Era uma vez… uma sacola literária

Ação incentiva a formação de leitores e a participação da família na escola


Desde os primeiros anos de vida, as crianças se interessam por “ler” as imagens, ouvir histórias e fazer descobertas. Nessa fase do desenvolvimento, a família e a escola têm papel fundamental no estímulo dos pequenos na formação do gosto pela leitura. Assim, a professora Kelly Serafim, com objetivo de aproximar os responsáveis do ambiente escolar, começou a desenvolver o projeto Sacola literária, na Escola Municipal Terra de Educar, localizada numa área rural do município de Paracambi. A ideia surgiu em 2015 numa roda de conversa em experiência partilhada em um curso de Especialização em Educação Infantil, realizado na Universidade Rural do Rio de Janeiro.

A professora sentia grande dificuldade em fazer com que os familiares se envolvessem e participassem das demandas da instituição de ensino e viu a necessidade de promover relacionamentos mais próximos e eficazes com os responsáveis. “Uma colega de trabalho falou sobre sua experiência com seu projeto Sacola viajante na escola onde trabalhava. Senti uma vontade muito grande de realizar um empreendimento de leitura. Ao utilizar a ideia, procurei aperfeiçoar e incluir a família como parte principal”, justifica. O projeto continuado tem funcionado e se modificado ao longo do tempo. Outros professores têm se interessado, e a direção vem apoiando a iniciativa, que passou a ser desenvolvida com a escola toda, apesar de a adesão dos professores ser opcional.

Kelly explica que dois alunos de cada turma levam uma sacola com um livro e um questionário para que os responsáveis respondam. Elas devem retornar no dia seguinte, devolvendo o material. A intenção é que todos levem a sacola. Depois que todos os estudantes participam da primeira etapa, a equipe faz uma reunião com os familiares para que possam compartilhar a experiência em casa. Num outro momento, cada pai, mãe ou avós podem ir à escola para contar uma história para as turmas. “É uma experiência muito boa. As crianças ficam muito felizes quando alguém de sua família aparece para falar como foi aquele momento em casa”, revela a educadora.

De acordo com os relatos dos pais, o projeto de leitura é muito gratificante. Graciele, mãe do aluno David, do pré I, lembra do primeiro dia que o filho chegou com a sacola literária. A mãe não esquece o entusiasmo e alegria dele e como foi prazeroso separar um momento de leitura com ele. “Ver o seu interesse pela história, sua concentração e seus olhinhos atentos a cada capítulo lido me mostrou a importância de compartilhar esse tempo com ele e incentivá-lo a viajar nesse mundo mais lúdico e encantador que a leitura nos proporciona!”.

A diretora Franciene Franklin de Albuquerque começou a apoiar o trabalho e o incluiu no projeto político-pedagógico da escola. “Percebi que nossas crianças gostam muito e dá mais alegria e potencial quando se insere a família. Que possamos incentivar cada vez mais as crianças a ler e a se expressar. No que depender da direção, faremos sempre cada vez mais por nossos educadores e alunos”.

Fabiana Panepa, coordenadora do 1º ao 5º ano e mãe do aluno Marcos Felipe, do pré I, se encantou com o projeto literário e aderiu à proposta recentemente após realizar com seu filho em casa. “O trabalho propõe situações de aprendizagens que despertam a curiosidade, a descoberta do novo, além de ajudar nas habilidades da escrita, do vocabulário, levando à imaginação e ao conhecimento. Através da leitura podemos ter um mundo melhor, com novas maneiras de enxergar a mesma realidade. Ela traz momentos maravilhosos, não só em casa, mas na escola também”.

Outro aspecto importante que merece destaque é o aprimoramento da proposta. Kelly participou de oficinas de leitura em educação infantil. Também realizou enquetes no grupo de mães, perguntado se separavam um tempo para brincar e ler com os filhos, e a maioria disse que não. A partir da realidade, conta que começou a criar atividades diferentes. Pede para a criança fazer um desenho, solicita ao responsável para gravar um vídeo, fazer uma foto do momento da leitura em casa com as crianças, entre outras tarefas.  No desfile cívico que acontece todos os anos na cidade de Paracambi, um dos pelotões foi com a sacola literária. Outra ação diferente para deixar os alunos mais motivados foi o sorteio de livro entre as crianças para sua turma. “Usamos o acervo da nossa biblioteca. Mas decidi comprar alguns e fiz sorteio na turma. Todos ganharam um exemplar, mas foram sorteados apenas dois por dia. Eles ficam muito entusiasmados e empolgados e pedem cada vez mais para levar a sacola”.

A diretora adjunta Sílvia Figueira acrescenta que a leitura em casa engloba várias oportunidades de crescimento e otimiza o desenvolvimento dos alunos. Para ela o projeto ganha mais importância já que envolve a família, que também é convidada a viajar pelo mundo da leitura, junto com os pequenos estudantes. “Imagine então ter uma sacola que viaja, cheia de livros, com suas histórias, que levam a imaginar um mundo com imagens e sensações, muitas vezes nunca vistas ou sentidas? Além disso, a sacola literária carrega sua importância por formar os primeiros leitores, que são os alunos da educação infantil, o que se torna marcante! Sem essa parceria dos familiares, através de sua inserção qualitativa, o processo no qual o projeto está inserido se tornaria um pouco mais lento”.

Nesses nove anos o trabalho se adaptou às novas necessidades e vem cumprindo seu papel. Seu impacto é visível no comportamento dos alunos, funcionários e responsáveis, segundo Kelly. O projeto tem contribuído em todas as áreas do comportamento. A sacola literária desenvolve diversas habilidades de modo lúdico e autônomo por meio da leitura. Melhorou muito também a interação na escola, pois crianças que falavam pouco agora estão se comunicando mais com os colegas e com os funcionários. “Não é só no ambiente escolar que acontece a aprendizagem. As famílias estão caminhando, percebo que muitos pais cobram quando os filhos não levam a sacola. Um grande desafio desse ano, segundo Kelly, é levar dez responsáveis ainda esse ano para a escola – já que também são tímidos –, para contação de histórias e para falar sobre as memórias agradáveis com as crianças em casa”.

Essa semana, Talita Cardoso, mãe do pequeno Christopher do pré I, leu “O Patinho Feio” para as crianças. Foi uma festa na escola, que sempre celebra quando mais um membro da família vai ler para as turmas. Para a mãe é uma novidade muito bem-vinda: “Tem sido uma experiência muito diferente para mim, foi muito gratificante. As crianças ainda pediram para eu voltar para contar mais histórias e dizem que vão chamar os pais delas para vir também!”, comemora Talita.


Por Claudia Sanches

Escola Municipal Terra de Educar
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Tel.: (21) 98976-1315
E-mail: serafimrks@gmail.com


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