Lição de arte e de vida | Projeto resgata vida e obra de Vinícius de Moraes


Facebook, games, hambúrguer, batata frita, televisão, amigos, namoros… A escola precisa se atualizar porque a garotada está atenta aos apelos do mundo lá fora. Por essa razão a direção do Colégio Externato Hilmar valoriza muito os projetos pedagógicos e todos os anos promove a Feira Literária, que esse ano levou o Centenário de Vinícius de Moraes para os estandes, envolvendo as turmas da Educação Infantil até o Ensino Médio. “São oportunidades de trabalhar de forma lúdica e integrada que propiciam a prática dos conteúdos. Eles adoram os desafios propostos e, em sala, os estudantes também reconhecem informações que viram no evento: ‘Ah! Professora, a gente viu isso na feira’. Então esses projetos não ficam estanques, eles saem da sala para as mostras e vice-versa. Assim ao alunos podem identificar os conceitos e aplicá-los à realidade. Eles se divertem”, afirma a professora de Literatura Sandra Costa.

Segundo a coordenadora pedagógica Denise Leal, o tema foi lançado para as turmas no início do ano, mas cada um abordou um ângulo e escolheu o formato da apresentação. A divisão dos tópicos foi realizada com cuidado até pela diversidade da vida e da obra de Vinícius de Moraes. “Os estudantes ficaram muito entusiasmados, principalmente no final, e surpresos com sua própria produção. Eles não acreditam na sua criatividade”, revela Denise. Não é só o corpo discente que curte o trabalho. Elza Suely, mãe do aluno Georg Albert, prestigiou todos os estandes e não esconde que é fã dos projetos: “Adoro festa em escola, as crianças ficam motivadas, se envolvem e sempre nos surpreendem”.

Os alunos do 1º ciclo do Ensino Fundamental I tiveram muito material para trabalhar com a obra do poetinha. “O relógio”, “O Pinguim”, “A Casa”, “Aquarela”, foram músicas exploradas pelos professores desses grupos, que confeccionaram brinquedos, ilustraram poemas, produziram textos e construíram a maquete de uma casa com que todas as crianças sonham.

Bianca Borges, que leciona Língua Portuguesa, coordenou o 7º ano e explorou a partir da poesia “A formiga”, conta que lançou o tema, mas os alunos trabalharam sozinhos e desenvolveram suas próprias ideias: “Praticamente não interfiro, eles têm um grande potencial e podemos explorar mais isso”, garante. A docente contou com apoio dos professores de Ciências para abordar o conteúdo sobre insetos. Com a música “O Mosquito”, os estudantes puderam fazer campanha contra a dengue. O aluno Bruno exibia seu mosquito da dengue confeccionado em isopor.

Muitas facetas em uma pessoa só

Com a frase “Eu sou Vinícius de Moraes, diplomata, compositor, cronista, boêmio e, sobretudo, poeta” o 2º ano do Ensino Médio convidou o visitante a conhecer as etapas da sua trajetória: fase musical de Vinícius, parcerias, vida pessoal e o lado eclético do artista através de uma linha do tempo, até o ano de 2013, em que é tema da Escola de Samba União da Ilha do Governador.

Estudantes dos três anos do Ensino Médio, prestaram uma homenagem ao artista com apresentação de teatro e de bandas. A peça teatral, estrelada por Mayara, que cursa o 2º ano, contou a história do nascimento da canção e do mito “Garota de Ipanema” de forma inusitada. “Fizemos uma pesquisa na Internet e em livros e descobrimos que não existia nenhuma dramatização dessa história, por isso escolhemos essa abordagem para saber como ele criou essa música com João Gilberto”, conta a jovem, que viveu a musa e fez com seu grupo uma releitura bem humorada da narrativa. Para fazer um resgate da obra de Vinícius, os adolescentes também apresentaram suas bandas. Além de mostrarem algumas músicas com as notas originais, os alunos fizeram uma versão Rock and Roll para canções como “A Casa” e “O Caderno”, adaptadas para o violão. A aluna Jessyca, que também atuou na organização das equipes, interpretou a canção “Eu sei que vou te amar”, enquanto a dupla Alex e Ana Beatriz anunciavam os espetáculos.

Segundo Sandra, a maioria dos estudantes já conhecia alguma música de Vinícius de Moraes, porem desconhecia suas múltiplas facetas e a intensidade da vida pessoal desse artista, fazendo muitas descobertas através da troca de experiências que a feira proporcionou. “Estamos orgulhosos. A mostra foi uma oportunidade de conhecer, juntos, a grandeza desse grande brasileiro”, afirmou Alex.

Uma das atrações que mais encantou a plateia foi o recital de poesias do 3º ano. Muito organizados e compenetrados, os jovens interpretaram algumas poesias mais desconhecidas do grande público. Antes da recitação, os artistas eram anunciados com uma prévia sobre o poema lido. Para Tatianne, que ficou surpresa com seus nove casamentos e a vida boêmia, o poeta era um homem que valorizava o sentimento: “Para ele o amor era mutável, passava de pessoa para pessoa”, filosofou a aluna.

Curiosidade premiada

O grupo do 9º ano explorou o poema musicado “A Rosa de Hiroshima”. O trabalho foi uma experiência muito interessante para alunos e professores, que fizeram muitas descobertas. Enquanto a música tocava, interpretada por Ney Matogrosso, Marlon falou aos visitantes sobre a vida do escritor, que cursou Direito em Oxford, mas voltou para casa por conta da II Guerra, apresentando a canção dentro de um contexto histórico.

Pelas fotos os alunos observaram que “A Rosa” do poeta, na verdade, não era uma rosa, e sim uma flor chamada oleandro, segundo a equipe pesquisou em livros e na Internet, muito comum na região afetada pela bomba atômica. A professora de Biologia Ana Claudia Lisboa foi chamada para ajudar nessa questão pela área de Ciências. Altamente tóxica, foi a primeira flor que nasceu após os ataques nucleares e pode causar danos aos tecidos se ingerida: “Provavelmente o autor usou a rosa por ser um símbolo de vida e renascimento. A lição que levei é que sempre é possível se reconstruir mesmo em meio ao caos, como aconteceu com Hiroshima. Quem disse que Biologia não tem nada a ver com Língua Portuguesa? Vou levar poesia para minhas aulas. Escolhi a obra “A Arca de Noé” para falar sobre um conteúdo que aborda fatores bióticos e abióticos. As crianças me chamaram para ajudar na pesquisa mas eu acabei aprendendo muito mais”, conclui Ana Claudia.


Por: Claudia Sanches
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