Revivendo Freinet na Formação Docente

Educadora revitaliza método para aprimorar a capacitação de futuros professores


Todos os anos a professora Verônica Carreiro, que leciona disciplinas pedagógicas no Instituto de Educação Rangel Pestana, em Nova Iguaçu, realiza o projeto Livro da vida, com as turmas do segundo ano do Curso Normal. Com quatro décadas de docência, Verônica explica que o “livro da vida” – técnica de ensino criada pelo pedagogo Célestin Freinet no século XIX – é contextualizado e atual.  Segundo a idealizadora do projeto, o educador francês acreditava em um sistema democrático de educação, cujo objetivo era desenvolver uma escola popular. Para ele, as instituições tradicionais eram contrárias à descoberta e ao prazer da criança enquanto ser único e curioso.

O trabalho é proposto às turmas do Curso Normal todos os anos desde 2005. A iniciativa surgiu com o objetivo de mostrar como os futuros docentes podem executar a proposta pedagógica juntamente aos alunos. O projeto visa desenvolver competências e habilidades necessárias para aplicar a teoria quando estiverem atuando como docentes. O resultado principal esperado é que o estudante “aprenda fazendo” registros de vivências.

De acordo com a docente, a proposta é lançada no início dos anos letivos e cada integrante das turmas envolvidas fica encarregado de escrever o que acontece durante as aulas, numa espécie de relatório, registro de suas impressões, em formato de um portfólio. A organização da escolha dos alunos escribas se dá por ordem alfabética. A ideia é que o produto final possa ser bonito. Durante o processo, os estudantes são incentivados a ilustrar o “livro da vida” com desenhos, recortes, pinturas, letras de músicas, poesias de suas autorias, caricatura, entre outras formas de expressão. “Faço uma correção dos textos, pego um caderno de meia pauta e peço para passarem a limpo. Eles escolhem o material que vão ilustrar e inclusive confeccionam a capa”, explica.

A equipe pedagógica também favorece o projeto. Ana Paula Barbalho, que também leciona disciplinas pedagógicas no instituto, teve oportunidade de conhecer o projeto como pedagoga e mãe, e acredita que o trabalho tem tido bons rendimentos. “A atividade pedagógica proposta pela Verônica há anos nas suas turmas do Curso Normal é de um valor inestimável! Neste livro os alunos constroem, de forma prazerosa, a identidade individual e de grupo, fundamental para o desenvolvimento infantil. Os registros gradativos das tarefas diversificadas permitem aos pais e alunos perceberem sua evolução nos aspectos cognitivos, psicomotores, afetivos e sociais, além de ser inclusivo. Tive a oportunidade de receber o ‘livro da vida’ da minha filha para acompanhar. Vi toda a evolução dela e dos amigos da turma”, relata Ana Paula, emocionada.

A professora Verônica considera que as atividades em conjunto preparam melhor as novas gerações para os desafios de sala de aula: “Seria fácil se eu simplesmente explicasse o que era o ‘livro da vida’, mas eu quero mostrar como eles poderiam aplicar nas salas de aula. Nossos alunos vão trabalhar com a Educação Infantil e séries iniciais, e acho fundamental apresentar como essa teoria é aplicada e para quê. Os relatos diários estimulam a liberdade de escrever e de se expressar. Os estudantes se sentem protagonistas do processo de construção de nosso livro”.

 

Experiência única

Foi uma experiência que marcou a vida de muitos estudantes como da ex-aluna do instituto, Clara Gomes. Ela participou da confecção da primeira edição no ano de 2005. “Pra mim foi muito gratificante, porque a turma toda abraçou essa causa e, como eu tenho um exemplar dele, ficou até como uma recordação maravilhosa. Quando eu sinto saudade, vou lá e leio o que cada um escreveu. É muito bom quando um professor aplica algo tão significativo. Agradeço à Verônica por sempre buscar meios de nos unir e de nos fazer descobrir a visão do outro”.

No final do ano as turmas fazem o lançamento do livro e todos os alunos querem participar. Não há avaliação, mas uma confraternização com convite formal aos familiares e comunidade escolar. O livro, que era sorteado pelas redes sociais, agora é entregue, também por sorteio, a um aluno no dia da apresentação. Ao longo dos anos a direção sempre apoia o trabalho, cedendo direitos de imagem dos estudantes e fornecendo material. O projeto é um exemplo tão inspirador que foi utilizado por um professor de história da rede estadual, Luiz Nolasco, em seu curso de pós-graduação.

A aluna Vitória Tavares, que fez parte do último projeto Livro da vida em 2023, chama atenção para a possibilidade de sair do cotidiano e trabalhar a realidade. “Adorei participar da atividade, foi uma experiência bem diferente. O interessante é que ele fazia todos saírem um pouco da rotina de teorias. Acho que isso podia se repetir mais vezes e em mais escolas, por ser um trabalho que proporcionou momentos e memórias para todos da turma”.

“É gratificante poder registrar o dia a dia da sala de aula, é uma forma de eternizar as memórias do segundo ano de formação de docentes. A participação dos alunos, as conversas com a professora e as atividades com as turmas vão muito além do que está no livro, mas poder contar um pouco da nossa rotina já é maravilhoso”, afirma outra aluna da mesma turma, Helena Ramos, que adorou fazer parte de um projeto que retrata histórias sobre as suas rotinas.

Já Nayara Góes adorou trabalhar com arte e fez resgate de memórias da infância. “Foi uma experiência muito interessante, porque pude fazer as atividades de colagem em conjunto com minha turma, o que me fez lembrar de quando era criança e fazia esses trabalhinhos na educação infantil”.

De acordo com o diretor Rodrigo de Almeida Silva, a prática documental é de grande relevância para o exercício da profissão e favorece a excelência na formação dos futuros professores. “O Livro da vida colabora para um olhar atento no processo avaliativo na prática da docência. Entre outros benefícios está a perspectiva colaborativa, já que se aprende a valorizar as múltiplas vozes na comunidade escolar. As atividades contribuem também para o desenvolvimento de produções escritas, melhorando a linguagem e a autonomia dos estudantes em formação, porque eles são responsáveis por contribuir e manter os registros. Assim formamos o que nos propomos, novos professores com consciência crítica de seu papel na sociedade”, finaliza.


Por Claúdia Sanches

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