A psicomotricidade e a motivação do aluno através do corpo em ação buscando a emoção

Fátima Alves


O corpo leva à intenção. Intenções informadas pela mente, reconhecidas pelo cérebro, que leva à interação com o mundo, através dos sentidos e manifesta-se, utilizando o corpo como um instrumento. A corporeidade se evolui por etapas, conforme o crescimento cronológico. Por isso a importância das vivências. É através delas que cada sujeito se torna experiente, habilidoso, sendo determinante para a estruturação neuropsicomotora. O treinamento corporal é um facilitador para a qualidade da corporeidade. Corporeidade é levar a sentir, pensar e agir, levando à transformação do sujeito diante daquilo que vivencia e aprende. Aprender de corpo inteiro leva o sujeito a se construir, a ter desejos e trabalhar seu processo criativo. Corporeidade é a essência dos corpos, é utilizar os espaços e levar ao movimento. O que facilita sua motivação para realizações. O aluno motivado demonstra, através de suas ações motrizes e psíquicas, a afetividade, seus sentimentos. As partes-motriz, referentes ao movimento e psíquica, determinante nas atividades socioafetiva e cognitiva, constituem o processo de desenvolvimento integral da criança.

A ação psicomotora será trabalhada através de dois conceitos básicos para que a criança se desenvolva de forma mais plena. Esses conceitos precisam atuar para mostrar a funcionalidade do corpo em movimento, dando à criança a oportunidade de conhecer a melhor forma de utilizá-lo. Dando harmonia a cada movimento e dessa forma facilitando a apreensão de cada funcionalidade como o esquema corporal, a lateralidade, a orientação e estruturação espaçotemporal, o ritmo, a postura, a percepção, a coordenação, o tônus, o equilíbrio, a respiração, o relaxamento. O outro conceito é o relacional, que leva a criança a se utilizar através de si própria em busca de uma afetividade ou não, consigo e com o outro. Aprender a dialogar com o seu corpo e entender o diálogo corporal do outro. Os conceitos relacionais facilitam a relação entre esses corpos e facilitarão a aprendizagem e a apreensão da expressão, da comunicação, do limite, da agressividade, da afetividade e da corporeidade. O corpo é uma forma de expressão da individualidade. A criança percebe-se e percebe as coisas que a cercam em função de seu próprio corpo. Isto significa que, conhecendo-o, terá maior habilidade para se diferenciar, para sentir diferenças. Ela passa a distingui-lo em relação aos objetos circundantes, observando-os, manejando-os. As possibilidades de convivência e partilhas levam ao crescimento nas dimensões afetiva, motora e intelectual de cada criança. Por isso a necessidade de entender como ela internaliza o conhecimento e assim desenvolve suas funções intelectuais superiores.

A psicomotricidade auxilia a criança na sua capacidade de locomoção de forma mais autônoma e está relacionada com a maturação neurológica, permitindo à criança movimentos mais complexos, o crescimento e o domínio corporal, que permitirão maior possibilidade, disponibilidade para realizar atividades motoras. Os movimentos aprendidos e apreendidos permitirão à criança construir instrumentos interiores, primeiro de modo inconsciente e depois conscientemente. É fundamental que todos saibam que esta fase é a mais decisiva da vida de toda criança porque a fará agir, apreender, descobrir, inventar, criar, perguntar, resistir, refazer, dominar, aprender, retrucar e socializar-se com o mundo que a cerca e o mundo externo. Isso é crescimento, aprendizagem e desenvolvimento de forma mais abrangente e eficiente. A psicomotricidade não deseja ser exclusiva nem pretende solucionar todos os problemas surgidos e os que podem surgir. Ela necessita da evolução cognitiva, intelectiva, expressiva e motora. Existe um simbolismo com a intervenção e a mediação dos gestos, a importância do diálogo tônico, das habilidades motoras, das posturas por meio dos movimentos, a comunicação mediante a fala através das palavras que ajudam e são capazes de modificar toda uma conduta.

Pensando socialmente, o desenvolvimento humano é construído por instrumentos e signos, que servem de mediação na relação da criança com o mundo, através das trocas, de interação e mediação, considerando as estruturas biológicas. A aprendizagem, que está presente na vida da criança desde o nascimento, faz com que ela adquira informações, habilidades, atitudes, valores, a partir de seu contato com a realidade, o meio ambiente e as outras pessoas.

A cada movimento realizado através dos padrões motores, a criança articula a afetividade, desejos e suas possibilidades de comunicação, levando-a ao entendimento de distintos e variados campos, que norteiam sua aprendizagem. É importante salientar que a psicomotricidade, uma ação do sistema nervoso central, cria uma consciência sobre os movimentos, não estando apenas vinculada a correções débeis, já que também deve ser utilizada como ajuda na formação da criança. Importante também na educação infantil, sobretudo na primeira infância, já que a criança busca experiências em seu próprio corpo, formando conceitos e organizando o esquema corporal.

Cada movimento deve motivar a criança e proporcionar uma capacidade sensorial através das relações entre o corpo dela e o do outro ou com os objetos que a rodeiam, fortalecer a percepção através do conhecimento de cada movimento e compreender o porquê da resposta corporal fornecida por aquele movimento. Os sinais, os símbolos, a utilização de objetos reais e imaginários, fazem a criança organizar, descobrir e expressar suas capacidades representativa e expressiva e dessa forma facilitar a ampliação e valorizar sua identidade e a autoestima, criando segurança e consciência do seu espaço e do outro, identificando-se como um ser valioso. A psicomotricidade desenvolve a motricidade através de atividades onde são utilizados os elementos básicos, como esquema corporal, lateralidade, orientação temporal, estruturação espacial, ritmo, postura, tônus, os quais levam a criança a reconhecer e dominar seu próprio corpo, constituindo o seu desenvolvimento global e uniforme para facilitar a aprendizagem, as noções de tempo e espaço, conceitos, ideias e, se o desenvolvimento psicomotor da criança for mal constituído, acarretará prejuízos na aprendizagem através da escrita, leitura, direção gráfica, no pensamento abstrato e lógico, entre outros.

A escola tem e pode ter um papel fundamental neste processo principalmente quando a educação psicomotora for trabalhada nas séries iniciais, como mencionei acima. Não se pode negar que a psicomotricidade levará a criança a compreender e se conscientizar de cada ação construída em função de um objetivo. A escola também tem que estar ciente de que a criança precisa passar por todas as etapas do desenvolvimento, as quais irão transformar cada movimento num comportamento significante, base indispensável para seu desenvolvimento motor, afetivo e cognitivo. Os jogos, as atividades lúdicas podem ser utilizadas para oportunizar à criança desenvolver suas aptidões perceptivas. Seria interessante que todos os educadores tivessem como alicerce para as suas atividades a psicomotricidade. Dessa forma a jornada acadêmica poderia ser através de atividades psicomotoras para serem trabalhadas as habilidades de cada criança. Tais como:

– Atividades para esquema corporal: mímica, escultura, desenhar, pintar ou montar partes do corpo.

– Atividades de coordenação motora global: andar, rolar, engatinhar, relaxar, correr, chutar bolas.

– Atividades de coordenação motora fina: modelar, rasgar, amassar, recortar, colar, pintar.

– Atividades de orientação temporal e espacial: atividades rítmicas, andar de olhos fechados, arremessar e quicar bolas, andar sobre linhas em várias direções, andar entre objetos.

– Tipos de jogos: de perseguição, funcionais (exercícios de repetição realizados com o próprio corpo, como mexer as mãos, balançar a cabeça ritmadamente, passar objetos de uma mão para a outra), jogos simbólicos (de imitações de objetos, de papéis adultos, de animais).

– Sugestões interessantes para ajudar no desenvolvimento da criança: engatinhar, rolar, balançar, dar cambalhotas, se equilibrar em um só pé, andar para os lados, equilibrar e caminhar sobre uma linha no chão e materiais variados (passeios ao ar livre), subir/ descer, entre outras. Pode-se afirmar, então, que a recreação, através de atividades afetivas e psicomotoras, constitui-se num fator de equilíbrio na vida das pessoas, expresso na interação entre cognição e corpo, a afetividade e a energia, o indivíduo e o grupo, promovendo a totalidade do ser humano.

O corpo em movimento leva ao desenvolvimento das funções mentais e sociais, facilitando a liberdade de realizar experiências com o corpo e assim aprender a construir de forma significante a relação, a comunicação e a aprendizagem. Um meio que pode ajudar bastante é o lúdico. O ideal seria ambientes constituindo um facilitador da vivência corporal para motivar a criança favorecendo sua integração e socialização e desenvolvendo suas capacidades psíquicas e motoras. A ludicidade é indispensável para levar a criança a se tornar ativa, dinâmica, significativa, motivante, construtora. E na Educação Infantil a psicomotricidade deve ser trabalhada constantemente, pois é o momento adequado para o desenvolvimento psicomotor. O brincar, na perspectiva psicomotora na Educação Infantil, contribui na formação corporal, afetiva e cognitiva e torna mais atrativa e eficiente o processo ensino-aprendizagem, provocando e desencadeando a realização de determinadas atividades. As atividades lúdicas são indispensáveis para a apreensão dos conhecimentos artísticos e estéticos, pois possibilitam o desenvolvimento da percepção, da imaginação, da fantasia e dos sentimentos. O movimento ajuda a criança a adquirir conhecimento do mundo que a rodeia através do seu corpo, das percepções e sensações. Sem dúvida nenhuma, este conhecimento estará ligado aos aspectos social, afetivo, motor, cognitivo, dando condições para se desenvolver no próprio ambiente.


*Fátima Alves é psicomotricista, socioterapeuta Ramain-Thiers, conselheira e ex-presidente da ABP (Associação Brasileira de Psicomotricidade).  Entre os livros lançados estão “Guia de psicomotricidade. Elos psicomotores que promovem vínculos afetivos entre as pessoas” e “A infância e a psicomotricidade”.


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