Cultura indígena nas escolas
Entenda a importância para a educação, para a formação dos estudantes e descubra como abordar a temática durante todo o ano letivo
É inegável que o nosso país é muito diverso e extremante rico culturalmente e historicamente! Por isso, é tão importante ensinar toda a nossa história desde os anos iniciais da escola. Assim os pequenos se tornam cidadãos mais conscientes e aprendem a entender e valorizar as diferenças. Na matéria de hoje vamos falar sobre a cultura indígena, um tema que precisa ser debatido durante todo o ano letivo, não somente em datas comemorativas. Para isso, conversamos com a professora de história da rede de Colégios Santa Marcelina de Belo Horizonte, Soraya Tatiana Bonfim França. Confira!
Primeiro, é importante pontuar que a educação escolar indígena é aquela que as secretarias de educação dos estados oferecem às comunidades indígenas e que se constitui de conhecimentos gerais, tanto indígenas quanto não indígenas, devendo estar totalmente alinhada com a língua, a cultura e o costume da etnia em questão. “A formação de professores para esse tipo de educação escolar é bastante específica e o currículo proposto precisa garantir todas as aprendizagens necessárias à essas populações, de tal modo que ao mesmo tempo que ela respeita singularidades, também permita reverter a situação de exclusão histórica imposta por tanto tempo aos povos originários”, explica Soraya Bonfim.
Já o fato de ensinar história e cultura indígenas nas escolas, relaciona-se a incluir estratégias pedagógicas nos currículos escolares que colaborem para o reconhecimento do valor das culturas indígenas, a superação de preconceitos e a definitiva inserção dos povos originários à sociedade brasileira. “De tal forma que os indígenas possam estar aldeados e/ou vivendo nas cidades, trabalhando na terra em suas comunidades ou exercendo as mais diversas profissões em nossos centros urbanos, natural e organicamente, sendo ensinados e ensinando, trocando saberes, totalmente reconhecidos em seus direitos constitucionais e sem qualquer estranhamento diante disso”, pontua a educadora.
Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional
O estudo da história e da cultura indígena e afro-brasileira se tornou obrigatório nas escolas de ensino fundamental e médio a partir da Lei nº11.645, de 10 de março de 2008. Essa lei traz novas diretrizes curriculares para promover uma formação da população brasileira no sentido do reconhecimento da importância dessas etnias na constituição da cultura e do povo brasileiro e da inserção, de forma cada vez mais natural e orgânica, desses sujeitos históricos na sociedade brasileira. De acordo com Soraya, apesar da obrigatoriedade imposta pela lei ter proporcionado algum avanço no desenvolvimento desse tema na escola – os livros didáticos abordam uma quantidade significativa de literários e paradidáticos têm sido lançados – ainda há muito o que se fazer.
Valorização e preservação das tradições no contexto educacional
Quando falamos sobre a importância de conhecer e valorizar os saberes e as tradições indígenas, a especialista aponta, em primeiro lugar, na desconstrução de um estereótipo sobre os povos originários e na superação de uma visão fossilizada desses agentes históricos. “A história dos povos originários nos foi contada a partir de uma visão eurocêntrica da história e nós precisamos contá-la a partir deles mesmos, de suas culturas diversas e ancestrais, para além da história única contada do ponto de vista do colonizador, que é aquela que a maioria de nós conhecemos e, equivocadamente, ainda consideramos completa e válida”, afirma Soraya.
Como inserir o tema no contexto educacional fora das datas comemorativas?
A educadora pontua que a diversidade cultural dos indígenas pode ser tratada fora do calendário de datas comemorativas por meio de um planejamento pedagógico com atividades diferenciadas, ao longo de todo o ano letivo, e que as escolas pensem em um percurso de aprendizagem significativo. Como, por exemplo, iniciar resgatando as etnias locais, sua história e cultura, passar por uma investigação familiar que buscasse um antepassado de origem indígena, promover uma visita a campo que permitisse experienciar o modo de vida dos indígenas locais e que recolhesse relatos orais, já que a oralidade tem lugar central na transmissão de conhecimentos entre esses povos. “Ou ainda trabalhar as narrativas míticas e as lendas. Não há limites quando estimulamos a curiosidade e a criatividade. Assim, a culminância desembocaria, como os rios, em numa infinidade de possibilidades”, afirma.
A professora ressalta ainda que o dia 19 de abril não é mais o Dia do Índio, mas sim o Dia dos Povos indígenas, desde a Lei nº 14.402/22. “Vale destacar que essa informação faz parte desse processo de desconstrução do qual falei anteriormente, em que não há só um grupo indígena no Brasil e sim uma diversidade de povos originários. Desta forma, a mudança do termo índio, que sugere aquele indivíduo estigmatizado, batizado assim pelo colonizador interessado no comércio com as Índias, também ressignifica essa data e as reflexões/ações que ela se propõe a promover”, explica Soraya.
Ela destaca ainda que a ancoragem desses projetos na realidade social promoveria um maior engajamento dos estudantes e, portanto, propiciaria a construção de uma aprendizagem significativa que transforma o aprendente e, esse sujeito transformado, potencialmente se torna uma agente de transformação na sociedade.
Por Jéssica Almeida
Fotos: Banco de imagens gratuitas do Pexels.
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