Feira das Nações | Projeto contempla alunos do EJA
Mobilizar e estimular estudantes e educadores. Essa foi a meta principal do Projeto Mundo, realizado no Colégio Estadual Nova Campina, que atende somente alunos do EJA e Neja – Educação de Jovens e Adultos e do Ensino Fundamental e Ensino Médio. De acordo com o professor de Artes Daniel Quarterolli, idealizador do trabalho, a escola, que só atende pessoas com defasagem idade/série, estava precisando de um movimento para motivar docentes e alunos. “Não existe projeto para adultos, tanto estudantes como educadores estavam sentindo falta. É uma clientela que está encontrando oportunidade de voltar aos estudos e precisamos valorizar”, justifica Daniel.
Márcia Maria da Silva Santos, professora articuladora, que faz a ponte entre a direção e estudantes, acredita que o primeiro passo foi fazer com que a escola abraçasse o projeto. A primeira fase foi dividir as turmas. Com o tema “A festa dos continentes”, cada uma delas escolheu dois países. Todas as disciplinas foram trabalhadas e aproveitadas de acordo com o currículo mínimo. O objetivo era promover a interdisciplinaridade, para que os alunos conheçam novos lugares e ampliem seu aprendizado. O trabalho de pesquisa foi promovendo uma interação entre os próprios grupos, e os estudantes começaram a ter mais interesse à medida em que iam pesquisando. “A primeira etapa, que foi a pesquisa, fez com que os grupos se aproximassem e começassem a se envolver e interessar pelo projeto”.
A coordenadora pedagógica Joseane Terra se surpreendeu com a resposta do trabalho, já que foi uma experiência nova, tanto para o corpo docente quanto para o discente. “O retorno foi muito superior às nossas expectativas. Todos ficaram com muito receio no início, mas as pesquisas foram despertando a curiosidade e eles passaram a trabalhar praticamente sozinhos”, conta a coordenadora.
A feira dos continentes foi aberta à comunidade. O grupo de Leila, que ficou com Quênia e Serra Leoa, falou não só das riquezas naturais dos países e a miséria a que sua população é submetida, mas também sobre os escritores que retratam a África, como Ishmael Beah, que esteve na Flip, em Paraty. O escritor foi preso na guerrilha, conseguiu se libertar através da Unicef, que foi resgatá-lo, e lançou a obra “A vida de um soldado”.
Outros grandes escritores foram homenageados, como o queniano Ngug wa Thiong’o, além de Wole Soyinka, nigeriano ganhador de um Prêmio Nobel de Literatura, e o moçambicano Mia Couto, que encantaram as pessoas que visitaram os estandes. Leila estava radiante ao falar sobre as disparidades do continente africano: “O que é mais difícil de entender é que, ao invés de produzir riquezas, esses países produzem pessoas ricas. De acordo com as estatísticas, a taxa de natalidade está abaixo do nível da pobreza, e é lá que se encontra uma das maiores reservas de diamantes do mundo, conforme vimos no filme ‘Diamante de Sangue’”, dizia a estudante enquanto mostrava as estatísticas no quadro.
Para retratar o Quênia, o grupo confeccionou maquetes representando o país e um acampamento de refugiados todo movido a energia solar, construído por Ongs. A novidade apresentada pela equipe foi um projeto desenvolvido ali para gerar energia: uma turbina que se sacode por cerca de uma ou duas horas e gera oito horas de carga.
O grupo, que montou um consultório médico, falou sobre as doenças infectocontagiosas, como a Aids e o Ebola, e citaram os Médicos sem Fronteiras, que estão lutando contra o costume de se comer animais silvestres ressecados. “Estou orgulhoso de você Leila”, disse o professor Daniel, emocionado com o entusiasmo da estudante.
No estande de Portugal, Tayná mostrava as comidas típicas como o bolinho de bacalhau, o azeite, suspiros, pastel de Belém e um bolo com a receita original, feito pela professora Carmen Lúcia, além dos pontos turísticos mais conhecidos, como o Mosteiro da Batalha, Évora, Torre de Belém. Os alunos também mostraram um pouco da produção cinematográfica do país, com filmes como “O crime do padre Amaro” e “O espelho mágico”. Para Carmen foi uma emoção muito grande poder participar dessa atividade: “Trabalhar com Portugal é mexer nos sentimentos, nas origens. Os alunos se surpreenderam e tenho certeza que aprenderam muito com o que foi realizado fora de sala de aula”. A equipe que abordou os Estados Unidos e o México mostrou a alimentação e as paisagens da geografia da América do Norte e caracterizaram a Broadway, com suas luzes e cassinos. A aluna Claudia, que falou sobre a Inglaterra, levou o chá das cinco e os pontos turísticos de Londres, como o Big Ben, Westminster, a Tower Bridge, entre outros. O grupo lembrou também três grandes matemáticos, como George Boole, Jacob Bernoulli e Bab Borrow.
Na atividade sobre a França, os alunos apresentaram os pontos turísticos e a famosa gastronomia, além da perfumaria. A equipe citou os principais matemáticos como Descartes e Pierre de Fermat, e apresentou o filme “Os Miseráveis”, baseado na obra do escritor Victor Hugo, que retrata o século XIX na França. Márcia lembra que essa escola atingiu, pela segunda vez, a meta do estado em notas, estrutura e avaliação do Saerj – Sistema de Avaliação do Estado do Rio de Janeiro. Para ela, o projeto modificou a “energia” do colégio. “A frase que a aluna Leila citou, do escritor Wole Soyinka, tem tudo a ver com o nosso projeto: ‘Eu acredito que o melhor processo de aprendizagem, em qualquer tipo de aprendizagem, é olhar para o trabalho dos outros’”, conclui.
Deixar comentário