Uma identidade puxa a outra

Narrativas pessoais ganham vida e se transformam em livro de memórias


Seja em qualquer ciclo de aprendizagem, a abordagem do tema identidade é fundamental para entender não apenas o percurso acadêmico dos alunos, mas também suas histórias de vida e as complexidades que moldam suas trajetórias. No campo da Educação de Jovens e Adultos (EJA), não é diferente. Nessa trilha de aprendizagem, o projeto Identidade na EJA, realizado na escola Municipalizada Ciep 360 – Professora Iara Simão Vieira, localizada em Nova Iguaçu, exemplifica como a interdisciplinaridade pode ser aplicada de maneira eficaz e transformadora no contexto educacional.

Ao iniciar o projeto, proposto pela prefeitura, a professora de Língua Portuguesa e Mestre em Educação Renata Felício Maia não apenas estabeleceu uma conexão emocional com os alunos através de uma narrativa pessoal sobre a própria experiência de vida, como também criou um espaço de confiança para que compartilhassem suas próprias histórias e vivências através da escrita com a produção de redações.

 

Reflexão sobre memórias afetivas

Renata iniciou o projeto contando a história sobre sua própria trajetória como aluna da rede pública de educação e ex-moradora da Favela do 777, em Padre Miguel, filha de costureira e de um pai motorista de caminhão. A partir dessa identificação e pertencimento social criado a partir da narrativa pessoal da professora, os alunos sentiram-se motivados a relatar um pouco de sua história de vida, o que deu início à redação sobre a infância, adolescência e fase adulta dos alunos da EJA.

Utilizando o referencial teórico de Olga Pombo sobre a interdisciplinaridade, Renata buscava que os alunos compreendessem que, com estudo e determinação, é possível alcançar os objetivos e sonhos. “Além da escrita, diversas atividades foram realizadas para promover a reflexão sobre memórias afetivas e experiências pessoais dos alunos”, entre elas, rodas de conversa foram conduzidas para estimular o diálogo e o compartilhamento de vivências”, destaca a professora.

 

O resgate da identidade nas memórias

Como parte das metodologias e atividades realizadas entre as turmas, um projeto de resgate de jogos da infância foi desenvolvido em parceria com outras disciplinas como Educação Física, Ciências, Artes, História, Geografia e ILPT, de forma interdisciplinar. Essas atividades visavam não só estimular a escrita, mas também proporcionar uma reflexão mais profunda sobre as histórias de vida dos alunos. Segunda Renata, a proposta de escrever sobre infância, adolescência e fase adulta foi bem recebida pelos estudantes da EJA. “Eles se sentiram valorizados por alguém se interessar por suas vidas, dentro e fora da escola. Esse resgate da memória promoveu um sentimento de reconhecimento e pertencimento, resgatando a autonomia dos alunos, conforme preconizado por Paulo Freire”, afirma.

O que era inicialmente apenas escrita, redações, conversas, foi ganhando forma e se transformando em um livro de memórias. Segundo os alunos, durante o processo de escrita e publicação do livro “Memórias da EJA – minha história, minha vida”, a professora Renata Felício Maia desempenhou um papel fundamental, ao facilitar o processo de escrita, tranquilizando os alunos sobre a produção textual e estimulando-os com histórias reais de luta e superação.

Legenda: Aluno João Carlos

É o que afirma João Carlos dos Santos Ferreira, aluno da EJA da turma 2.022, que fez questão de deixar registrada a sua gratidão em ter tido a oportunidade de participar do Projeto Identidade. “Eu fico muito feliz com a atenção com que todos os professores e a direção da escola me trataram, de forma humana e carinhosa, me valorizaram totalmente e pude escrever um capítulo do livro contando sobre a história da minha vida. Isso me marcou muito, pois pude lembrar de tudo o que passei em minha vida até chegar aqui. Hoje estou fazendo um curso no Senai de eletricista de obra, porque cursei a EJA.  Agradeço tudo o que fizeram por mim, em especial por eu ter escrito um livro, nunca esquecerei desse fato em minha vida”, relembra o ex-aluno emocionado

O empenho da mestra, culminou na iniciativa pessoal de publicar o livro com recursos próprios e promover a doação de exemplares para os alunos da EJA, sem falar na contribuição para a valorização da produção textual dos estudantes e para a disseminação de suas histórias. “Em nenhum momento a secretaria de educação de Nova Iguaçu, na gerência da EJA, sugeriu a produção de livros, só pediram que fizéssemos atividades relacionadas ao tema proposto. A ideia do livro foi exclusivamente minha por ser escritora”, deixa claro a professora. “A cada exemplar vendido, um outro era doado para os alunos que participaram do processo de produção, proporcionando-lhes acesso à sua própria história”, explica Renata.

Legenda: Livros escritos pela autora

 

Identidade inclusiva

O projeto Identidade na EJA, na escola Municipalizada Ciep 360 – Professora Iara Simão Vieira é um exemplo inspirador de como a interdisciplinaridade pode ser aplicada para promover uma educação mais inclusiva e significativa. Ao valorizar as histórias e experiências dos alunos, não apenas enriqueceu-se a compreensão sobre suas identidades, mas também se fortaleceu o vínculo entre eles e a escola, como em um quebra-cabeças unindo combinação de narrativas pessoais, teoria acadêmica e reflexão crítica, a fim de enriquecer a compreensão dos alunos sobre si mesmos e seus papéis na sociedade, evidenciando que cada história importa e que todos têm o potencial de alcançar seus sonhos.


Por Antônia Lúcia

Escola Municipalizada Ciep 360 – Professora Iara Simão Vieira
Rua Bege, s/nº – Dom Bosco – Nova Iguaçu/RJ
CEP: 26295-078
Tel.: (21) 2686-3213
Professora Renata Felício Maia


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