A importância do contato com a natureza na educação infantil
Por Jamira Rocha*
Nos últimos anos, o contato com a natureza na Educação Infantil tem sido cada vez menos valorizado. Isto porque a ascensão de novas tecnologias e a utilização das telas têm ganhado o foco das crianças e das instituições de ensino. Por outro lado, embora o avanço tecnológico traga diversos benefícios para o processo de aprendizagem, também podem ser observadas adversidades provenientes do distanciamento da natureza.
Para se ter uma ideia, de acordo com a última edição do “Relatório Guia Edutec – Diagnóstico do Nível de Adoção de Tecnologia nas Escolas Públicas Brasileiras”, divulgado em dezembro de 2022, mais de 80% dos entrevistados afirmaram que a tecnologia tem um impacto positivo nos processos de ensino e aprendizagem. Ainda segundo a pesquisa, as inovações tecnológicas estão levando melhorias à qualidade das práticas pedagógicas e contribuindo para a igualdade na educação.
Entretanto, o recente relatório divulgado pela Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura) apresenta um contraponto. Segundo a instituição, aproximadamente 14 países ao redor do mundo enfrentam problemas de distração e um impacto negativo na aprendizagem devido à proximidade constante com dispositivos móveis nos colégios.
Diante deste cenário, o conceito de “desemparedamento da infância” tem se destacado ao fomentar a conexão das crianças com a natureza. Este vínculo se apresenta como uma ferramenta importante na busca por um processo de aprendizagem mais eficaz e um desenvolvimento saudável durante esta fase da vida. Além disso, quando associado às inovações tecnológicas, o conceito tem o potencial de aprimorar ainda mais o processo de aprendizagem dos estudantes.
Explorando a natureza e o mundo exterior
Em geral, o desemparedamento da infância permite a criação de memórias confortáveis durante o período de desenvolvimento das crianças, tornando-as mais autoconfiantes e destemidas, além de contribuir para o aprimoramento do convívio, respeito e percepção das diferenças e particularidades do outro.
Além disso, explorar a natureza permite que os pequenos levantem hipóteses sobre tudo o que veem. Na brincadeira de investigar, aprendem, na prática, sobre qualquer assunto que desejam descobrir, sem que haja a necessidade de cumprir um cronograma estabelecido e rígido, e, no dia a dia, participando das experiências propostas tendo como base os seus interesses.
A partir deste contato próximo com a natureza, as crianças também sentem e percebem as modificações que ela sofre, como as mudanças das folhas em uma mesma árvore, mas em estações diferentes, as sensações que a grama provoca em variados momentos do ano ou, até mesmo, em quais horários do dia é possível encontrar determinados animais.
Nesse sentido, apenas o fato de a criança viver experiências sensoriais sem o uso das telas, algo tão presente e enraizado na rotina, já diminui consideravelmente o estresse e provoca prazer.
Como ampliar o contato com a natureza na Educação Infantil
Certamente, o ambiente é um fator determinante para o processo de aprendizagem dos pequenos. Ao realizar atividades ao ar livre e explorar a natureza de maneiras variadas, a criança também se sente livre. Nesse sentido, cabe à escola propor iniciativas como desenhos livres e de observação, pinturas, atividades de expressão corporal, brincadeiras no parque, caças ao tesouro com elementos naturais, entre outras ações.
Por meio da observação do ambiente, da escuta ativa, das perguntas e dos interesses que surgem durante a jornada, as crianças tecem diversas curiosidades, e os educadores podem aproveitar para explorar, junto a elas, os conceitos que já conhecem. Além disso, as famílias podem pesquisar e auxiliar nesta investigação.
De certa forma, a escola não deve buscar o tempo cronológico, mas a duração da curiosidade e da investigação, propondo a contemplação, o encantamento e a espera, contribuindo para uma formação integral das crianças e tornando-as mais empáticas, solidárias, participativas e expressivas, a fim de instigar um posicionamento diante das situações cotidianas com mais autonomia e segurança.
Com base no conceito exposto, é possível formar adultos social e ambientalmente responsáveis, com senso de justiça e capazes de acolher as diferenças e individualidades do outro.
Em um mundo cada dia mais individualizado, é imprescindível que as pessoas defendam suas opiniões e, ao mesmo tempo, respeitem a visão do outro e compreendam que fazem parte de uma sociedade na qual os diferentes interesses são igualmente importantes. Para isso, é fundamental que a educação seja baseada em um conceito que determine o papel crucial da natureza neste processo.
*Jamira Rocha é Coordenadora Pedagógica da Unidade de Palmas da Rede de Colégios Santa Marcelina, instituição que alia tradição a uma proposta educacional sociointeracionista e alinhada às principais tendências do mercado de educação.
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