A arte de combater o bullying
Com o intuito de coibir a prática do bullying no ambiente escolar, os coordenadores da Escola Estadual Municipalizada Oswaldo Cruz, em Duque de Caxias, criaram um método bastante dinâmico de integração e exclusão do preconceito entre os alunos, incentivando os estudantes a praticar cultura e arte. O projeto resultou em exemplo de aprendizagem e socialização.
A ideia inicial era ler bastante, dialogar com os colegas, assistir filmes e finalizar a atividade produzindo um livro de poemas elaborados a partir dos temas vistos com os educadores desde 2013, compreendendo conteúdos das diversas áreas de conhecimento. As produções ressaltaram ideias e opiniões individuais e coletivas acerca de assuntos relacionados a artistas brasileiros como Tarsila do Amaral e Romero Brito. Intitulado “Sou um jovem leitor e escritor brasileiro”, a publicação contará com uma tiragem mínima de 250 exemplares impressos com a ajuda de doações.
A temática surgiu em 2013, quando o corpo docente da unidade escolar realizou diversos debates na tentativa de descobrir uma metodologia que reduzisse o crime no cotidiano do colégio. Com este problema presente, foi observada na grade curricular a necessidade de utilizar o interesse dos alunos do 4º e 5º anos estabelecendo o uso dos recursos multimídia da instituição, o que favoreceria o convívio em grupo. Realizou-se, então, como primeiro passo, uma atividade junto às demais turmas da escola com foco na leitura.
Nas salas de aula, a diversidade de conhecimentos de cada estudante possibilitou novas propostas de educação embasadas no respeito às habilidades sociais trazidas para o ambiente interno, que refletem a expressão cultural da sociedade. Hoje, ainda há certas restrições vivenciadas por alunos, afirmações vazias de que estudantes da rede pública não apreciam música clássica ou que não gostam de museus e teatros. Indo na contramão dessa visão, a escola teve como parte de suas metas possibilitar oportunidades de desenvolvimento não apenas intelectual, mas humano, como propõem as indagações do currículo publicadas pelo Ministério da Educação e Cultura.
O projeto, escrito e coordenado pela professora Bianca de Lima Maia, integra diversas áreas de conhecimento, desde produções textuais e leituras compartilhadas sobre a história do Brasil e regionalidades a exibições multimídia de músicas e filmes nacionais e internacionais, lendas folclóricas e poemas. O procedimento se inspira nos objetivos dos Parâmetros Curriculares Nacionais, que ratificam: “O professor, consciente de que condutas diversas podem estar vinculadas ao desenvolvimento de uma mesma capacidade, tem diante de si maiores possibilidades de atender à diversidade de seus alunos”.
A metodologia consistiu em desenvolver aptidões necessárias que criassem condições de novas habilidades, visando o respeito à diversidade, permitindo fazer uso de recursos naturais, recicláveis e multimídia de modo consciente. Os ambientes internos da escola também foram explorados, ao serem criados espaços culturais, como uma casa de teatro para apresentações individuais e coletivas de contação de histórias, declamação de poesias e leituras compartilhadas. O laboratório de informática foi utilizado como instrumento para pesquisas e revisões textuais.
Para dar motivação à produção escrita e à leitura, foram selecionados filmes de dramas sociais vivenciados pelos alunos, como preconceito, bullying e baixa autoestima, mas com focos humorísticos, que prendem a atenção e destacam emoções, como nos filmes: “O Garoto” e “O Circo”, ambos de Charles Chaplin; “O Reencontro”, de Rob Reiner, com Morgan Freeman; “Menina no país das maravilhas”, de Daniel Barnz; e “Primeiro da classe”, de Peter Werner. Esses filmes demonstram, principalmente, que a vontade pode ser maior que os preconceitos e barreiras impostas por padrões sociais, direcionados a impedir o crescimento cultural dos cidadãos que fogem a essas falsas regras preestabelecidas de beleza, inteligência, sucesso e fama.
Integrar a tecnologia como recurso pedagógico motivacional foi mais um dos pontos altos que levou o projeto ao sucesso, pois, embora estejamos de cara com fenômenos tecnológicos de comunicação cada vez mais populares, foi identificado que os alunos não conseguiam realizar atividades simples de uso de software de edição de texto e muitas vezes utilizavam abreviações características das redes sociais da internet. Com esse estreitamento de informações diagnosticadas pelos estudantes, o uso de computadores forneceu uma ferramenta importante para que eles digitassem seus textos e, com o corretor ortográfico desativado, realizassem eles próprios o processo de verificação da escrita, coesão e coerência de suas produções. Essa estratégia elevou a autoestima das crianças que até então pensavam que não conseguiriam “escrever”, pois sua ideia era de que isso era sinônimo de não poder errar. Além disso, ficou bem claro para eles que podiam fazer parte do grupo de escritores.
De acordo com Bianca, ler os poemas produzidos pelos alunos, com média de idade entre 10 e 11 anos, que conseguem emocionar com palavras diretas e sinceras, engrandece a perspectiva de um futuro promissor para jovens brasileiros que carregam sonhos de um futuro melhor. “Em todo o trabalho observamos o progresso dos estudantes, que passaram a ser elogiados por seus colegas, que até então os excluíam porque falavam com sotaque de outro estado ou apresentavam problemas de dicção”, exalta a educadora.
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