A importância da mulher brasileira em números
Elas são 51,7 da população brasileira contra 48,3% dos homens, formando assim um contingente de mais de 100 milhões de pessoas. Se em 1980 eram apenas 753 mil mulheres a mais que os homens, hoje elas têm a vantagem de 6,3 milhões. Além disso estão à frente de quase 30 milhões de famílias do país. Essa importância da mulher é incontestável e, já que revelada pelos números, merece ser compreendida mais a fundo com a ajuda das estatísticas. Vamos a elas como forma de celebrar esse Dia Internacional da Mulher.
O primeiro número que podemos citar é o de mulheres no mercado de trabalho, setor em que elas têm sem dúvida se destacado, mas ainda estão longe de uma representatividade numérica. Uma pesquisa do IBGE realizada em 2015 mostra que elas constituem aproximadamente 40% dos trabalhadores do país, uma participação bastante significativa se levarmos em conta que por muitos anos vigorou entre nós a cultura de que o trabalho era tarefa do homem da família.
Mas essa chegada em massa das mulheres ao mercado de trabalho ainda é muito pouco valorizada do ponto de vista qualitativo. Basta ver que ocupam não mais que 19% dos cargos de liderança nas empresas, 16% dos cargos em conselhos, 26% dos cargos de direção e 23% desempenham o posto de vice-presidentes de corporações ou de órgãos públicos. No setor privado essa diferença é mais visível, o que pode ser constatado a partir da informação de que apenas 13% das mulheres desempenham funções de CEO em grandes empresas.
Jornada dupla
Essas diferenças na distribuição das mulheres nos setores administrativos se refletem obviamente na questão salarial. Em média, elas recebem 20% menos de salário para desempenharem as mesmas funções que os homens, uma clara – e ilegal – deturpação. A situação fica ainda mais delicada se considerarmos que ainda há, para a maioria das mulheres, a figura da jornada dupla.
Apesar da grande participação das mulheres como provedores da economia doméstica ao lado e, em muitos casos, sem os homens, elas ainda aparecem mais relacionadas às tarefas da casa, como cuidar dos filhos, cozinhar e tratar da limpeza. Mesmo com a melhora na divisão do trabalho – com os homens também desempenhando tarefas “do lar” –, a cultura de igualdade ainda não está totalmente assimilada nos lares brasileiros.
E ainda há o fato de que a jornada das mulheres em muitos casos é tripla, pois muitas delas ainda desempenham outras atividades em outros turnos – sejam profissionais ou indiretamente relacionadas ao trabalho, como a formação técnica, por exemplo –, sem deixarem o compromisso com a casa e os filhos.
Invadindo a área dos homens
As muitas modificações no mercado de trabalho envolvendo as mulheres também apresentam aspectos muito positivos, como por exemplo o fato de muitos tabus estarem sendo quebrados, com a chegada delas a profissões tradicionalmente praticadas pelos homens. Um dos setores onde é possível perceber isso é a indústria mecânica e automotiva. Nos últimos anos tem crescido muito o interesse das mulheres em funções como manutenção, conserto e montagem de automóveis. Considerando que elas são metade dos portadores de carteira de habilitação no Brasil, nada mais natural!
Outra área em que elas têm chegado com tudo é tradicionalmente associada ao machismo. Nas últimas duas décadas cresceu enormemente o interesse das mulheres em fazer parte das forças armadas, das polícias e dos corpos de bombeiros do país. Na Aeronáutica, por exemplo, a participação delas na corporação aumentou desde 2003 – acreditem – em 277%. Elas já ocupam quase 15% do efetivo dessa força. E nada sugere que essa participação não continuará crescendo.
Ponto fora da curva
A exceção nesse processo de invasão feminina a áreas tradicionalmente masculinas é a representatividade na política. Elas são apenas 77 parlamentares num universo de 513 representantes da população. Apenas 4 delas presidem alguma das mais de 20 comissões permanentes que hoje estão formadas na Câmara e apenas 11 fazem parte de mesas diretoras.
Uma situação que poderá mudar com a aprovação da Emenda Constitucional nº 97, que prevê uma espécie de sistema de cotas para as mulheres. Segundo deliberado já para as próximas eleições municipais, cada partido deverá apresentar pelo menos 30% de candidaturas para elas, um bom avanço se levarmos em conta que no passado houve coligações que não tiveram mais que 10% de mulheres como pleiteantes a cargos de eleição.
Enfim, elas chegaram pra valer na sociedade brasileira e devem ir ainda muito mais longe. Segundo meta assumida pelo Brasil frente a seus parceiros do G-20 (o grupo das maiores economias do planeta), a desigualdade de gêneros deve ser reduzida em 25%. Se você acha pouco, saiba que, se isso se concretizar, algo em torno de 190 milhões de mulheres deverão estar no mercado de trabalho, o que deverá significar uma inserção de quase 6 trilhões de dólares na economia mundial. E nada indica que o Brasil estará de fora desse quadro.
Clique para ler, “O que o mundo patriarcal de hoje tem a aprender com a força do feminino”.
Por Sandro Gomes | Professor, escritor, mestre em literatura brasileira e revisor da Revista Appai Educar.