O que há para além das linhas em 2017? O povo indígena
Aconteceu comigo, Andréa Schoch.
“Há anos, quando era gerente sênior em uma empresa, eu estava numa mesa de reunião com outros colegas gerentes (pessoas e profissionais maravilhosos), quando (não me lembro bem do motivo que desencadeou a questão) surgiu o assunto sobre descendência, e cada um começou a falar sobre a sua. Um dos colegas contou que era descendente de poloneses, outro, de italianos, outro, de portugueses, e por aí foi, até que chegou a minha vez de falar…
Eu disse que era descendente da tribo Pataxó Hãhãhãe. Todos acharam que era piada, embora eu estivesse falando sério, e riram muito.
Sem a intenção de julgar ninguém, esse fato me levou a pensar sobre o quanto sabemos a respeito dos povos indígenas…”
E você, o que sabe sobre esses povos?
Povoamento da América
Depois de muitos estudos, ficou conhecida, em linhas gerais, a origem dos índios que povoaram a América, os chamados ameríndios, bem como a partir de quando isso aconteceu. Por volta de 14 a 12 mil anos atrás, esses povos teriam chegado por via terrestre, por meio de um subcontinente chamado Beríngia, no extremo nordeste da Ásia.
E no Brasil?
Antes da “invasão/ocupação/descoberta” dos portugueses, nos anos 1500, uma população gigantesca de povos indígenas vivia no Brasil. Estimativas apontam um número de 5 milhões de pessoas, com aproximadamente mil povos diferentes, dentro do território que hoje leva o nome de Brasil.
Analisamos, por meio da história, que, com a invasão, ocupação e as descobertas ocorridas no século XV, quando os navegadores portugueses e outros entraram em contato com outros povos, constataram diferenças físicas e culturais que os fizeram até mesmo duvidar se esses nativos eram pessoas ou “feras”, animais irracionais. Os invasores não só escravizaram os índios como os consideraram seres inferiores, e de lá para cá muitos foram dizimados.
Em 500 anos, o número de índios baixou muito. Atualmente, conforme dados do IBGE, há no Brasil aproximadamente 896 mil indígenas, com mais de 300 tipos de povos, que falam de 150 a 270 línguas diferentes. Essa diversidade já existia quando ocorreu a invasão. Eles se relacionavam, havia guerras, alianças, eles circulavam pelo território, deixando marcas que perduram até hoje, conforme relata a antropóloga Tatiane Klein, especialista no tema, e cita como exemplo a palavra “Araraquara”, que denomina uma cidade de São Paulo, mas é também um termo da língua Tupi, marcando o nome de um rio da Amazônia. Portanto, temos aí uma representação clara de que os povos ocupavam o território brasileiro, mas infelizmente esse direito de ocupação lhes foi tirado de forma hostil e injusta, pois os indígenas são cidadãos brasileiros, estavam aqui antes de nós, que nos denominamos brasileiros.
Tatiane Klein conta que, no ano 2000, o Instituto Socioambiental encomendou uma pesquisa ao IBOPE para averiguar o que pensa o brasileiro (não indígena) sobre os índios. Os resultados apontaram que “essa ideia do bom selvagem ainda viceja, principalmente nos centros urbanos”. Porém, apesar de parecer positiva, a realidade apresentada nas regiões em que vivem povos indígenas é negativa por conta dos conflitos fundiários e da demarcação de terras.
Conforme salienta Tatiane Klein, a avaliação política demonstra que, há muito tempo, e ainda atualmente, esses povos estão sendo massacrados, injustiçados, discriminados e mortos. Mas quem faz isso, diretamente? Pessoas interessadas em posses e terras, em geral. Temos visto nos noticiários uma série de episódios de ataques aos povos indígenas e ao seu território, para extração de madeira, por exemplo, ou atividades como garimpo, entre outras, tirando deles o direito à terra, previsto na Constituição Brasileira.
Além do direito à terra, os povos indígenas têm direito à alfabetização, a aprender a sua língua nativa, porém somente em 1988 é que isso lhes foi garantido na Constituição, o que nos faz pensar no débito do Brasil para com esses povos.
Mas, além dos que atacam e violentam os direitos dos índios, há aqueles que desconhecem que, assim como as pessoas com maior incidência de melanina na pele, olhos e cabelos (chamados de negros), os indígenas também sofrem por serem considerados inferiores, de raça inferior, a raça dos vermelhos (assim são chamados).
A história é longa e repleta de detalhes nos quais você pode e deve se aprofundar. Nossa missão aqui é lançar a curiosidade sobre um tema tão importante e deixar uma recomendação de como pais e professores podem fazer para combater o preconceito contra o índio.
Revise os seus conceitos sobre o povo indígena. Você os considera inferiores? Se sim, é preciso buscar mais conhecimento sobre o tema. Lembre-se de que a criança por si só não é preconceituosa e discriminadora, isso ocorre com frequência porque ela convive com adultos, ouve e vê, cresce construindo ou não o preconceito seguido da discriminação.
Por vezes, afirmamos não ter preconceito, mas, se víssemos duas crianças juntas, uma branca de olhos claros e a outra indígena, diríamos logo, sem nos darmos conta, que a bela e boa é a branquinha. A criança que está sob nossa responsabilidade cresce observando até mesmo o que sai de nós, não necessariamente verbal, como olhares, gestos e expressões (linguagem não verbal), então imita, toma como verdadeiro. Como diz o ditado, a palavra ensina, mas o exemplo arrasta.
Pense nisso…
Até a próxima.
Para mostrar às crianças curiosidades sobre a cultura indígena, acesse: https://mirim.org/.
Por Andréa Schoch | Mestre em educação, especializada em formação de professores e consultora Appai por meio da EAD.
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