Educação para a empatia

Investir na formação de competências sociais desde a infância é essencial para o desenvolvimento saudável e bem-sucedido em diversas esferas da vida. Veja como aplicar o tema em sala de aula de forma eficaz e lúdica!


A empatia, habilidade intrínseca que se desenvolve na autoconsciência emocional, emerge como um pilar fundamental na configuração de uma educação que transcende a mera transmissão de conhecimentos. Na visão dos nossos especialistas, a empatia não apenas promove relacionamentos positivos, mas se torna a essência para moldar cidadãos compassivos e conscientes do impacto de suas ações. Este panorama abrange desafios na implementação da Educação para a Empatia, destacando a necessidade de treinamento para professores e a integração eficaz dessa abordagem ao currículo escolar.

Além disso, a Revista Appai Educar mostra nessa reportagem como a empatia se conecta intrinsecamente à inclusão, diversidade e à promoção de ambientes escolares mais justos. Ao explorar resultados e impactos, identificamos os benefícios tangíveis e intangíveis que essa abordagem proporciona, desempenhando um papel crucial na prevenção do bullying, na promoção do respeito à diversidade e na construção de uma sociedade mais igualitária.

 

Empatia: uma habilidade que se constrói diariamente

Sheyla Baumworcel, pedagoga e pós-graduada em psicopedagogia, autora de “O Livro da vida – pensar, sentir e se emocionar”, destaca a empatia como algo que se desenvolve

na autoconsciência emocional, sendo uma habilidade pessoal básica. Para ela, significa sentir as emoções do outro, sendo inata, mas necessitando ser desenvolvida com a prática, conforme Paulo Freire nos lembra: “Ao final de um processo de aprendizagem o que sobra é uma emoção”.

Segundo ela, além de promover relacionamentos positivos e criar um ambiente de aprendizagem favorável, a empatia na escola é fundamental para solidificar o olhar para o outro, capacitando os jovens a desenvolverem habilidades interpessoais valiosas e a cultivarem um respeito genuíno pela diversidade. “Ao abraçar a empatia como valor fundamental, a escola se torna um espaço não apenas para aquisição de conhecimento, mas também para a formação de cidadãos compassivos e conscientes do impacto de suas ações na vida dos outros”, frisa Sheyla.

No contexto da educação para a empatia, Baumworcel ainda destaca o autoconhecimento como o primeiro componente essencial. “Buscar o conhecimento interior significa compreender suas emoções, pontos fortes e fracos, necessidades e motivações”, ressalta esclarecendo que a empatia, oposta à antipatia, é a capacidade de sentir a dor do outro, podendo ou não incluir sentimentos, como a gentileza – que na visão da autora ocorre quando se pode ajudar com um lenço ou abraço – ou a compaixão, que se concretiza quando se é levado à ação, à atitude.

Educação para a empatia

Para Erika Neves, professora, psicóloga, Doutoranda em Psicologia, Mestre em Ciência da Educação e Especializada em Psicopedagogia, o desafio principal da educação para a empatia reside em ensinar o verdadeiro significado desses valores para toda a equipe escolar, indo além dos alunos. “É essencial evitar romantizar as ações empáticas, compreendendo que estamos envolvidos no desenvolvimento da inteligência emocional, saúde mental e habilidade de construir relações saudáveis”, enfatiza.

Erika explica que, uma vez consolidado o significado de empatia, o segundo desafio surge na formação escolar, que ainda prioriza a memorização de conteúdos e avaliações por meio de provas, criando um contexto competitivo. Desenvolver a noção de empatia em meio a esse ambiente é crucial, avalia a Mestre em Ciência da Educação, destacando também um terceiro desafio que é reconhecer a relevância dos temas de Educação Emocional, equiparando-os ao estudo de Linguagens e Ciências Exatas.

“Ao incorporar a educação para a empatia na escola, a conscientização deve abranger toda a comunidade escolar. Superar resistências de educadores, alunos e pais é possível quando se apresentam objetivos pedagógicos e são apontadas necessidades evidentes na rotina escolar. Toda restrição é vencida por uma proposta adequada que aborda problemáticas relacionais dentro e fora da sala de aula”, defende.

Luciana Cordeiro Felipetto, fonoaudióloga educacional pelo Conselho Federal de Fonoaudiologia, Mestre em Ciências da Educação, autora de “A descoberta do mundo das letras” e coautora de “Neurociência e saúde educacional: vencendo limites”, concorda que empatia é essencial no ambiente escolar. Até porque, de acordo com ela, com a diversidade presente nesse contexto, respeitar as individualidades e condições de cada aluno é crucial para um ambiente educacional inclusivo e afetivo.

“O princípio da empatia, baseado no respeito mútuo, contribui para criar um ambiente rico em experiências, promovendo o aprendizado no ritmo individual de cada estudante. As práticas pedagógicas devem ser fundamentadas em evidências científicas, permitindo uma abordagem flexível que abrace a diversidade em aspectos sociais, nutricionais, ambientais e neurológicos. A empatia proporciona uma troca genuína, fomentando afetividade e inclusão, ingredientes fundamentais para o engajamento do aprendiz em qualquer processo de ensino”, esclarece.

 

Empatia e currículo escolar

Como a empatia pode ser integrada ao currículo escolar de forma eficaz? Essa é uma das muitas inquietações que cercam o tema no âmbito educacional, fora e dentro das salas de aula. Nesse ponto, a autora Sheyla Baumworcel diz que a importância de os professores trabalharem as emoções está, sobretudo, em possibilitar uma melhor convivência entre as pessoas da escola, evitando brigas, discussões e até depressão e melhorando o envolvimento de alunos, educadores, coordenadores, inspetores, supervisores etc. Baumworcel atesta que a chave para uma resolução bem-sucedida de conflitos é estendê-los para fora da sala de aula, para o recreio e para o refeitório, onde os encontros são mais íntimos. “Para conseguir isso, alguns alunos podem ser treinados como mediadores, uma função que pode começar já no ensino fundamental. Organize projetos de serviço comunitário ou oportunidades de voluntariado para estudantes. O envolvimento em atividades que consistam em ajudar os outros pode desenvolver um sentido de empatia, à medida que os alunos experimentam diretamente o impacto das suas ações sobre os necessitados”.

Quando o tema é sua integração à BNCC, a Mestre em Ciências da Educação Luciana Cordeiro Felipetto destaca a competência 9, enfatizando atitudes cooperativas, empáticas e de diálogo na vida escolar. “Habilidades socioemocionais, como a valorização da diversidade, alteridade, acolhimento da perspectiva do outro, diálogo, convivência, colaboração e mediação de conflitos, são essenciais”, acrescentando que a empatia deve ser incorporada à grade curricular, sendo pauta transversal em todas as matérias.

“O treinamento do professor é crucial, pois ele é um vetor de transformação. Projetos baseados em comunicação não violenta, disciplina positiva e mediação de conflitos contribuem para criar uma comunidade escolar mais colaborativa e empática. Escuta, troca de opiniões e mediação são estratégias-chave para desenvolver empatia, criando indivíduos mais preocupados com a sociedade e comprometidos com soluções justas e inclusivas”, assegura Felipetto.

Em sua apreciação a professora Érika Neves ressaltou como a educação brasileira avançou ao incluir na BNCC as competências socioemocionais, destacando que desde 2020 é exigido que sejam contempladas no currículo das escolas. Para tanto, a avaliação socioemocional se reafirma como um recurso privilegiado para o diagnóstico dos aspectos positivos e das limitações de cada membro do corpo discente, sendo possível identificar as competências a serem desenvolvidas.

Dentre elas, está também a empatia, afiança Erika, exemplificando práticas e habilidades que, somadas, alavancam essa competência: Criar o Sociograma com a participação da turma, identificando afinidades e fortalecendo vínculos; tabular a incidência das queixas semanalmente e analisar os dados a cada bimestre; utilizar ferramentas digitais confiáveis e, ao mensurar os resultados e identificar estagnação, busque novas estratégias e parcerias. Contudo, é muito possível que, após ações pedagógicas com intencionalidade, haja o resultado positivo do desenvolvimento das competências socioemocionais. Então, reconheça o mérito dos educadores envolvidos, familiares e especialmente dos estudantes! “Há que se cuidar do broto para que a vida nos dê flor e fruto”, completa a professora, parafraseando Milton Nascimento.

Sheyla, assim como os demais especialistas, compartilha da visão e importância de focar em componentes ativos, habilidades emocionais, cognitivas e comportamentais, para trabalhar a empatia nas escolas. “Habilidades emocionais: identificar e expressar sentimentos, lidar com eles, controlar impulsos, reduzir tensões, distinguir sentimentos e agir. Habilidades cognitivas: ler e antecipar reações a situações tensas, usar etapas para resolver problemas, compreender o ponto de vista do outro, compreender normas comportamentais. Habilidades comportamentais: não-verbal (comunicação por expressão facial) e verbal (fazer pedidos claros, reagir conscientemente, ouvir os outros)”, frisa.

 

Treinamento para professores

A importância do treinamento para professores na promoção da empatia e habilidades socioemocionais é incontestável no cenário educacional contemporâneo. Diante do papel crucial do educador como agente de transformação na vida dos alunos, capacitá-los para desenvolver e estimular a empatia torna-se fundamental. Este treinamento não apenas aprimora a sensibilidade e compreensão do professor em relação às necessidades emocionais dos estudantes, mas também estabelece um ambiente escolar mais colaborativo, inclusivo e propício ao crescimento integral dos indivíduos.

Neste contexto, a professora Sheyla pontua a relevância do treinamento para docentes na construção de um ambiente educacional que promova o desenvolvimento socioemocional dos alunos, capacitando-os a se tornarem cidadãos mais empáticos e engajados na sociedade. “A distância que a sociedade escolar e educativa pretende reduzir é aquela onde vivemos atualmente, um momento de desigualdade social. Cada pessoa é um universo emocional. Estar em sala de aula é estar em contato com diferentes estados, portanto torna-se urgente a consciência de que os professores desempenham um papel crucial na modelagem do comportamento empático. Na escola, cultive uma cultura escolar positiva e inclusiva na qual os indivíduos conviverão com maior autoconhecimento, maior autorregulação, maior autonomia emocional, empatia, capacidade de atuar melhor nos relacionamentos”, recomenda.

 

Papel dos pais para um cenário empático

E como fica o papel e responsabilidades dos pais dentro desse cenário? Para Erika Neves a participação deles é fundamental, já que – segundo vivencia como professora e psicóloga – são a maior autoridade na vida das crianças. “E a melhor forma de essas

autoridades máximas transmitirem a noção empática para os filhos é sendo exemplo! As crianças são muito observadoras. No trânsito, nas atividades do lar, nas conversas espontâneas, captam tudo com um super radar.

E ao ser questionada sobre como a escola pode colaborar com os pais nesse processo, Erika alerta que a sua contribuição deve permanecer em ato contínuo, desde o simples gesto de responder uma demanda na agenda escolar, passando pelo trato diário, reuniões e encontros especiais.

“Devemos considerar que muitos familiares atuam em áreas completamente diferentes do universo escolar, então o que parece simples para o educador pode ser, sim, uma inovação para os pais. Logo, indicar filmes, livros, palestras e proporcionar momentos em que essa abordagem possa ser ensinada para os pais também é de grande valia”, completa.

A professora Sheyla destaca a importância da participação ativa de alunos, professores e pais nas atividades escolares, incluindo oficinas semanais para aprimorar a inteligência emocional, concentrando-se no sistema límbico. “Este sistema cerebral processa emoções, comportamentos motivados e memória. A sugestão é redirecionar o treinamento, incentivando professores a abandonar hábitos antigos e adotar novas práticas, como a promoção de jogos e atividades lúdicas que desenvolvam habilidades de resolução de conflitos e comunicação. Essas mudanças visam fortalecer a conexão emocional e comportamental na comunidade escolar”, ressalta.

Ainda segundo ela, “a literatura pode ser uma forte aliada na promoção da empatia, pois pode ser promovida em sala de aula através da seleção diversificada de textos que explorem desafios enfrentados por diferentes perspectivas. Facilite discussões sobre emoções, motivações e impacto das ações dos personagens; organize atividades de dramatização para incentivar os alunos a se colocarem no lugar dos outros; celebre a diversidade cultural com eventos, projetos ou palestrantes convidados. Na Educação Infantil, inclua uma figura de referência e atividades de atenção plena. Ao integrar essas estratégias, os educadores contribuem para uma comunidade escolar mais compassiva e inclusiva, promovendo o desenvolvimento da empatia entre os alunos”, enumera.

 

Resultados e impactos

Ao explorar os resultados e impactos de escolas que priorizam a educação para a empatia, é possível identificar uma série de benefícios significativos que reverberam na dinâmica escolar e na formação dos alunos. Essas instituições, ao investirem no desenvolvimento da empatia, têm experimentado transformações positivas nas relações interpessoais, na resolução de conflitos e na criação de um ambiente mais inclusivo. Este subtema destaca as observações e reflexões sobre os impactos tangíveis e intangíveis que surgem quando a empatia se torna uma peça central na abordagem educacional.

É o que garante a professora Erika Neves, ao relatar que observou uma turma de 1º ano do Ensino Fundamental I, onde as informações no relatório inicial diziam: “Em geral a turma apresenta dificuldades de relacionamento entre os alunos, contendo alguns componentes desarticuladores”. Esse foi um caso, explica ela, em que foi essencial a ação conjunta da orientadora pedagógica, do educador físico e da professora titular. “Foram realizadas dinâmicas de grupo, momentos de literatura infantil com uso de fábulas e durante as aulas de educação física a utilização de jogos cooperativos. Paulatinamente, percebemos a mudança positiva no comportamento da referida turma acrescida de valores que nortearão toda a vida, como por exemplo: solidariedade, senso de cooperação e respeito mútuo. Notem, o objetivo não é formar alunos ‘bonzinhos’ e submissos, mas que sejam capazes de conduzir bem a própria vida”, menciona.

 

Pesquisa e estudos acerca do tema

A importância de pesquisas e estudos sérios sobre a abordagem educacional centrada na empatia é inegável, visto que essas investigações fornecem uma base sólida para compreender e validar os impactos positivos dessa prática inovadora. Ao questionar se há trabalhos que destacam os benefícios dessa abordagem, abrimos as portas para a análise crítica e embasada, permitindo não apenas avaliar a eficácia, mas também contribuir para o aprimoramento contínuo das estratégias educacionais baseadas na empatia.

“No Brasil, temos educadores que não só pesquisam temáticas que envolvem a empatia, como também desenvolvem trabalhos que enriquecem a educação brasileira com este saber, como por exemplo o Dr. Augusto Cury, professor e psiquiatra, fundador da Escola da Inteligência, e a Dra. Rosana Alves, psicóloga, neurocientista, atualmente diretora acadêmica e presidente do Neurogenesis Institute, nos EUA e autora do livro ‘Neurociência da Felicidade’ (Best Seller 2019)”, destaca Erika Neves.

 

 

Inclusão e diversidade

A interseção entre inclusão e diversidade na educação destaca a importância fundamental da empatia como catalisadora para a promoção de ambientes escolares inclusivos e respeitosos. Esta abordagem não apenas reconhece, mas celebra as diferenças, cultivando a compreensão e aceitação entre alunos, professores e toda a comunidade escolar. Ao explorar de que maneira a educação para a empatia contribui para a promoção da inclusão e respeito à diversidade, adentramos um terreno crucial para o desenvolvimento de uma sociedade educacionalmente enriquecedora e verdadeiramente igualitária.

A Mestre em Ciências da Educação Luciana Cordeiro Felipetto adverte que a empatia, muitas vezes mal compreendida, não se resume à afeição, mas é uma condição passível de treinamento. “Na escola, onde crianças moldam seu caráter, ela desempenha papel crucial. Programas escolares que treinam essa habilidade são preventivos poderosos contra bullying, promovendo o desenvolvimento moral e interacional”, explica.

Para os professores entrevistados, crianças e adolescentes que desenvolvem maior capacidade de empatia tendem a ser colaborativos, comunicadores e cuidadores de si e do outro. “Os empáticos não só sentem o que o outro sente ao se imaginarem no lugar dele, como também sabem prevenir situações que possam causar dor e constrangimento e agir de forma cooperativa em reconhecimento e respeito às diferenças do outro”, afirma Erika Neves.

 

Empatia como ferramenta no combate ao preconceito e ao bullying

Dramatização

Consiste em representar situações da vida real (escolar), onde os estudantes possam atuar como personagens opostas ao modo de agir em situações de bullying. Por exemplo, quem comumente posiciona-se como vítima, no script da peça pode ser a testemunha ou o autor do bullying. Trata-se de um “teatro improvisado” dentro da temática vivida no ambiente escolar, porém o roteiro deve ser criado pelos próprios alunos e apontar para uma resolução do conflito.

Apresentar case de sucesso

Convidar profissionais com carreira consolidada para contar aos alunos como foi superar eventuais situações de bullying ou a dor do preconceito vivenciados em fase escolar. É importante destacar didaticamente, aproximando-se da realidade dos danos causados por exclusão e rejeição. A tendência nesse caso é estimular a tomada de consciência para mudanças importantes. Da mesma forma, também é possível adquirir recursos e manejos para a resolução dos conflitos ao se descobrir que há um grande reservatório de bondade, senso de justiça e afeto dentro de si.

Educação para a empatia

Implementar programas educacionais que ensinem e promovam a empatia desde cedo. Incorporar o desenvolvimento de habilidades socioemocionais no currículo para cultivar a compreensão e aceitação das diferenças.

 

Campanhas de conscientização

Realizar campanhas escolares que destaquem a importância da empatia, abordando temas como respeito à diversidade, tolerância e rejeição do preconceito. Isso pode incluir eventos, palestras e atividades para envolver toda a comunidade escolar.

 

Grupos de discussão

Criar espaços seguros para grupos de discussão onde os alunos possam compartilhar experiências, expressar preocupações e discutir questões relacionadas ao preconceito e ao bullying, além de facilitar diálogos abertos que promovam empatia e compreensão mútua.

 

Treinamento para professores

Oferecer treinamento regular para professores sobre como identificar, abordar e prevenir o preconceito e o bullying, também capacitando os educadores a serem modelos de comportamento empático.

 

Atividades de sensibilização

Organizar atividades que promovam a sensibilização para as diversas experiências e realidades dos alunos. Isso pode incluir projetos artísticos, apresentações culturais e ações que destaquem a importância da aceitação.

 

Mediação de conflitos

Implementar programas de mediação de conflitos para resolver disputas de maneira empática. Ensinar aos alunos métodos eficazes de comunicação e resolução que podem reduzir incidentes de bullying.

 

Monitoramento e intervenção

Estabelecer um sistema de monitoramento para identificar comportamentos prejudiciais. Intervir prontamente e aplicar medidas disciplinares educativas para promover a mudança de atitudes.

 

Cultivando empatia além das fronteiras linguísticas

A professora de inglês e palestrante Marianna Lourenço, empenhada em enaltecer os profissionais deste segmento, considera que a empatia perpassa pela educação e é percebida e aprendida através das experiências. “O que pode ser elaborado ao ensinar os alunos a observarem situações de ajuda mútua, respeito às diferenças e solidariedade. Promover a empatia no ambiente escolar é fundamental para o desenvolvimento de relações saudáveis e para a construção de um lugar propício ao aprendizado e ao bem-estar emocional dos estudantes”, pontua.

Por mais desafiador que possa parecer, cultivar relações saudáveis entre os alunos se torna essencialmente importante ao falarmos de educação hoje em dia. Para a especialista, não se trata apenas de passar conteúdos extremamente importantes, mas como isso pode ser aplicado ao cotidiano dos nossos alunos, algo que de fato faça sentido para as suas vidas. Por isso, ela acredita que, além de formações continuadas para professores implementarem novas tecnologias em sala de aula, algumas outras práticas e aprendizados sejam fundamentais.

Afinal, relações positivas contribuem para uma escola como um local acolhedor e seguro, promovendo o bem-estar emocional dos estudantes. Além disso, um ambiente de respeito e cooperação pode melhorar a concentração, a motivação e o desempenho acadêmico dos alunos, melhorando também o aprendizado. Um outro ponto extremamente importante, segundo a especialista, é que as relações positivas entre os estudantes podem ajudar a prevenir o bullying e outros comportamentos prejudiciais.

 

Trabalhando empatia na língua inglesa

O tema pode ser aplicado em diversas disciplinas, algumas de maneira mais fácil e outras de uma forma um pouco mais elaborada. A língua inglesa, por exemplo, pode oferecer novas perspectivas culturais apresentando visões diferenciadas daquilo que sempre foi apresentado, a partir da sua própria cultura, contribuindo para o desenvolvimento da empatia, facilitando a interação com pessoas de diferentes origens, permitindo o desenvolvimento ao compreender e principalmente respeitar as experiências e visões de mundo de outros indivíduos. “O consumo de mídia e literatura em inglês faz com que os estudantes possam se conectar com histórias e experiências de personagens de diversas origens, ampliando a sua compreensão e empatia em relação a diferentes realidades”, exemplifica Marianna.

Para que esse conteúdo seja aplicado na prática, a educadora sugere incorporar atividades que explorem e comparem diferentes culturas, tradições, valores e perspectivas, incentivando os alunos a refletir sobre as diferenças e semelhanças entre a sua própria cultura e as de falantes de inglês. “É possível também utilizarmos materiais autênticos, como literatura, música, filmes e notícias no idioma, que representem uma variedade de culturas, permitindo que os alunos se envolvam com diferentes pontos de vista e experiências e comparem com suas próprias realidades”, sugere a professora de inglês.

Além disso, ela recomenda atividades que incentivem a interação entre alunos de diferentes origens. Projetos em grupo que envolvam pesquisa e apresentação de aspectos culturais também são uma forma de estimular a troca de conhecimentos e experiências. “Não é uma tarefa simples, por isso a importância do networking entre professores destas áreas para desenvolver projetos que viabilizem essa espécie de intercâmbio. Tudo isso aliado à forma como o professor conduz e incentiva os alunos de maneira positiva e atrativa para que eles possam se abrir a experenciar o que lhes é apresentado”, explica.

 

Questões de diversidade e inclusão

De acordo com Marianna, apresentar como tais temas estão sendo discutidos não só no Brasil, mas também ao redor do mundo, é uma forma de incorporar a temática nas aulas de língua inglesa. “Promover discussões sobre temas relacionados à diversidade, inclusão, preconceito e estereótipos, incentivando os alunos a refletirem sobre essas questões e a respeitar as diferenças, também é uma boa estratégia. Da mesma forma, atividades interculturais que explorem e celebrem as diferentes culturas representadas na sala de aula, incentivando a troca de experiências e o respeito às diferenças. E se estamos falando sobre o aprendizado de uma nova língua, o uso de linguagem respeitosa em relação a gênero, orientação sexual, etnia e outras formas de diversidade se faz importante nessa temática”, orienta.

 

Aprendizado mais eficaz com exemplos reais

A professora de inglês conta que leciona para crianças do 1º ao 5º ano, moradoras da comunidade de Vila Kennedy, e que, infelizmente, são pouco estimuladas a terem sonhos. Por isso, ela decidiu encorajá-los a ter sonhos a partir dos seus próprios sonhos. “Em 2018, durante uma pós-graduação que estava realizando, fui incentivada a fazer um intercâmbio. Contei para os meus alunos sobre estar realizando um dos meus sonhos aos 37 anos de idade e comecei a organizar a minha viagem junto com eles. Apresentei-lhes o mapa dos Estados Unidos, onde ficaria, exibi filmes que me incentivaram a querer ir àquele lugar, ensinei frases de sobrevivência, mostrei passaporte e eles também fizeram os seus”, relembra.

Ela lembra ainda que eles tinham sede de saber, ajudavam uns aos outros e imaginavam as suas viagens futuras, guardavam dólares fictícios e davam tom às aulas porque queriam saber expressões para não passar “perrengue” em suas jornadas. “E eu lhes disse que não importava o tempo que durasse, mas que eles mantivessem os sonhos no coração e fossem em busca de um dia realizá-los. Através das redes sociais, eles puderam me acompanhar e ver por meio das minhas lentes aquilo que eu os havia apresentado. Foi mágico, engrandecedor tanto para mim como para eles”, afirma Marianna.

 

 

Superando as barreiras e os desafios

Para a educadora, a melhor forma de superar as barreiras e desafios para ensinar qualquer disciplina é criar um ambiente em que os alunos se sintam confortáveis e confiantes. “É fundamental para promover a colaboração, a produtividade e o bem-estar. A confiança pode ser construída por meio da transparência, comunicação aberta, cumprimento de compromissos e respeito mútuo. Além disso, o envolvimento de toda a comunidade escolar”, pontua.

Uma outra barreira, segundo a docente, é que alguns alunos e até mesmo professores podem resistir à integração de temas de empatia no ensino de língua inglesa, considerando-os fora do ensino tradicional do aprendizado do idioma. “Isso requer educadores qualificados e preparados para desenvolver atividades que abordem esses dois aspectos de maneira integrada. Os docentes precisam ter conhecimentos tanto de língua inglesa quanto de habilidades sociais e emocionais, a fim de proporcionar uma educação de qualidade nessa área”, sugere Marianna.

A professora ressalta ainda que, em um mundo globalizado, exercer a empatia se faz muito necessário. “Nada mais representativo do que aprender e conjecturar sobre esse tema na escola, que é o local primordial de aprendizado. E em um momento em que há necessidade de exercitarmos a empatia, falar e atuar, a começar pelo ambiente escolar. A superação se dá quando o que se aprende dentro dos muros da escola transborda para além desse espaço e vai para a casa dos alunos e então para a sua comunidade. É necessário estimular os estudantes a difundirem aquilo que aprendem na escola e que não fique só ali. Empatia não é um conceito novo, no entanto a prática dessa habilidade precisa sair do campo da teoria e ser de fato implementada nas comunidades. Isso precisa ser estimulado por nós professores”, finaliza.


Por Antônia Figueiredo e Jéssica Almeida

 

Sheyla Baumworcel, pedagoga e pós-graduada em psicopedagogia, e autora da obra “O Livro da Vida” | Erika Neves, professora, psicóloga, Doutoranda em Psicologia, Mestre em Ciência da Educação e Especializada em Psicopedagogia | Luciana Cordeiro Felipetto, fonoaudióloga educacional pelo Conselho Federal de Fonoaudiologia e mestre em Ciências da Educação, além de autora de “A Descoberta do Mundo das Letras” e coautora de “Neurociência e Saúde Educacional: Vencendo Limites” | Marianna Lourenço é professora de inglês, palestrante e servidora pública da prefeitura do Rio de Janeiro. Em 2023 foi trainer num programa também oferecido pela embaixada dos EUA, apoiando professores do Brasil a se desenvolverem como profissionais e ensinarem inglês usando métodos comunicativos centrados no aluno. Contato: tiateachermarianna@gmail.com / @tia.teacher.


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