Sobra para o professor: pais admitem falta de tempo para educar os filhos
Alterações de comportamento e valores, limites mais flexíveis, mudanças no papel da autoridade familiar, a vida corrida (com o tempo cada vez mais escasso)… Fatores que acabam impactando diretamente nas salas de aula. Essa percepção já vem sendo alertada há muito tempo pelos profissionais de educação sendo quase uma unanimidade entre a categoria, que se sente sobrecarregada, assumindo, além de seu papel fundamental, funções que deixam de ser realizadas pela educação familiar.
Óbvio que isso acaba resultando em atritos com os próprios pais e principalmente com os alunos, fato que pode ser facilmente comprovado pelo elevadíssimo índice de violência escolar. Isso sem contar atos mais silenciosos, como assédios de vários tipos e o ressentimento do professor em não ter o reconhecimento de sua autoridade pelos estudantes, pais e a diretoria escolar.
As últimas estatísticas elevam o Brasil neste triste ranking: 44% dos docentes disseram já ter sofrido algum tipo de agressão, segundo dados do sindicato paulista da categoria, tendo como referência 2015. Também a internacional Organização Mundial para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE) coloca o nosso país no topo entre as 34 nações analisadas. A instituição ouviu mais de 100 mil professores e diretores ao longo do território nacional, com 12,5% dos docentes entrevistados dizendo-se vítimas de agressões verbais ou de intimidação de alunos pelo menos uma vez por semana.
Porém, essa sensação não fica restrita apenas aos professores. Agora nova pesquisa tabula o outro lado dessa relação: os responsáveis pelos estudantes. Os próprios pais assumem que estão sendo negligentes em seu papel no processo educacional. Isso pode ser confirmado agora pelos resultados da pesquisa feita pela ONG global de educação Varkey Foundation, que ouviu 27 mil pessoas de 29 países.
Os dados mostram que, aqui no Brasil, 46% dos pais assumem que não gastam o tempo suficiente com a educação dos filhos. Esse é o percentual mais alto entre os 29 países analisados, quase empatando com o Peru (América do Sul) e Uganda (África). Apenas 23% dizem que ajudam, mesmo assim, em média 7 horas por semana, percentual também inferior à média global de 25%.
A pesquisa também mostra outro lado que pode influenciar nesse comportamento. Enquanto em outras nações as energias dos responsáveis, na hora da escolha da instituição de ensino, estão canalizadas em aspectos como metodologia, processo educacional, qualificação do professor etc., por aqui a prioridade é a escola que proporcione maior segurança dos filhos. Isso foi expresso como preponderante em 48% dos que responderam ao questionário. Trata-se do índice mais alto entre os demais países.
O mais curioso dessa pesquisa é que, mesmo diante deste panorama que pode parecer desanimador, os pais brasileiros estão entre os mais otimistas e são os que mais confiam nas instituições de ensino. Apesar de tudo, 70% acreditam que a escola está preparando bem os filhos para o mundo, um percentual superior à média dos demais países, que é de 60%.
Por Luiz André Ferreira, Jornalista/professor, apresentador da Rádio Appai e Mestre em Projetos Socioambientais e Bens Culturais.
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