Cérebro e emoções: o poder da afetividade no processo de aprendizagem

Por Alessandra Machado*


A aprendizagem é um processo contínuo e ininterrupto que acontece ao longo do desenvolvimento humano e em todas as esferas. Aprendemos com o outro que é diferente de nós e isso é um ganho valioso para a educação, já que estar em contato com opiniões e conhecimentos diferentes possibilita momentos de reflexão, trocas e aprendizagem.

Pensando especificamente no processo de ensino e aprendizagem que ocorre no ambiente escolar, é imprescindível que se invista na possibilidade de mudança a partir de uma abordagem mais ativa, afetiva, otimista e funcional. Para isso, se faz necessário entender que existem diferentes formas de aprender, o que nos mostra o quanto é necessário que ocorram maneiras diferenciadas para ensinar e assim alcançar todos os educandos em seus estilos de aprendizagem.

Os conhecimentos compartilhados pela Neurociência são de grande valia para a Educação, pois ajudam a entender o funcionamento do cérebro humano, já que as informações recebidas através do meio externo podem ser processadas de maneiras diferentes. Por isso, os aspectos cognitivo, emocional, adaptativo, relacional, precisam ser levados em consideração. A afetividade então é fundamental para a construção das informações cognitivo-afetivas e consequentemente as relações que devem ser estabelecidas entre educador e educando. É por meio delas que acontece a identificação com as outras pessoas e os vínculos afetivos que são gerados.

Se a sala de aula é um espaço tipicamente interativo, então se faz necessário compreender que os educandos estão em constante movimento e transformação, pois suas conexões neurais nunca param. Daí a importância de se apropriar dos conhecimentos neurocientíficos para que seja possível fazer intervenções de qualidade e oportunizar aulas que sejam prazerosas e inesquecíveis.

A cognição é influenciada o tempo todo pelos neurotransmissores. Por isso, ter a participação dos(as) alunos(as) em cada momento da aula é fundamental. Uma aula prazerosa e repleta de sentido aumenta os níveis de dopamina, o que traz mais motivação para os educandos e com isso a aprendizagem é consolidada. Todas as áreas cerebrais estão envolvidas no processo de aprendizagem, cada uma com seu funcionamento particular, porém não de forma isolada, e isso inclui a área responsável pelas nossas emoções.

Os conhecimentos neurocientíficos nos mostram também o quanto é importante estimular os educandos com qualidade. Esses estímulos são captados pelas vias sensoriais e decodificados em nosso cérebro. Não é fazer o muito do mesmo, mas sim transformar um mesmo conteúdo em algo diversificado. Esses estímulos de qualidade, quando são recebidos pelo nosso cérebro, vão se fortalecendo e se transformando em informações importantes que posteriormente são consolidadas e convertidas em memória. Encantador nosso cérebro, não é mesmo?

Quando se aprende, vinculam-se emoção e razão, sistemas que biologicamente estão interligados. Não é à toa que guardamos lembranças carregadas de afetividade daquelas aulas e educadores que foram importantes em nossa trajetória. Mas da mesma forma também o contrário acontece, e isso se dá pela relação entre nossa afetividade e o sistema de memória que estão inseridos em áreas cerebrais próximas. Por isso, associar os conhecimentos das neurociências às práticas pedagógicas estimula esse novo olhar educacional para as singularidades de cada educando, promovendo o bem-estar e a saúde emocional e mental de todos os envolvidos no processo (educandos e educadores). Isso porque o recurso de unir cérebro e afetividade se torna um grande aliado para essas relações, já que, ao observar as emoções e comportamentos dos alunos, podemos ter a noção de como o meio escolar os afeta: se estão sendo estimulados e motivados ou se estão sendo levados à apatia ou desinteresse.

A afetividade positiva nos conecta com o outro e traz importantes histórias emocionais para nossa memória. Aprender faz parte de um desejo que envolve sonhos, relações, perspectivas, lógicas, experiências, sentimentos e emoções. Aprender gera autonomia, liberdade de pensamentos, dá movimento a várias operações mentais e às funções executivas do cérebro. Para que exista amor por aprender, é preciso que exista amor por ensinar.

Os alunos mudam, os professores mudam, os anos vão passando e as estratégias educacionais não podem permanecer as mesmas de décadas passadas. Entender que nosso cérebro tem o poder de se transformar continuamente possibilita romper “os muros” que separavam educadores de educandos e, principalmente, permite uma releitura sobre os processos educacionais, agora mais pautados no afeto e na interação. A aprendizagem escolar abrange não só os conteúdos formais, mas também as informações experienciadas socioemocionais, e isso é um fato importante principalmente atualmente.      Nosso cérebro precisa amar e se sentir amado e isso não é diferente em relação ao processo de ensino e aprendizagem.


*Alessandra Machado é pedagoga, especialista em Neurociência Aplicada à Educação, neuropsicóloga, mestranda em Intervenção Psicológica no Desenvolvimento Humano e na Educação. Autora, com Mariana Fenta, do livro “Cérebro e afetividade: potencializando uma aprendizagem significativa”.


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