Manifestação Cultural Africana dita um novo ritmo na aquisição do conhecimento
A batida ritmada do Maculelê já diz tudo, está na veia. A adesão é grande e os alunos criam um vínculo maior com a escola, tornam-se assíduos e passam a se interessar por outras propostas dentro do colégio. As “piruetas” despertam muito interesse por parte dos jovens, pois não é algo fácil e requer técnica, de modo que eles ficam fascinados e passam a treinar muito até conseguir. Essa experiência faz parte do projeto Maculelê, realizado há três anos na Escola Municipal Barcelona, com uma comunidade muito diversa onde a cultura negra é marcante. O maior desafio é o de provar que essas origens são valiosas para a vida e para a formação cidadã.
“O projeto pedagógico enfatiza a valorização cultural, o respeito às diferentes histórias e as riquezas étnicas da nossa comunidade, que produzem harmonias de cores, jeitos e ideias, que vêm tecendo a história da escola Barcelona. A Lei nº 10.639 foi com certeza um dos nossos focos e está sendo contemplada com a prática”, diz a diretora Vânia Xerém. A iniciativa é mais uma oficina do projeto Mais Educação e envolve todas as turmas da escola do 6º ao 9º anos e o Peja. O professor responsável é Jomar Lino, de Educação Física. José Maurício, o mestre de capoeira Fumaça, educador comunitário, é responsável pela supervisão das oficinas de xadrez, canto coral, maculelê, capoeira, letramento, entre outras atividades.
O grupo Besouro, que realiza um trabalho no entorno do colégio, é um grande parceiro da comunidade escolar e leva a prática de origem africana às crianças, jovens e à terceira idade. Acompanhando o trabalho, os mestres buscam passar para os praticantes os ideais de disciplina corporal, respeito mútuo e valorização das culturas negra e indígena, além de oferecer a quem está ocioso novas oportunidades.
Como o projeto se divide
As atividades se dividem na criação de coreografias, ensaios, atividades corporais e lúdicas, além da aprendizagem de instrumentos musicais típicos, como berimbaus, caxixis e atabaques. As culminâncias ocorrem em datas organizadas de acordo com o projeto pedagógico da escola e também nos convites para apresentações pela CRE e pela Secretaria Municipal de Educação. Para planejar o trabalho, os educadores se basearam nos ensinamentos do Mestre Paulo Freire e de Bernard Toro, com os Códigos da Modernidade, e os princípios éticos e morais da Declaração dos Direitos Humanos.
O professor Jomar lembra que a atividade deu um novo rumo para alguns alunos proporcionando uma visão melhor das coisas. A história de Cleyton é um relato de superação e importância dessa manifestação cultural em sua vida. Praticante da capoeira com o grupo Besouro, fora da escola, o jovem entrou para o maculelê do colégio e tornou-se o “terceiro homem” na dança do facão, só realizada pelos mestres. Fazendo hoje parte da equipe, ele criou uma coreografia especialmente para essa atividade. “Concluí os estudos e voltei para a escola como um dos oficineiros, ajudante do Mestre Saci”, diz orgulhoso.
Nas aulas de Música, os estudantes desenvolvem atividades de percussão e trabalham teoria musical com enfoque nas características da comunidade escolar. Um dos bons resultados desse trabalho foi o surgimento do grupo de jongo. Em sala, a disciplina de História aproveitou bastante e desdobrou o conteúdo programático para abordar o assunto. A escola atuou de forma interdisciplinar usando a diversidade cultural como eixo central das atividades. Segundo a diretora, hoje os alunos estão mais conscientes do seu papel social e demostram uma importante valorização do processo de ensino-aprendizagem. Outro ganho considerável foi o maior envolvimento da família, que também passou a se ver como essencial para a escola, cujas dependências se transformaram em um espaço de aprendizado de qualidade e de troca de saberes.
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