches

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