Projeto propicia mergulho nas obras e autores

Com objetivo de levar conhecimento sobre história da arte e sobre os artistas, trabalhar a criatividade e promover o papel da Educação Artística na vida escolar, a professora de Artes Márcia Costa apostou no projeto Quem é o artista?, no Ciep Rubem Braga, em Senador Camará, com jovens do 2º ano do Ensino Médio.

Conforme a educadora enfatiza, a ideia era garantir que os alunos conhecessem os artistas e se reconhecessem como autores. Uma vez que eles já estavam trabalhando com massa de biscuit, Márcia aproveitou para utilizar a modelagem como técnica do projeto. Inspirada nos bonecos japoneses Funko Pop, propôs aos estudantes que modelassem obras de alguns nomes famosos, desde Leonardo Da Vinci, passando pela latino-americana Frida Kahlo até os artistas de rua, como o notório Kobra.

“O resultado ficou muito bacana. Gosto de trabalhar com materiais diferenciados. Já tínhamos feito pastel, giz de cera, lápis, é fundamental apresentar metodologias diferentes. Durante as atividades, os jovens puderam compreender os processos criativos, vivenciaram as técnicas, além de conhecer e divulgar a arte Funko Pop, em forma de pintores que revolucionaram a arte mundial”, destaca a professora.

Ao longo de um semestre, a educadora explica que foram selecionados 17 alunos, separados por habilidades para fazer os bonecos a partir dos moldes do Funko Pop, que ela fez para as atividades. Divididos em grupos, no primeiro momento os jovens fizeram uma análise dos artistas escolhidos, através de pesquisas digitais e bibliográficas, buscando dados históricos e recentes, contextualizando as suas características e diversos cenários.

A ideia era entender a personagem, quem eram os artistas, contexto em que viveram ou vivem. Márcia criou quadrinhos com os trabalhos dos pintores, textos sobre os criadores e suas imagens. O aluno olhava a tela e explicava a obra para conhecer o artista para, num segundo momento, recriá-lo no modelo dos bonecos japoneses: “Colei o quadro ‘O Beijo’, de Gustav Klimt, por exemplo, e eles olhavam para as informações visuais e explicavam a obra. Assim como expus uma imagem de Kobra, grafiteiro que tem suas pinturas exibidas na Praça Mauá, e de Os Gêmeos, também artistas que vieram da arte das ruas das periferias. Os alunos os conhecerem de forma diferente, através da criação”.

A professora conta que o estudante Danilo Liberata, que recebeu a missão de esculpir Van Gogh, tem muita habilidade no desenho, mas já pensou em seguir a carreira militar. “Ele me surpreendeu, vi que ele foi além dos detalhes, fez o pincel na mão de Van Gogh. A escolha dele se justifica provavelmente por segurança financeira, porque não vê futuro na carreira”, lamenta a professora em relação ao espaço que a arte ainda ocupa no Brasil. Porém Danilo confirma o papel da expressão artística na sua formação: “O trabalho foi além do dia a dia em sala de aula e abre a cabeça para outros horizontes. Viver essa experiência foi surpreendente”.

Apesar dessa realidade, ela destaca o caso da sua ex-aluna Tadáskía, uma inspiração para os estudantes do Ciep, que recentemente teve grande repercussão na última Bienal de São Paulo. Formou-se em Artes Visuais pela Uerj, e hoje a artista plástica vive e faz sucesso em Nova Iorque com a profissão. Em reportagem, ela fez questão de falar sobre a gratidão pelas aulas de Márcia no Ciep, “que representaram a primeira oportunidade de sair do subúrbio de Senador Camará, através dos passeios realizados para conhecer outros lugares, pontos turísticos e culturais, ações que despertaram o sonho de ser artista”, lembra a professora.

Durante todo o processo da confecção dos bonecos, a turma esbarrou em muitas curiosidades, recorda Márcia. “Quando Leonardo Da Vinci criou a ‘Monalisa’, o Brasil não havia sido sequer descoberto”, disse o aluno Danilo. Para finalizar o trabalho, cada produção dos jovens foi estampada em canecas, entregues aos autores durante a culminância do projeto.

Para os alunos envolvidos, o projeto foi uma vivência que fez a diferença na vida escolar. Conforme afirmou o aluno Rhyan Nascimento, da turma 2.004, “foi uma experiência única que realmente gostei. Pensei que seria mais um trabalho comum e depois vi que foi além das expectativas, um projeto que tocou o meu coração e mudou minha vida”.

Leonardo Isaque, da turma 2.005, também garantiu: “Uma experiência inesquecível, muito agradável, além de trabalhar a coordenação motora e o desenvolvimento da criatividade”.

A diretora Maria da Glória Hentz apoiou a iniciativa e acredita que o trabalho é de grande importância para toda a comunidade escolar: “Tira o aluno da mesmice, só sala de aula. O projeto motiva o estudante e dá vida à escola”, frisou.

Durante a culminância, que foi um vernissage, o resultado dos trabalhos dos alunos surpreendeu os expectadores. Pais, mães, colegas de turma e comunidade escolar ficaram encantados com as criações. A diretora Maria da Glória conta que o encontro foi uma oportunidade de compartilhar o conhecimento adquirido com todos que estiveram no evento. “As pessoas se surpreenderam. É um boneco que não é fácil. Às vezes não acreditam que eles fizeram. Não é uma técnica simples”, lembra Márcia.

Papel da arte na formação do aluno

A diretora observou que o trabalho com Educação Artística vem impactando professores de todas as áreas do conhecimento na escola. O docente de história Paulo Coutinho fez o encontro “Filosofando com Rubem Braga”, cronista e patrono, que dá nome à escola. As turmas também estão fazendo uma peça no projeto Café Literário, intitulada “Modernismo no Rubem Braga”.

Márcia afirma que o objetivo foi alcançado, e o desafio da arte é abrir os horizontes e as perspectivas, aparecendo como uma ferramenta fundamental na formação do discente. “Olho os jovens trabalhando e vejo o prazer na expressão deles, que também eram artistas no momento da criação. A importância da ação foi fazer com que tivessem uma visão crítica e percebessem que a arte deve ser acessível a todos e pode ser sim uma ocupação para os futuros cidadãos”, concluiu.

Por Claudia Sanches

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