Era uma vez… “A resposta é a desgraça da pergunta” Blanchot

Jane Patricia Haddad*


O Dia Internacional do Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) acontece em 13 de julho. Uma data destinada a informar e conscientizar a sociedade sobre essa condição que afeta crianças e adultos em todo o mundo. Boa ocasião para falarmos sobre o tema. Ao término de mais um semestre, ano de muitos trabalhos, diversos desafios, procuro, pois, produzir mais inquietações e dúvidas sobre uma educação que está por vir. Em períodos de rápidas mudanças, o tempo é o ingrediente mais buscado.

Gostemos ou não, tudo está conectado: uma mudança tecnológica acelerada envolve novos “sintomas” contemporâneos, nossa forma de ser e estar no mundo; a meu ver isso é pensar e falar sobre saúde mental. A rapidez das tecnologias tem despertado novas formas de ser e estar no mundo. Os modos de viver, crescer e até morrer foram alterados e estão impactando as relações humanas, as relações políticas, a quebra do pacto de confiança entre adultos e crianças, as diversas composições familiares, as várias formas de poliamor, além da medicalização das vidas. Os “tantos transtornos” de aprendizagem, os movimentos sociais, especialmente os relacionados com aspectos étnicos e raciais, ecológicos e de competição entre os sexos. E agora qual será o currículo educacional?

O mundo está mudando, e a escola está acompanhando tais temas e debates? “A resposta é a desgraça da pergunta”. Não temos nenhuma resposta, mas temos percurso, experiência e muito desejo em falar e escutar, é assim que estamos trabalhando de norte a sul, de leste a oeste, em conferências que possibilitem escutar os sintomas contemporâneos educacionais. O momento é de transição e muitas rupturas, ocasião de largar o velho e conquistar a maturidade que o processo de educar as novas gerações nos exige. O único atalho que consigo enxergar nesse momento é o da ESCUTA atenta.

Como dizia o saudoso e querido Rubem Alves: “O que as pessoas mais desejam é alguém que as escute de maneira calma e tranquila. Em silêncio. Sem dar conselhos. Sem que digam: ‘Se eu fosse você’. A gente ama não é a pessoa que fala bonito. É a pessoa que escuta bonito. A fala só é bonita quando ela nasce de uma longa e silenciosa escuta. É na escuta que o amor começa. E é na não-escuta que ele termina. Não aprendi isso nos livros. Aprendi prestando atenção”. E nós estamos prestando atenção onde? Em quem? Acreditamos na escola humana que escuta pessoas e não CID(S) de doenças. Estamos lidando com pessoas, com gente, com crianças tentando falar de diversas formas, até em suas “hiperatividades” que clamam por um sentido de existir. Sinto muito, pais e professores: A “escola do passado” não cabe mais no novo mundo; não é admissível que crianças e adolescentes precisem adoecer para que se façam ser escutados. Não serão mais aceitas as réguas do passado apenas renovadas com outros discursos como: TOD, TDAH, TEA…

É preciso rejuvenescer, olhar por outras lentes. Nada como lembrar de um trecho da canção “Velha Roupa Colorida”, de Belchior: “Você não sente nem vê / Mas eu não posso deixar de dizer, meu amigo / Que uma nova mudança em breve vai acontecer / E o que há algum tempo era novo jovem / Hoje é antigo, e precisamos todos rejuvenescer (…) No presente a mente, o corpo é diferente / E o passado é uma roupa que não nos serve mais”.

Essa escola não nos serve mais; os “modelitos” de educação que tentam nos vender não cabem mais em nossas roupas e nem em nossos corpos que gritam através de “doenças” e “transtornos”, algo que está EM TORNO de seres que gritam por suas subjetividades aprisionadas.

Era uma vez…uma outra escola, uma outra forma de debate… O que estamos precisando falar e escutar é sobre gente; sobre seres e constituição dos sujeitos; sobre referências de adultos que abandonam suas funções. Escutar e falar sobre uma escola Na e Para a Vida.


*Jane Patricia Haddad é pedagoga com especialização em Psicopedagoga e psicanalista. Autora do livro “Cabeça nas nuvens. Orientando pais e professores a lidar com o TDAH” (Wak Editora).


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