Nomes exóticos de verbos conhecidos

Por Sandro Gomes*


orações subordinadas

Em geral os estudantes de Língua Portuguesa estão habituados, quando se trata de verbos, a ouvir nomes como transitivo, intransitivo, bitransitivo, irregular, de ligação etc. No entanto, há outras nomenclaturas menos empregadas e que podem assustar alguns à primeira vista. Porém se trata de nomes atribuídos a tipos verbais que são usados no dia a dia e com os quais estamos bastante familiarizados. Quer ver como você os conhece?  

Verbos Vicários  

A palavra latina vicarius significa “fazer a vez de” ou “substituir”. E é exatamente isso o que ele faz nas orações em que aparece: substitui um verbo já mencionado anteriormente, impedindo que haja uma repetição indesejável num texto que se pretenda escrito na norma culta da língua. Veja exemplos.  

Íamos convidá-lo a participar, mas não convidamos. 

Íamos convidá-lo a participar, mas não o fizemos. 

No primeiro exemplo repetimos na segunda oração o verbo “convidar”. No segundo, utilizamos o verbo “fazer” com função vicária. Não soa mais agradável?  

Verbos Tritransitivos 

Trata-se de uma nomenclatura defendida por alguns autores para expressar formas verbais a partir das quais várias ideias se desenrolam numa oração. Vamos ver um exemplo? 

Aquele professor traduziu Aristóteles do grego para o português. 

Repare que o verbo “traduzir” pede inicialmente um complemento direto (quem traduz, traduz alguma coisa). Mas no contexto dessa oração há alguns desdobramentos. Quem traduz um texto o faz a partir de uma língua e, por consequência, o converte em outra. É como se tivéssemos a seguinte sequência de ideias. 

Traduzir (o texto), de que idioma? (o grego), para qual outro? (o português) 

Apesar de do grego para o português exercer a função sintática de adjunto adverbial, essa figura só aparece na oração a partir de um desdobramento da ideia central sugerida pelo verbo “traduzir”. Daí alguns autores proporem a nomenclatura de tritransitivos. 

Verbos Modais  

Chamam-se modais os verbos que participam de locuções, atenuando ou enfatizando uma ação verbal. Repare o exemplo.  

As pessoas de bem querem apoiar a nossa causa. 

Nessa oração aparece a locução verbal “querem apoiar”. “Apoiar” exerce a função de verbo principal e “querer” desempenha a função modal. Repare na característica de que é ele que se flexiona, enquanto o principal permanece no infinitivo: queriam apoiar, quiseram apoiar, queriam apoiar etc.  

Verbos Defectivos  

Os defectivos são aqueles verbos que não são conjugados em algumas formas, sendo, assim, uma modalidade de verbos irregulares. Interessante notar que os defectivos sempre apresentam todas as formas nos pretéritos e no futuro. Acompanhe alguns exemplos.  

Abolir – tu aboles, ele abole, nós abolimos, vós abolis, eles abolem. (Não há a 1ª pessoa do singular no presente do indicativo)  

Falir – no presente do indicativo só é conjugado na 1ª e 2ª pessoas do plural: nós falimos, vós falis. Nas demais não há conjugação.  

Viger – só se conjuga nas formas em que depois do “g” vem a vogal “e”: vigem, viges, vigendo etc. Não existe eu vigo, por exemplo.  

Verbos Anômalos  

São também uma modalidade dos verbos irregulares e caracterizam-se por serem conjugados de forma tão irregular que chegam a apresentar mais de um radical, segundo o tempo ou a pessoa. Veja algumas formas dos verbos abaixo.  

Ir – eu vou, eu fui, tu fostes, vós ireis, ide vós etc.  

Ser – eu sou, ele é, nós fomos, vós sereis, vós fôreis, sido etc.  

Apesar de aparentemente exóticos, estamos falando de usos muito comuns da língua, e o estudante, que normalmente se vê às voltas com estas terminologias, pode ter a certeza de que, com um pouco de calma e estudo, vai tirar mais essa de letra. Até a próxima, pessoal! 


*Sandro Gomes é graduado em língua portuguesa, literaturas brasileira, portuguesa e africana de língua portuguesa, redator e revisor da Revista Appai Educar, escritor e Mestre em Literatura Brasileira pela Uerj. 


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