Prevenção de afogamento se aprende na escola

Abordagem educativa contribui para evitar morte prematura por submersão


O afogamento é rápido, silencioso e um grave problema de saúde pública em todo o mundo. Segundo a Sociedade Brasileira de Salvamento Aquático, 15 pessoas morrem afogadas diariamente no Brasil. A boa notícia é que a prevenção pode evitar a mortalidade prematura a partir de uma abordagem educativa. Essa é a conclusão do estudo coordenado por Marcelo Barros, professor de Educação Física da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj) que coordenou nas aulas da disciplina um projeto de “Prevenção do afogamento com uso de conteúdos” com turmas do CAp-Uerj.

“A natação poderia ajudar, mas não atinge a todos e não consegue contemplar todos os aspectos que podem blindar contra o afogamento. Já a escola abrange todas as crianças, e nesse ambiente a prevenção pode difundir atitudes e valores que salvam vidas”, explica o professor Marcelo Barros, acrescentando que o ambiente escolar se mostrou um protagonista na prevenção.

Segundo Fernando Macedo, que também participou do trabalho, na escola foi possível acessar os alunos de forma muito receptiva. “Lá é o local mais adequado para utilizar o ensino, atribuindo ao processo educacional uma capacidade de utilizar na prática o que é ensinado na teoria, exigindo que esse conteúdo adquira uma funcionalidade para o educando”, destaca.

 

Segurança aquática em sala de aula

Em 2022 foram selecionadas no CAp-Uerj 12 turmas, distribuídas entre quatro alunos do 5º ano, quatro do 6º e quatro do 7º, na faixa etária de 9 a 15 anos. Entre os critérios do público está sua maior vulnerabilidade devido à menor consciência do risco, sem falar que nesse período da vida os alunos também conseguem ler, interpretar figuras, símbolos e podem ser acompanhados por tempo suficiente para coletar dados. De acordo com o professor, as 12 turmas foram acompanhadas até 2024, totalizando 336 estudantes. “Atualmente fazem parte do projeto quatro turmas com um total de 112 alunos que cursam o 7° ano, quatro turmas com total de 112 participantes que cursam o 8º ano e quatro com total de 112 que cursam o 9º ano”, pontua.

No primeiro contato, os alunos respondiam um questionário, que pode ser baixado para aplicação em outras escolas. Ele está dividido em três partes, contendo 20 itens sobre Nível de Conhecimento Preventivo de Afogamento (NCPA). Na primeira parte os alunos relacionavam as figuras nas placas para prevenção do afogamento aos textos que significam aquelas imagens (7 questões). Na segunda parte tinham que fazer a relação entre as cores das bandeiras verde, amarela e vermelha usadas nas praias e o seu significado em relação às condições de banho (3 questões). Já na última, o aluno marcava sim ou não em afirmações relacionadas à atitude correta no ambiente aquático, a fim de evitar lesões e prevenir afogamentos (10 questões).

Resultados e intervenções

Após o diagnóstico, o professor retornava à turma com os resultados individuais dos alunos, entregando os questionários corrigidos numa escala de 0 a 10 na quadra. Em seguida, os docentes revisavam os 20 itens do teste, explicando sua importância para a prevenção e fornecendo as respostas corretas. Durante a fase teórica sobre segurança aquática, foram abordados conceitos pedagógicos, como os opostos de palavras como “proibido” e “liberado”, “seguro” e “perigoso” e “presente” e “ausente”.

Também foram discutidos exemplos do teste, como o significado das cores das bandeiras nas praias, indicando o grau de perigo do mar: verde para local seguro, amarelo para risco moderado, vermelho para alto risco e preto para área sem guarda-vidas. Além disso, foram explicados conceitos como corrente de retorno ou vala, esta última ilustrando que indica um movimento de água em direção ao mar aberto, representando um perigo para os banhistas.

 

Conteúdos atitudinais

Em seguida o professor trabalhou os conteúdos atitudinais, com objetivo de o aluno aprender a “saber respeitar e conviver” com normas, posturas, valores e atitudes, como, por exemplo, saber respeitar as regras de utilização do ambiente aquático e do professor, adotar hábitos de prevenção de afogamento e tentar interiorizar algo que será levado para a vida. Em sala de aula, os estudantes visualizaram um banner onde estava escrito “vacine sua piscina contra afogamento” e receberam um fôlder explicativo sobre prevenção a esse risco. Cada turma teve dois alunos escolhidos, sendo um menino (xerife Kim) e uma menina (xerife Tatá), que receberam um crachá da professora de educação física Izabel Maria Sobral para serem os líderes da prevenção em sua turma. Eles foram eleitos pelos próprios colegas após votação de quem podiam ser os “guardiões” que iriam ajudar na prevenção de acidentes na escola.

Mudança de comportamento

“Após as ações, 98% dos estudantes entenderam o significado das bandeiras verde, amarela e vermelha. Um exemplo notável foi o aluno Davi de Moraes, da turma 61, que, semanas depois, lembrou e compartilhou com os colegas o que queriam dizer as bandeiras. Helís Santos, também da turma, disse que não entrou no mar, e Gustavo Costa ficou no raso avisando o responsável que era perigoso, pois estava com alto risco de afogamento”, conclui Marcelo.

Além disso, os alunos assimilaram corretamente os comportamentos adequados na piscina, como não empurrar outras pessoas na água e evitar o sistema de drenagem. “Houve uma melhoria significativa na compreensão dos riscos quanto a esse sistema, aumentando de 77,2% para 99,1% em 2024. Quanto ao salto mortal na água, os alunos mais velhos mostraram maior consciência dos perigos, após serem instruídos sobre os riscos de lesões cervicais e tetraplegia. O projeto também teve impacto fora da escola, com os estudantes se tornando multiplicadores de informação sobre segurança aquática em suas famílias e comunidades”, completou o professor Marcelo Barros.


Por Claudia Sanches

Instituto de Aplicação Fernando Rodrigues da Silveira (CAp-Uerj)
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Fotos cedidas pela escola 


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